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Urbanismo

Guadalupe, o eterno “abacaxi” de Curitiba

Recursos destinados para o terminal somam R$ 20 milhões, mas não se sabe que tipo de reforma será feita no espaço | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Recursos destinados para o terminal somam R$ 20 milhões, mas não se sabe que tipo de reforma será feita no espaço (Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo)
Em meio às bugigangas: o sustento de José vem do Guadalupe |

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Em meio às bugigangas: o sustento de José vem do Guadalupe

"O Terminal Guadalupe é o maior abacaxi na mão de qualquer prefeito". A frase do comerciante Aurélio Hang, proprietário da lanchonete 24 horas da principal ligação entre Curitiba e a Região Metropolitana, faz referência à indecisão dos gestores sobre o destino do terminal. A reforma anunciada pelo prefeito Gustavo Fruet (PDT) em um programa da Rádio Evangelizar é, na lembrança de Hang, apenas mais uma das prometidas. "Já quiseram transferir os ônibus para a [Avenida] Mariano Torres. Não deu certo. Já quiseram transferir para a Rodoferroviária. Também não deu. Sempre tem um plano, mas nunca vi acontecer nada", comenta.

A verdade é que não se sabe ainda que tipo de reforma será empreendida. O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) declarou que ainda está realizando estudos, em parceria com a Urbs, para ver que soluções serão viáveis. Sabe-se, por enquanto, que os recursos destinados para a reforma são da ordem de R$ 20 milhões e que fazem parte do Plano de Mobilidade de Alta e Média Capacidade de Curitiba, aprovado recentemente pelo governo federal.

Segundo José Matias, administrador do Terminal, a única reforma já confirmada é a dos banheiros. "Os principais problemas são o espaço e a segurança", opina, fazendo referência ao ambiente que, de 1972, quando deixou de ser a rodoviária de Curitiba, para cá, passou a não comportar mais o fluxo de trabalhadores que desembarcam todos os dias na cidade.

Segurança

Há constantes denúncias de assaltos, prostituição e tráfico de drogas no entorno do terminal, até mesmo dentro dele, o que amedronta a maioria dos comerciantes, que se recusaram a falar por medo de represálias. O posto da Polícia Militar foi desativado em 2010, e desde então a vigilância fica por conta de câmeras de segurança e vigilantes particulares.

A atendente de Telemar­­keting Bruna Filipini, de 19 anos, é uma das 70 mil pessoas que passam pelo terminal todos os dias. Moradora de São José dos Pinhais e passageira da linha Curitiba/Quississana, ela concorda que o aumento na segurança é fundamental para o Guadalupe. "De noite, ou até de tarde, durante os fins de semana, só venho pegar ônibus acompanhada", diz, embora nunca tenha presenciado nada de mais grave até o momento. "O que eu mais vejo são pedintes, polícia dando geral e pessoas vendendo coisas roubadas". Bruna também compartilha da opinião dos administradores e de cobradores das estações tubo em frente ao terminal, na Rua João Negrão, de que o espaço e a estrutura precisam ser melhorados. "Por serem ônibus de toda região metropolitana, a gente tinha que ter mais ônibus aqui. Tem muita gente que fica aqui tomando sol, chuva, enquanto espera", afirma.

José: no chão do terminal há 15 anos

Prostitutas, pedintes e traficantes que perambulam na região do Terminal Guadalupe não são os únicos elementos que ilustram o símbolo principal da decadência do Centro de Curitiba. Vendedores estabelecidos há décadas no lugar, pesquisadores que todos os dias aproveitam o intenso fluxo de pessoas das classes B, C e D para fazer perguntas direcionadas a esse público, o pitoresco comércio de compra e venda de cabelos e os milhares de fiéis que se aglomeram para ver as missas do Padre Reginaldo Manzotti compõem um dos retratos mais heterogêneos do Paraná.

O comerciante José Machado, de 57 anos, é um desses personagens. Todos os dias, há 15 anos, ele está no Guadalupe, encostado em alguma pilastra, sentado no chão e rodeado por brinquedos, cadeados, isqueiros e outros artefatos que vende em suas sacolas e carrinhos. "Antigamente trabalhava na Rui Barbosa, na Tiradentes, em um monte de lugar, mas agora não consigo andar muito", diz, contando que foi vítima de poliomielite aos 35 anos, passando os 15 anos seguintes da sua vida paralisado. "Me tratei, até que minhas mãos começaram a melhorar. Aí eu comecei a me arrastar", diz. Desde então, conta com a boa vontade dos comerciantes locais. "Venho de ônibus, porque minhas pernas são bambas, e peço pro pessoal guardar minhas coisas aqui dentro à noite".

Machado passa o dia observando o movimento do terminal, e diz que desde que se conhece por gente o Guadalupe não mudou. "É sempre o mesmo tipo de pessoa que passa por aqui. Gente de todo tipo", diz, numa frase que só parece contraditória para quem nunca passou por lá. "A única coisa que mudou é que agora tem mais gente e mais ônibus". Ele também não está imune à falta de segurança. "Dia desses roubaram minha bolsa, com a minha carteira e a minha Bíblia. A sorte é que eles jogaram tudo o que eles não quiseram no lixo e dentro da minha carteira tinha o telefone da minha casa. Acharam e me ligaram", lembra. Mesmo assim, não se arrepende de ser um dos frequentadores assíduos do Guadalupe. "Tem muito malandro aqui, tem que tomar cuidado, mas é um bom lugar pra trabalhar".

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