Em meio aos debates sobre mudanças no Plano Diretor de Curitiba, o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com escritórios, abriu inscrições para uma atividade que promete instigar alunos da área a pensar no desenho da capital paranaense. Essa iniciativa, contudo, não é inédita e pode não render frutos concretos no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).
Em 2007, um projeto semelhante de alunos de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo (UP), organizado pela Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura no Paraná (Asbea-PR), resultou, em dois dias de muitas discussões e trabalho, em dez ideias de mobilidade urbana. Era a primeira tentativa de construir um legado para Curitiba a partir da expectativa que se tinha ao redor das obras para Copa do Mundo de 2014, então recém confirmada na capital.
Todo o trabalho, com as dez ideias (veja os detalhes no gráfico desta página), foi apresentado ao prefeito da época, Beto Richa (PSDB). De pronto, a administração municipal se interessou por duas das propostas: a implantação de um novo modal de transportes sobre a linha férrea existente na cidade e a reintegração do Rio Belém à paisagem urbana de Curitiba, que teriam sido incluídas no Plano de Mobilidade 2013/2016 da capital. Haveria outras sete sugestões "em análise" no Ippuc e uma totalmente descartada. Até hoje, porém, nenhuma das propostas foi implementada.
O conselheiro e ex-presidente da Asbea-PR, Orlando Ribeiro, defende todas as sugestões e ressalta que elas são atuais. "Falta visão estratégica urbanística e vontade política. São todas propostas atemporais e só perderão o sentido se suplantadas por outras mais pertinentes ou inovadoras", reclama. O coordenador do projeto da UFPR, Humberto Mezzadri, informou que 50 alunos e dez escritórios devem participar da atividade. Ele explicou que o trabalho não tem como objetivo que a prefeitura aceite as ideias, embora a administração municipal esteja livre para avaliar caso a caso. "São ideias. O projeto não tem essa característica", diz.
Análise
O coordenador do programa de pós-graduação em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Carlos Hardt, acredita que as oportunidades de debate de soluções para a cidade com a sociedade civil organizada são importantes e que só aumentam as possibilidades de evolução do espaço urbano. "Se as ideias não forem aceitas, pelo menos haverá a justificativa de que os temas foram discutidos", diz. Para o especialista, as questões técnicas nem sempre são debatidas de forma profunda nas audiências públicas. Por isso, propostas feitas por técnicos devem ser levadas em consideração.
Apesar disso, Hardt também afirma compreender a situação dos profissionais do Ippuc. Ele destaca que as decisões de aceitar ou não as propostas sempre dependem de quem está à frente do instituto. "Com os profissionais nunca tive problema nenhum, mas quando é questão institucional, a coisa muda de figura", comenta. Hardt também ressalta que nem sempre propostas feitas por entidades levam em conta questões para toda a população. "Por vezes, alguns posicionamentos de entidades são muito setorizados", afirma.
Colaborou Bruna Komarcheski