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Polêmica

Grupo fascista cancela congresso na região de Curitiba

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O Congresso de Fundação da Frente Nacionalista, marcado para sábado (12) em uma chácara de Colombo, foi cancelado pelos organizadores na manhã desta sexta-feira (11). A decisão foi comunicada à Secretaria de Estado de Segurança Pública e teria sido motivada por duas notas – uma da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR) e do movimento LGBT.

O microempresário Ricardo Gonçalves, porta-voz da Frente, afirma que o temor de que houvesse confrontos, já que grupos contrários estariam se organizando para ir ao local, motivou o cancelamento. “Fizemos isso para manter a ordem pública e a segurança das pessoas”, diz. Ele declara que integrantes estariam sendo ameaçados nas redes sociais. “Espalharam que a gente ia bater em negros e gays. Eu sou negro”, disse. O porta-voz comentou que um dos objetivos do congresso seria reafirmar o combate ao racismo.

Gonçalves garante que a Frente Nacionalista vai convidar a OAB, o movimento LGBT e a imprensa para uma conversa pública, com o objetivo de esclarecer os ideais do grupo. Ele destaca que o evento era fechado, só para participantes. A entidade tem dois mil filiados e esperava mais de 1,5 mil participantes no congresso. O evento teria sido adiado, mas ainda sem nova data definida. Na página da Frente Nacionalista no Facebook há um aviso sobre o cancelamento.

A nota da Frente Nacionalista informa que adiou o evento para uma data a ser definida “devido às ameaças de violência e vandalismo de grupos radicais e de ódio”. O movimento alega que é pacífico. “Não somos racistas; nossos membros são de maioria parda, depois branca e negra, não perseguimos os gays, não desrespeitamos o estrangeiro. Apenas nos opomos à agenda já implantada que visa a sodomia de crianças e adolescentes, a drogadição da população, a destruição da família, cultura e tradições do povo, a perseguição ao cristianismo, a degradação e degeneração da sociedade”, diz o texto.

Skinheads

Gonçalves assegura que os participantes do congresso vindos de outras partes da só chegariam no dia do evento e que desconhece qualquer informação de que skinheads teriam vindo antecipadamente para Curitiba para participar do evento. Recentemente, membros da Frente selaram aliança com o grupo de skinheads paulistas Carecas do ABC. No site da entidade, a Frente Nacionalista afirma que “o alinhamento ideológico que temos nos dá a certeza de que será uma aliança frutífera e saudável. A enorme semelhança no espírito de combate, na forma de atuar, e na convicção na causa, nos garante que essa aliança é baseada no amor pátrio, na defesa dos valores, e na defesa da família”.

O congresso marcaria a oficialização da “Frente”, que almeja tornar-se um partido político no Brasil. Defendendo os ideais de “democracia, família e nacionalismo”, o grupo prega a redução da maioridade penal para 16 anos para qualquer tipo de delito, a privatização de todo o sistema penitenciário do país e a prisão perpétua para crimes hediondos. Para menores de 12 anos que cometem crimes considerados graves, como homicídios e latrocínios, precisam passar por acompanhamentos e monitoramento de assistentes sociais.

Outra bandeira do grupo é o fim da imigração para o Brasil. Segundo o presidente da Frente Nacionalista, Cristiano Machado, isso não significa que a entidade é totalmente contra a imigração. “Esses dias estava em São Paulo e vi uma fila de desempregados. Vem gente de outros países, como Haiti, e rouba emprego de pais de famílias brasileiros. Não que os haitianos sejam menores que qualquer outra pessoa, mas primeiro temos que arrumar nossa casa para receber outras pessoas”, afirma.

Machado afirma que o grupo não segue os ideais de Adolf Hitler. “Quem usar qualquer referência a ele será expulso do grupo. O que defendemos são as leis trabalhistas, como as que Mussolini implantou na Itália”, diz. O líder fascista italiano, inclusive foi um dos inspiradores para a implantação das leis trabalhistas brasileiras criadas por Getúlio Vargas.

Preconceito

Machado diz que o grupo não prega violência contra ninguém e não defende o preconceito racial ou sexual. “Se for provado que teve violência por motivo de discriminação a pessoa será excluída da Frente. Não interferimos na liberdade de ninguém, mas da mesma forma que é chato dois heterossexuais se beijando no meio da rua, não defendemos que dois gays ajam assim”, diz. Porém, apesar de afirmar que não pregam o preconceito, o perfil do Facebook da Frente realiza críticas e piadas em relação à homossexualidade.

