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De volta aos trilhos: abandonado por anos, Edifício Teixeira Soares passa por reformas. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
De volta aos trilhos: abandonado por anos, Edifício Teixeira Soares passa por reformas.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Um achado de aproximadamente 10 mil peças que marcaram a história ferroviária no Paraná. Todos localizados no edifício Teixeira Soares, antiga sede da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA), situado na Rua João Negrão, na região central de Curitiba. Daqui a alguns anos parte desse material será exposto em um Complexo de Memória Ferroviária projetado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Paraná. Mas para o projeto sair do papel há um longo caminho a ser traçado.

Tudo começou ainda no ano seguinte à extinção oficial da Rede no ano de 2007. O inventário desses bens, que passou quase uma década “esquecido” no prédio, foi realizado em 2008. Como explica o historiador do Iphan Juliano Doberstein, a quantidade de funcionários da RFFSA foi reduzida em virtude da privatização da rede nos anos 90 e isso afetou diretamente o armazenamento desses bens. “O acervo foi ficando nas salas do prédio sem ter pessoas o suficiente para fazer a manutenção”, afirma. Quase todo material apresentava sinais de desgaste, como marcas de ferrugens e documentos afetados pela umidade.

universidade

O prédio Teixeira Soares, de 13 mil metros quadrados, desativado desde meados dos anos 90, permaneceu longo tempo sem ocupação e atualmente encontra-se em reforma, tendo sido repassado via convênio à Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 2008. O Complexo Ferroviário dividirá espaço com o novo câmpus da universidade.

Com a extinção da rede, o Iphan assumiu o desafio de analisar o valor histórico-cultural dos mais diversos itens que marcaram época. São sinos, uniformes, quepes, mesas, cadeiras, bancos, chapeleiras, bilheterias, relógios de parede, louças e placas automotivas. Há ainda um acervo muito vasto de fotos e documentos que certamente serão utilizados para pesquisadores interessados no tema. A maior parte do acervo data dos anos 30.

O Complexo só deve ser inaugurado daqui a cerca de cinco anos. Mas até lá há muito a ser feito. O primeiro passo, depois do processo de listar os bens, foi a contratação de uma empresa para realizar a triagem de todo esse material para composição do acervo que integrará este centro ferroviário e a higienização e conservação.

pesquisa

Além de ser um espaço em que diversos bens serão expostos, o Complexo da Memória Ferroviária terá um auditório para realização de eventos e será voltado para pesquisa, pois parte do acervo documental e bibliográfico ficará disponível para interessados no tema.

Essa mesma equipe, formada por dois museólogos, uma restauradora e um historiador, também foi incumbida de realizar o chamado projeto museográfico de exposição e o projeto de acondicionamento do acervo. “São esses projetos que indicarão como será a disposição da reserva técnica e como se dará a montagem das exposições”, explica Doberstein. Esse trabalho foi finalizado no fim do ano passado.

Segundo o historiador do Iphan, o desafio é conseguir autorização do governo federal para abrir licitação do projeto arquitetônico. Após a conclusão dessa etapa, a obra pode ser iniciada. “Esperamos que esse trâmite flua da melhor maneira possível”, comenta.

O principal intuito do Complexo é resgatar e valorizar a história das ferrovias no Paraná. “Muitas cidades foram criadas e se desenvolveram devido à ferrovia. Sentimos que a memória ferroviária continua muito forte em alguns lugares e queremos manter essa história preservada”, ressalta Doberstein.

Iphan-PR/Divulgação

Bens podem ser cedidos a municípios do interior

Como nem todos os 10 mil bens ficarão expostos no Complexo de Memória Ferroviária, o Iphan deve destinar uma parte do acervo a outras cidades que tenham interesse em criar espaços para preservar a história da ferrovia no Paraná. “Será um impulso para que as cidades possam formar museus ferroviários”, comenta o historiador Juliano Doberstein.

Esses objetos serão cedidos para as prefeituras municipais. “Percebo que há um movimento de algumas cidades que estão interessadas nessa preservação, como Ibiporã, Santa Mariana, Bandeirantes”, comenta o historiador.

O Iphan não tem capacidade operacional para administrar todos os bens declarados de interesse cultural referentes à história ferroviária. Por isso são necessárias parcerias com as prefeituras para dar destinação ao patrimônio, transformando-o em bibliotecas, centros culturais, sede de secretarias, museus, centrais de informações turísticas. Quando há interesse, a gestão do imóvel é passada à prefeitura mediante um termo de compromisso com o Iphan. (D.A)

RFFSA geriu estradas de ferro por 40 anos

A década de 1950 foi marcada por crises no setor do transporte ferroviário brasileiro. Os processos de industrialização e de urbanização favoreciam as rodovias. Para tentar salvar as ferrovias existentes, o governo federal unificou a administração das 18 estradas de ferro existentes e pertencentes à União.

Assim, foi criada, no dia 16 de março de 1957, a sociedade anônima Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que durante 40 anos assumiu a missão de cuidar do transporte ferroviário em 19 unidades da federação. Operou uma malha que, em 1996, compreendia cerca de 22 mil quilômetros de linhas (73% do total nacional),com 1,5 mil locomotivas.

A crise, porém, pairava sobre o setor. Em 1984, por exemplo, a RFFSA se encontrava impossibilitada de gerar recursos suficientes à cobertura dos serviços e da dívida contraída. Em 1992, a RFFSA foi incluída no Programa Nacional de Desestatização, ensejando estudos, promovidos pelo BNDES, que recomendaram que os serviços de transporte ferroviário de carga passassem, de fato, para o setor privado.

A transferência foi efetivada no período de 1996 a 1998. A liquidação da Rede foi iniciada em 17 de dezembro de 1999 e uma medida provisória de 2007 extinguiu de vez a RFFSA. (D.A)

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