Duas pessoas ficaram feridas numa tentativa de invasão de um grupo de índios à Câmara dos Deputados hoje (2). A confusão teve início depois que alguns índios, que protestavam no gramado em frente ao Congresso, tentaram entrar na sede do Legislativo, mas foram barrados por policiais da Câmara e Senado.
Para tentar burlar os policiais, que pediram reforço à Polícia Militar, os indígenas deixaram o gramado e tentaram entrar na Câmara por uma entrada lateral, no Anexo I da Casa. A polícia reforçou o efetivo e impediu a entrada, mas um dos índios quebrou o vidro da porta da Casa. Os estilhaços feriram o índio Renato da Silva Filho e o vigilante da Câmara Sanderson Ignácio Rodrigues Fragoso.
Os dois foram atendidos no Departamento Médico da Câmara. O vigilante teve um pequeno corte na testa e, pouco depois, foi liberado --mas registrou ocorrência na Polícia Legislativa da Câmara. O índio estava com vários cortes no braço e foi encaminhado ao Hospital Universitário de Brasília.
Os índios protestam desde ontem na capital federal contra propostas que tramitam no Legislativo que, na opinião do grupo, prejudicam as aldeias e a situação dos índios do Brasil. Uma das reivindicações é que o Congresso não aprove a PEC (proposta de emenda constitucional) que transfere do Executivo para o Legislativo a demarcação de terras indígenas.
O grupo promete permanecer em Brasília até sábado, quando a Constituição de 1988 completará 25 anos, para defender os direitos dos povos indígenas.
Reunião
Na tentativa de acalmar a situação, o presidente interino da Câmara, deputado André Vargas (PT-PR), recebeu uma comissão de cerca de 30 índios em uma sala das comissões da Casa.
Em nome dos indígenas, o cacique Raoni do Xingu, que vive na aldeia em Mato Grosso, cobrou mais "respeito" dos deputados. Vargas estava acompanhado de uma comissão de dez congressistas que se reuniram com os indígenas.
Falando em tupi-guarani, o cacique teve a falta traduzida por outro indígena. Com o dedo em riste na direção de Vargas, Raoni defendeu que a Funai (Fundação Nacional do Índio) permaneça com a prerrogativa de demarcar terras indígenas, mantendo essa atribuição no Executivo.
"Peço para ter respeito com a Funai, que sempre nos ajudou. Vocês querem acabar com a Funai. A gente quer que a Funai continue fazendo as demarcações. Estamos sendo barrados nesta Casa, estão proibindo a nossa entrada. O que está restando às terras indígenas? Vocês não estão nos respeitando", disse o cacique.
Vargas permitiu que outros líderes dos índios também fizessem suas reivindicações à Câmara e foi anotando em um papel os pedidos das etnias presentes. Um dos índios disse que, até a Copa de 2014, os indígenas vão "parar o país" para chamar a atenção das autoridades sobre a sua situação de vida.
"Temos uma população crescente nas terras indígenas, que são limitadas. O cálculo da bancada ruralista de que tem muita terra para pouco índio não existe", protestou o índio Ubirajara Sompré, do Pará.Enquanto a comissão dos índios era recebida por Vargas, o restante do grupo, que reúne mais de 200 pessoas, continuou no gramado em frente ao Congresso.
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