A quadrilha presa anteontem em Gravataí (RS), numa operação desastrada das polícias do Paraná e do Rio Grande do Sul que terminou em duas mortes, já havia sequestrado outras vítimas em Arapongas, Terra Roxa e Ivaiporã. O Grupo Tigre, unidade de elite da polícia paranaense, foi ao estado gaúcho para investigar a quadrilha e acabou matando um militar gaúcho. Na sequência, dois delegados gaúchos trocaram tiros com os sequestradores e mataram um dos reféns. A operação desastrada provocou troca de farpas entre os governos do Paraná e do Rio Grande do Sul (leia mais nesta página).
O Grupo Tigre (Tático Integrado Grupo de Repressão Especial), unidade de elite antissequestro da Polícia Civil do Paraná, não foi ao Rio Grande do Sul para estourar o cativeiro onde estavam o empresário Osmar José Finkler e o agricultor Lírio Persh, de Quatro Pontes (PR). Três investigadores do Tigre estavam em Gravataí, na Grande Porto Alegre, para investigar a quadrilha pelos outros crimes. Até chegar à cidade, na madrugada de quarta-feira, não sabiam do sequestro em andamento, e por isso não avisaram as autoridades locais. O desdobramento disso foi a morte de duas pessoas.
As vítimas estavam sob cárcere privado desde terça-feira, quando Osmar caiu no golpe do chute, ao tentar comprar uma colheitadeira por um preço muito abaixo do mercado. Quando foi com Lírio buscar o equipamento, ambos foram sequestrados. A equipe do setor de inteligência do Tigre descobriu durante a tarde de terça-feira que havia um sequestro em andamento, mas ainda não sabia quem ou quantos eram as vítimas. Com essa nova informação, uma segunda equipe, formada por um delegado e dois investigadores, se programou para ir à cidade gaúcha para planejar o estouro do cativeiro com mais segurança.
Uma fonte ligada ao Tigre contou à reportagem que a equipe de policiais paranaenses só conversou por telefone com a família de Osmar na quarta-feira pela manhã. A ligação, feita por um delegado do Tigre de Curitiba, ocorreu após a equipe descobrir que havia possibilidade dos sequestradores saberem da presença da polícia paranaense em Gravataí.
Morte do sargento
Ao chegarem a Gravataí, na madrugada de quarta-feira, os três investigadores entraram pelo bairro Morada do Vale. Os policiais teriam parado em um posto de gasolina da cidade, onde o sargento Ariel, do 17.º Batalhão da Brigada Militar, teria suspeitado da presença do veículo descaracterizado do Tigre, com placa de Curitiba. Quando se dirigiam para um hotel, os investigadores perceberam que estavam sendo seguidos. O sargento, então, teria feito a abordagem sozinho, sacando a arma rapidamente.
Um dos investigadores teria revidado do banco de trás do carro. "Só se atira de dentro do carro em uma situação de emergência", explica a fonte, contando sobre o revide. O próprio investigador que efetuou os tiros contra o sargento assumiu a responsabilidade pelos disparos. A defesa dos investigadores tentaria derrubar o mandado de prisão temporária com um recurso na Justiça gaúcha.
Sequestradores
A polícia gaúcha também não sabia onde era o cativeiro, segundo a fonte ligada ao Tigre. A casa onde houve o tiroteio entre sequestradores e delegados de Gravataí também estava sendo investigada como uma possibilidade de cativeiro pelos policiais do Tigre. Os policiais gaúchos então foram nas proximidades da residência, atrás da Câmara Municipal. Ao chegar, os criminosos estavam saindo num Corsa branco. Um dos delegados gaúchos se identifica e os sequestradores saem atirando. No revide, Lírio é atingido e morre.
Segundo a fonte ligada ao Tigre, há ainda mais dois sequestradores soltos que pertenciam à quadrilha. Um é gaúcho e outro paranaense. Eles atuavam enviando e-mails com ofertas de maquinário agrícola para o Brasil inteiro às vítimas aleatoriamente. O cárcere privado era sempre feito em Gravataí.
Como os policiais do Tigre chegaram à cidade de Gravataí e a chefia da unidade não conhecia as autoridades locais, ninguém avisou o delegado da cidade sobre a investigação. O aviso seria feito ao Departamento Estadual de Investigações Criminais pela manhã. O delegado-chefe do Tigre, Renato Bastos Figueiroa, foi procurado pela reportagem, mas informou não ter autorização para falar sobre o caso.