As últimas operações da Polícia Federal (Furacão, Navalha e Xeque-Mate), com a prisão de mais de 200 pessoas flagradas em conversas telefônicas comprometedoras, entre políticos, empresários, advogados, policiais e até juízes, instalaram o pânico nos altos círculos do poder do país. Por trás da síndrome está um "personagem" que não fala e não vê, mas ouve como ninguém: o Guardião, sofisticado programa de computador capaz de interceptar 400 ligações telefônicas simultâneas, cruzar dados e produzir informação segura para ajudar a desmantelar redes criminosas.
Por causa do Guardião, o uso do telefone virou paranóia. Setores mais incomodados com a invasão legalmente autorizada, além de adotarem mudanças nos meios de comunicação pessoal, começaram a reagir. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) abriu uma rodada de negociações com a PF e o Ministério Público para, dizem, evitar que o Brasil se torne um Estado policial. No Congresso, o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) apresentou projeto determinando que aparelhos de escuta policial sejam submetidos a auditorias periódicas. "Não podemos permitir que o Brasil vire a república do grampo", justificou.
Instalado no quinto andar do edifício-sede da PF, em Brasília, o Guardião está em funcionamento desde 2002. Ao contrário do que alguns suspeitam, o aparelho não tem o poder de grampear aleatoriamente linhas telefônicas. Ele só é acionado mediante um sinal enviado pela companhia telefônica, com o "desvio" das chamadas para o número interceptado. A interceptação, por sua vez, só pode ser feita com autorização judicial, geradora da ordem para a companhia operar o desvio fornecendo assim ao Guardião os áudios dos diálogos grampeados.
O Guardião elevou a performance investigativa da PF e tornou-se o xodó da Diretoria de Inteligência Policial (DIP), que o opera com um batalhão de peritos e agentes. No primeiro mandato do presidente Lula, foram realizadas quase 400 operações, com mais de 5,5 mil prisões, todas elas com a contribuição preciosa do Guardião, contra menos de 200 operações nos dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso, quando ainda não havia o equipamento.
Inteiramente desenvolvido no país, o equipamento integra a renovação da matriz tecnológica da PF, mas já está superado. Segundo um delegado da área de inteligência, o Guardião será em breve "peça de museu". O Brasil vai atrás de atualização tecnológica.
Dinheiro não vai faltar. O diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, recebeu do governo federal um orçamento de R$ 253 milhões para investimentos em 2007, montante mais de 60% maior que os R$ 153 milhões de 2006. Boa parte desse dinheiro vai para modernização tecnológica.
Paraná
A Secretaria da Segurança Pública do Paraná também possui um aparelho de escuta telefônica chamado de Sistema Guardião. O uso do equipamento já foi investigado em 2006. Foram feitas denúncias de uso do sistema para monitorar adversários políticos do governo estadual. Informação rebatida na época pela secretaria, que alegou que as operações realizadas são todas fundamentadas na lei e autorizadas pela Justiça.