O número de pessoas com insuficiência renal crônica, que precisam fazer hemodiálise para substituir o trabalho dos rins, aumenta 10% ao ano, mas a oferta de vagas para a realização do serviço não acompanha esse crescimento. O governo estadual nega, mas médicos consultados pela Gazeta do Povo asseguram que muitos pacientes estão recorrendo a tratamentos alternativos insipientes e sofrendo com a debilitação da saúde enquanto aguardam a chance de começar a hemodiálise. De acordo com especialistas, controles por medicamento e dieta têm efeito enquanto o paciente ainda tem pelo menos 20% da capacidade renal. Depois disso, ou o doente faz a filtragem mecânica do sangue ou morre.
Preocupados com a situação dos pacientes e com o risco de serem acusados de negligência, responsáveis por centros de nefrologia estão procurando autoridades, como o Ministério Público e ouvidorias, para comunicar a situação. Algumas determinações do Sistema Único de Saúde (SUS) estão sendo desrespeitadas para atender a demanda. Centros de nefrologia estão funcionando além dos três turnos autorizados, estão deixando de fazer a desinfecção das máquinas porque o processo consome até três das preciosas horas do dia, atendem além da capacidade permitida e não estão reservando um leito para emergências.
Na região metropolitana de Curitiba, somente a capital, Campina Grande do Sul e São José dos Pinhais possuem estrutura para a realização dos serviços. Por concentrar a maioria dos atendimentos médicos, os centros curitibanos absorvem a demanda de muitas outras cidades. "As unidades que fazem hemodiálise estão superlotadas", confirma o médico Miguel Carlos Riella, diretor do serviço de nefrologia do Hospital Evangélico.
A saída, aponta o especialista, seria abrir vagas em municípios próximos, até para poupar os pacientes do desgaste de viagens três vezes por semana para a capital. "As pessoas começam a ser recolhidas por ambulâncias às quatro horas da madrugada, são atendidas às sete horas, ficam quatro horas na máquina e ainda precisam enfrentam o trajeto de volta", conta. A boa notícia é que a reestruturação de um centro de uma clínica particular deve abrir 25 novas vagas para atendimento pelo SUS em Curitiba. A abertura de um turno da madrugada, já que os paciente dormem durante a sessão, também seria uma alternativa para ampliar o número de vagas. Além disso, eles estariam aptos a trabalhar em horário comercial.
A ampliação do sistema custa caro e o Paraná já alcançou o limite máximo de aplicação de recursos estipulado pelo Ministério da Saúde. Desse tratamento depende a vida de 3,6 mil pessoas, que já conseguiram ter acesso ao tratamento. Para manter o atendimento para 0,03% da população do estado são comprometidos 8% do orçamento da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa). O serviço deveria ser totalmente custeado pelo SUS, mas o governo estadual acaba arcando com cerca de R$ 300 mil ao mês. Por ano, o custo total do atendimento é de aproximadamente R$ 80 milhões.
O chefe do departamento de Média e Alta Complexidade da Sesa, Irvando Carula, reconhece que uma reavaliação do sistema de nefrologia, feita há um ano, apontou que algumas regiões não têm o número ideal de vagas. Entre as principais deficitárias estão os pólos de Curitiba, Ponta Grossa e Foz do Iguaçu. "Se há fila de espera, não é do nosso conhecimento", diz, complementando que sobrecarga não é equivalente a falta de atendimento.
Carula ainda acrescenta que o mesmo levantamento que apontou as lacunas, indicou que a maioria das 49 clínicas que atendem no Paraná não chega a ter dois turnos completos de pacientes. E disse ainda que vai acionar a vigilância sanitária para fiscalizar os centros de nefrologia. "Os procedimentos técnicos de desinfecção são indispensáveis. Olha o que deu no Nordeste no passado", lembra, se referindo a casos de mortes por contaminação durante a hemodiálise em 1996, em Caruaru, em Pernambuco.