Pelo menos 250 cirurgias deixaram de ser feitas no Hospital de Clínicas desde o último dia 19, quando, por falta de materiais, o HC suspendeu todos os procedimentos eletivos (não urgentes). Ontem pela manhã foram feitas apenas três operações. Durante o fim de semana, quatro pacientes foram operados e na sexta-feira foram feitos outros sete procedimentos. Em dias normais, o hospital realiza 35 cirurgias diariamente.
Além da falta de analgésicos, que devem durar somente até quinta-feira, o hospital tem agora apenas um pequeno estoque de medicamentos utilizados no pós-operatório, o que coloca as cirurgias emergenciais também em risco. "Não podemos pensar apenas no ato cirúrgico, só podemos operar os pacientes se tivermos condições de atendê-los depois", diz o diretor do HC, Giovani Loddo. Segundo ele, para a compra desses medicamentos, o hospital precisa de R$ 10 mil. "Corremos o risco de suspender também as urgências e fazer somente os casos de emergência na próxima semana", alerta.
Com a crise, alguns pacientes que tinham cirurgias agendadas chegaram a ir até o hospital, mas tiveram de voltar para casa. Foi o que ocorreu com Guilherme Faria, de 15 anos, que sofre de epilepsia e tinha uma cirurgia marcada para 18 de outubro. Segundo a mãe do garoto, Elizete Faria, a notícia do cancelamento só foi dada no hospital. "Chegamos para o internamento e a médica falou que não poderíamos ficar porque não havia material cirúrgico", conta. O procedimento que deixaria o garoto livre das crises epiléticas, que, segundo a mãe, têm sido quase diárias, estava agendado há mais de um mês. "Ficamos frustrados porque já estávamos preparados", lamenta.
Outras centenas de pacientes que seriam os próximos a serem chamados sequer foram contactados. Isso porque não há previsão de normalização dos atendimentos. Segundo o diretor, todas as cirurgias serão remarcadas.
O motivo da crise
Ao contrário das outras vezes, em que a crise no hospital tinha origem financeira, dessa vez o problema é orçamentário. O hospital possui R$ 1,1 milhão em caixa provenientes do governo do estado e de recursos próprios. No entanto, não pode usar este dinheiro enquanto não houver a ordem de liberação de orçamento. "A liberação depende de autorização do Ministério do Planejamento, que precisa enquadrar esse dinheiro no orçamento", explica.
A direção do hospital vem tentando a autorização há três semanas, mas a invasão dos estudantes na Reitoria da UFPR também está dificultando o processo, uma vez que o pedido precisa ser feito pela procuradoria. "Conversei com o reitor na sexta-feira e pedi uma interferência direta junto ao Ministério da Educação. A expectativa é que em 48 horas tenhamos alguma resposta, mas isso ainda não significará a normalização das atividades, porque uma vez com o dinheiro liberado ainda temos que empenhar os materiais e até que eles sejam entregues leva pelo menos mais uns quatro ou cindo dias", afirma.