Um achado de aproximadamente 10 mil peças que marcaram a história ferroviária no Paraná. Todos localizados no edifício Teixeira Soares, antiga sede da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA), situado na Rua João Negrão, na região central de Curitiba. Daqui a alguns anos parte desse material será exposto em um Complexo de Memória Ferroviária projetado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Paraná. Mas para o projeto sair do papel há um longo caminho a ser traçado.
Tudo começou ainda no ano seguinte à extinção oficial da Rede no ano de 2007. O inventário desses bens, que passou quase uma década “esquecido” no prédio, foi realizado em 2008. Como explica o historiador do Iphan Juliano Doberstein, a quantidade de funcionários da RFFSA foi reduzida em virtude da privatização da rede nos anos 90 e isso afetou diretamente o armazenamento desses bens. “O acervo foi ficando nas salas do prédio sem ter pessoas o suficiente para fazer a manutenção”, afirma. Quase todo material apresentava sinais de desgaste, como marcas de ferrugens e documentos afetados pela umidade.
Com a extinção da rede, o Iphan assumiu o desafio de analisar o valor histórico-cultural dos mais diversos itens que marcaram época. São sinos, uniformes, quepes, mesas, cadeiras, bancos, chapeleiras, bilheterias, relógios de parede, louças e placas automotivas. Há ainda um acervo muito vasto de fotos e documentos que certamente serão utilizados para pesquisadores interessados no tema. A maior parte do acervo data dos anos 30.
O Complexo só deve ser inaugurado daqui a cerca de cinco anos. Mas até lá há muito a ser feito. O primeiro passo, depois do processo de listar os bens, foi a contratação de uma empresa para realizar a triagem de todo esse material para composição do acervo que integrará este centro ferroviário e a higienização e conservação.
Essa mesma equipe, formada por dois museólogos, uma restauradora e um historiador, também foi incumbida de realizar o chamado projeto museográfico de exposição e o projeto de acondicionamento do acervo. “São esses projetos que indicarão como será a disposição da reserva técnica e como se dará a montagem das exposições”, explica Doberstein. Esse trabalho foi finalizado no fim do ano passado.
Segundo o historiador do Iphan, o desafio é conseguir autorização do governo federal para abrir licitação do projeto arquitetônico. Após a conclusão dessa etapa, a obra pode ser iniciada. “Esperamos que esse trâmite flua da melhor maneira possível”, comenta.
O principal intuito do Complexo é resgatar e valorizar a história das ferrovias no Paraná. “Muitas cidades foram criadas e se desenvolveram devido à ferrovia. Sentimos que a memória ferroviária continua muito forte em alguns lugares e queremos manter essa história preservada”, ressalta Doberstein.