As passeatas em diferentes grupos, uma das marcas das manifestações de Curitiba e de outros lugares do Brasil, podem ser consideradas o símbolo da união pelo "contra tudo que está aí", mas também o retrato das diferentes ideias que têm levado as pessoas às ruas. Para especialistas, esse comportamento revela a necessidade de uma organização mais clara das reivindicações e de suas lideranças.
Na sexta-feira passada, ocorreu um exemplo das divisões recorrentes nas passeatas. Os manifestantes se reuniram na Praça Rui Barbosa, principal terminal de ônibus no Centro de Curitiba, mas seguiram caminhos diferentes. Uma parte deles foi ao estádio Arena da Baixada e outra para o Palácio Iguaçu.
"Os blocos se uniram pela insatisfação, que é um estágio reivindicatório inicial", explicou o professor aposentado da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador em Psicologia Social Jamil Zugueib. Segundo ele, um discurso idealizado de mudança definido pode traçar o começo de um caminho nas manifestações.
Na avaliação do sociólogo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Cézar Bueno, há um grande conflito em razão da pluralidade de interesses dentro das manifestações. Esse seria um dos motivos que separam grupos dentro da massa nos protestos. "O imaginário coletivo propõe aquilo de sermos governos de si mesmo, mas viver em sociedade é abrir mão de um particular para chegar ao geral", ressalta o especialista.
Causas prioritárias
Bueno propõe que sejam definidas causas prioritárias para que as massas não sejam dissipadas e não permaneçam apenas na insatisfação. "As divisões de grupos são consequência da falta de unidade das pautas e é preciso encontrar o que é de consenso, apesar dessas diferenças", disse.
O sociólogo acredita que o movimento começou essa busca de prioridades, como a organização de assembleias de discussão, mas não pode deixar de lado a negociação com os governos. De acordo com Bueno, é preciso dialogar com o poder para atingir os objetivos que serão definidos. "Houve um surto do exercício de direitos e os manifestantes têm demonstrado que democracia não é só votar, mas fiscalizar no amplo sentido da palavra", destacou.