O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse nesta quarta-feira (19) que irá acompanhar de perto o inquérito que será aberto para apurar a morte de Florisvaldo Carvalho da Rocha, 78, na ciclovia sob o Elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão, no centro de São Paulo, na última segunda-feira (17).
“Vamos acompanhar o inquérito para saber o que ocorreu. São cerca de 3 a 4 mortes por dia na cidade de São Paulo”, disse o prefeito, que lembrou que já houve acidentes envolvendo pedestre e ciclistas no parque Ibirapuera, na zona sul paulistana. Segundo Haddad, nesse caso, a pedestre não morreu, mas teve de ser hospitalizada.
O acidente com Rocha aconteceu na avenida General Olímpio da Silveira quando foi comprar pão em supermercado e foi atropelado pelo ciclista Gilmar Raimundo Alencar, 45, administrador de fazendas.
Rocha estava na ilha de pedestres, prestes a entrar na faixa de pedestre, sobre a ciclovia quando foi atropelado próximo à sua casa. A Santa Casa de São Paulo disse, em nota, que Rocha deu entrada no hospital com politraumatismo, trauma cranioencefálico grave, e morreu no mesmo dia.
Casado e pai de dois filhos, Rocha havia completado 78 anos no dia 10 de agosto. Aposentado, trabalhou boa parte de sua vida como zelador e morava na região havia mais de dez anos. “Em 10 de agosto eu estava com o meu pai, comemorando o aniversário dele. Agora, uma semana depois, eu estou enterrando ele. E por uma coisa estúpida”, disse o filho mais velho de Rocha, Eduardo Carvalho Rocha, 39.
Segundo o filho, o pai conhecia bem o local e também era bem conhecido. “É um lugar com pilastras, falta sinalização, apesar de ser um bairro de pessoas idosas. A gente sabe que a população brasileira está envelhecendo e você não tem nada para orientar essas pessoas. Só colocaram a faixa de pedestres e pronto, não fala nada, não orienta ninguém.”
O corpo de Rocha foi velado na manhã desta quarta (19) no cemitério do Araçá, região central da capital paulista, e enterrado no cemitério da Vila Alpina. “A família está destruída, principalmente da forma como aconteceu. Foi algo banal que poderia ter sido evitado se houvesse mais planejamento”, disse Antônio Linhares, 39, advogado e amigo da família.
Ciclista
A polícia informou que o ciclista Gilmar Raimundo Alencar vai prestar depoimento no 23° DP no começo da tarde desta quarta. Lupércio Dimov, delegado responsável pelo caso, disse que Alencar vai responder ao processo em liberdade “até porque nem tem razão para ele ser preso”, e que ele pode responder por homicídio culposo (quando não há a intenção de matar).
“Apurar culpabilidade aí fica meio temerário. Quem colocou o ciclista para andar ali, quem montou a pista e pôs ele para andar ali, tinha a presunção de que ele estava seguro, presume-se que ele tinha segurança”, disse o delegado.
Polêmica
Essa área embaixo do elevado Costa e Silva teve que ser alargada em alguns pontos para acomodar os dois sentidos da ciclovia e os pontos de ônibus do corredor exclusivo que já existia no local.
Inaugurada no último dia 9, a ciclovia debaixo do Minhocão tem 4,1 km de extensão e liga a praça Roosevelt ao terminal de ônibus e metrô da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. A ciclovia passa pelas rua Amaral Gurgel e pelas avenidas São João, General Olímpio da Silveira e Auro de Moura Andrade e fica boa parte do percurso no canteiro central.
Outros casos
Um garoto de 9 anos morreu após ser atropelado por uma van na avenida Bento Guelfi, na zona leste de São Paulo, no último domingo (15).
Instalada pela prefeitura no bairro Iguatemi (zona leste), a ciclovia passa pelo meio da avenida Bento Guelfi em quase todo o trajeto. A faixa, com aproximadamente três quilômetros, começa no meio da pista. Após dois quilômetros, é desviada para o lado direito por cerca de 500 metros e depois retorna para o meio da avenida.
Moradores de São Mateus (zona leste) queimaram um carro e fecharam parte da avenida Bento Guelfi em protesto contra a morte do garoto.