Armas achadas na casa de Éder Conde, na CIC: prisão dele desencadeou conflito| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Vidas perdidas

Prisão de suspeito de comandar o tráfico na CIC abriu disputa na região. Nos últimos 40 dias, quatro homicídios no bairro tiveram características de execução:

19 de maio – Éder Conde é capturado acusado de chefiar o tráfico de drogas na capital. A quadrilha dele movimentava 100 quilos de cocaína por trimestre e lucro anual de R$ 6 milhões. Segundo a polícia, ele está envolvido no assassinato de Evinha do Pó, ocorrido em 2002, que dominava a venda na época.

7 de junho – Alessandro Machado, 33 anos, é morto com tiros de metralhadora em uma praça na Vila Nossa Senhora da Luz.

13 de junho – Henrique Cezar de Melo, 19 anos, é assassinado com mais de 15 tiros na Rua Lídia Schwarzback Slomski, na CIC.

21 de junho – Gilson Patrick da Costa Farias, 18 anos, é morto com disparos de metralhadora. Dois homens encapuzados invadiram a casa dele na Rua Nagib Nakle Mitri, na Vila Nossa Senhora da Luz, e o mataram na cama.

4 de julho – Fabiano José Alves, 22 anos, é assassinado com pelo menos 20 tiros de uma metralhadora calibre 9mm. Ele tinha um mandado de prisão por homícidio.

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A guerra pelo controle do tráfico de drogas na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) fez mais uma vítima no fim de semana, segundo a Polícia Civil. Fabiano José Alves, 22 anos, foi assassinado com pelo menos 20 tiros de arma calibre 9 milímetros (mm) na madrugada de ontem. Alves tinha um mandado de prisão por homicídio.

O conflito na região se agravou há 40 dias, desde que Éder Conde, acusado de comandar o tráfico na Vila Nossa Senhora da Luz, foi preso. Investigações da polícia apontam que duas gangues da região metropolitana de Curitiba disputam a venda de entorpecentes na área. Conflito que já teria deixado pelo menos cinco mortos. Em um dos casos, assim como Alves, a vítima morreu com vários tiros de metralhadora.

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Segundo a polícia, câmeras de segurança de um condomínio gravaram o momento em que o jovem foi executado. Segundo a polícia apurou, seis homens encapuzados invadiram a casa onde ele estava no conjunto Osvaldo Cruz e renderam oito adultos e duas crianças. Alves tentou fugir e foi atingido. Já na rua, ele correu ferido por uma quadra até ser alcançado e morto. No local, a polícia encontrou mais de 30 projéteis. "Não podemos afirmar que existe correlação com o tráfico, mas há indícios", diz a delegada Camila Chies Cecconello, da Delegacia de Homicídios.

A delegada Vanessa Alice, titular da delegacia, explica que a situação é semelhante à prisão de Marcelo Stocco, suspeito de comandar o tráfico no bairro Pilarzinho. Quando foi preso, em novembro do ano passado, traficantes da Vila Torres tentaram dominar o local. "Estamos com um dossiê sobre a situação na CIC e já há alguns mandados de prisão expedidos. Para ampliar as investigações precisamos da ajuda da população, mas todos têm medo", diz. Traficantes chegaram a cortar a língua de uma vítima.

Herança

O controle da Vila Nossa Senhora da Luz se conquista com mão forte. Quando Conde foi preso, a Polícia Federal (PF) encontrou armamento pesado e farta munição no quartel-general dele. Havia armas com silenciador, mira telescópica, coletes à prova de bala e balaclavas (tocas ninjas). Para a PF não é surpresa o conflito entre facções. "Quando o tráfico está organizado, há a impressão de menos violência porque todos sabem quem manda, quem deve pagar e quem deve receber. Com a prisão de um líder, isso se altera. É a lei do mais forte", diz o delegado da PF Wágner Mesquita, que participou da prisão de Conde.

Mesquita afirma que, nesse momento, a polícia precisa investir em ações para não deixar os grupos se organizarem. "O objetivo do tráfico é o lucro. Eles não podem se organizar como uma empresa. O crime eventual sempre vai existir e este é mais fácil de combater."

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O coronel Jorge Costa Filho, do Comando do Policiamento da Capital (CPC), afirma que a Polícia Militar faz operações especiais na CIC para coibir o tráfico de drogas. Mas ressalta que a população precisa ajudar por meio de denúncias anônimas. "Quem não quiser se identificar pode ligar para o telefone 181 e fazer uma denúncia anônima", diz.