Espera
Enquanto os concursos não acontecem, o centro cirúrgico pronto há três anos e a ala para transplante de medula pronta há dois meses aguardam funcionários. É um tempo que as crianças que precisam de transplante não podem esperar.
"A chance que eles tem de viver é maior do que 90% se eles forem transplantados a tempo. E se eles não forem transplantados, dificilmente eles podem sobreviver acima dos cinco, seis anos de idade", afirma a médica Carmem Bonfim.
Em nota, o Ministério da Educação disse que repassa recursos materiais e humanos para os hospitais universitários de acordo com a disponibilidade orçamentária.
A reportagem pediu uma entrevista ao ministério, mas a assessoria de imprensa do órgão disse que o secretário responsável pela área está em férias e que ninguém poderia falar sobre o assunto.
Várias alas do Hospital de Clínicas de Curitiba, equipado com modernas UTIs e centros cirúrgicos, estão sem funcionar. Faltam funcionários para que o hospital, uma referência no setor de transplantes, possa atender à população.
Como mostra uma reportagem de Tiago Eltz, da TV Paranaense, Paulo tem apenas um ano de idade e uma doença rara e grave, que só pode ser curada com o transplante de medula. A família já conseguiu o doador, falta agora a vaga no Hospital de Clínicas de Curitiba.
"Dá desespero. Já venci tanta coisa, já passamos pela dificuldade de achar um doador. Tenho tudo pronto e não posso internar meu filho porque não tem pessoas, porque eles não abrem vagas. É uma sensação de morrer na praia", diz a mãe do menino, Adriana Vinha.
As paredes do hospital foram até pintadas com desenhos para distrair as crianças que passariam por transplante de medula óssea, mas toda a ala está parada porque não há funcionários pra trabalhar lá. Se a ala estivesse funcionando, o número de transplantes feitos no Hospital de Clínicas do Paraná poderia dobrar.
Também estão parados oito centros cirúrgicos novos e equipados e 25 vagas de UTI, além das alas de tratamento de doenças dos rins e de cirurgia plástica reparadora.
Referência
O hospital, que pertence à Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi o primeiro na América Latina a fazer transplante de medula e é referência em transplantes de fígado e ossos. Segundo a direção, são necessários pelo menos mais 600 para que o hospital possa trabalhar com toda a capacidade que tem.
"Seria o equivalente a um hospital novo, são 150 leitos que nós colocaríamos à disposição da comunidade em poucos dias", diz o diretor do hospital, Giovani Loddo.Para preencher essas vagas, é preciso que o Ministério da Educação autorize um concurso público. O MEC informou que entre 2003 e 2006 liberou a contratação de 519 funcionários para o hospital. O último concurso foi em março de 2006, para contratar 47 funcionários.
"Os funcionários foram contratados para aquelas vagas específicas, só que durante esse período houve mais funcionários que se aposentaram ou se afastaram por problemas de saúde do que o número de contratados", afirma o reitor da Universidade Federal do Paraná, Carlos Moreira Júnior. "As vagas que vieram sequer repõem as aposentadorias, exonerações e afastamentos por problemas de saúde".
De acordo com o reitor, em 2002 o HC tinha 3.402 funcionários. Hoje, são 3.266 136 pessoas a menos, para uma demanda que só cresceu.
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