Segundo ele, o grupo, que mantém contato com outros integrantes de entidades skinheads, afirma que só age assim no sentido de instruí-los. “Eles têm ideias de nacionalismo, mas agem errado. Queremos instruir para agir de maneira mais correta”, afirma o presidente da Frente.

Crime em 2009

Em 2009, um casal foi sido executado na região metropolitana de Curitiba após ter a morte supostamente encomendada pela liderança nacional de um movimento neonazista por causa de uma disputa de poder entre grupos rivais. Outro crime envolvendo skinheads ocorreu em setembro de 2010. Um rapaz de 18 anos foi perseguido por integrantes de movimentos skinheads e foi assassinado a facadas.

Fundação

A Frente Nacionalista teve início no dia 22 de abril de 2015 pelas redes sociais. Apesar de defender bandeiras tidas como de direita, o grupo se intitulo de centro. Na apresentação do grupo no site, a Federação afirma explicitamente suas inspirações: “A proeminência dos valores espirituais sobre os valores materialistas aparece claramente no fascismo Italiano, na obra “A Doutrina do Fascismo”, de Benito Mussolini; e na vasta obra integralista de Plínio Salgado, onde critica o mundo moderno produzido dos valores iluministas que tornam a modernidade um fim em si mesmo. Portanto, combater o consumismo/hedonismo, o ateísmo e o pós-humanismo, as ideologias de gênero, a segregação indígena em reservas, o ambientalismo radical e o pacifismo, bem como todos os vícios da modernidade, é a missão principal da Frente Nacionalista”.

Reações

O presidente da comissão de direitos humanos da seccional da OAB No Paraná, José Carlos Cal Garcia Filho, afirma que é lamentável que neste período da História ainda existam discursos inspirados em políticas totalitárias. “Um discurso que ainda consegue encontrar eco na sociedade”, indigna-se. Ele ressalta, contudo, que em um sistema democrático não há problema as pessoas abraçarem as mais distintas ideologias. “A Constituição garante o direito de liberdade de expressar o pensamento. O problema está em expressar a ideologia de forma que viole os direitos fundamentais dos cidadãos”, afirma.

Cal Garcia enfatiza, portanto, que as autoridades públicas devem estar atentas para a manifestação de discursos de ódio contra as minorias sociais, sexuais, raciais e que os pensamentos diferentes sejam respeitados. “Vivemos em uma sociedade plural em que todos devem ser respeitados”, diz.

O secretário da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) e diretor-executivo do Grupo Dignidade, Toni Reis, também afirma que é “muito grave e preocupante” que discursos com raiz fascista proliferem na sociedade. Ele pede para a população denunciar qualquer ato de violência desta natureza através do Disque 100 (Disque Direitos Humanos) e que seja chamada a Polícia Militar através do número 190. A Guarda Municipal de Curitiba e a Polícia Militar estão monitorando, através do setor de inteligência as atividades da Frente Nacionalista para evitar a prática de qualquer crime.

Apesar de a logo do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) estar no cartaz que anuncia a “Dezembrada” – nome do evento realizado pela Frente Nacionalista –, o presidente estadual da sigla, Geonísio Marinho, afirma que o partido não está apoiando a Frente. “Não tem apoio formal, não. Assim como eles, defendemos a família uma frente nacional, mas não estamos realizando o congresso”, afirma Marinho, que foi candidato ao governo do Paraná em 2014.

Centros acadêmicos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) emitiram, na quinta-feira (10), um alerta por causa de congresso da Frente Nacionalista. Na internet, circulam relatos de que uma estudante de direito e dois haitianos teriam sido perseguidos e que moradores de rua teriam sofrido agressões. O temor dos universitários é de que ataques ocorram ao longo do fim de semana. O Diretório Central de Estudantes informou que membro da Frente Nacionalista foram vistos “em grande número” nos arredores da reitoria da UFPR, no Alto da Rua XV, em Curitiba. “Todo cuidado é pouco! Andem em grupos e evitem ficar até tarde na rua”, destaca o alerta.

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