Um “não” de Alvaro Dias foi suficiente para barrar a entrada de Jaime Lerner ao PSDB na década de 90. Era o terceiro ano de Lerner como governador do Paraná e ele havia procurado o então presidente Fernando Henrique Cardoso para migrar do PDT para o ninho tucano. Alvaro, opositor histórico de Lerner, não aceitava tamanho disparate.
Nem mesmo o aparente apoio de alguns nomes fortes do PSDB, como o próprio FHC, foi suficiente para que Lerner tivesse aval no núcleo partidário do Paraná. Os bastidores dessa disputa política estão relatados no livro Diários da Presidência – 1997-1998, de Fernando Henrique. O desfecho da história todos já conhecem: Lerner foi barrado pelo diretório estadual do partido, ingressou no PFL e foi reeleito ao cargo em 1998.
Um jantar em 28 de abril de 1997 no Palácio da Alvorada praticamente definiu a incompatibilidade de ter Lerner e Alvaro num mesmo partido. Segundo FHC, todos desejavam que Lerner entrasse no PSDB. “Todos pensam como eu. Gostariam que o Lerner entrasse, que o Alvaro concordasse, mas tinham medo de que o Alvaro não fosse concordar. E foi o que aconteceu. O Alvaro veio mais tarde e mostrou incompatibilidade total”, escreve o ex-presidente.
Participaram do jantar os ex-governadores Mario Covas, Tasso Jereissati, Eduardo Azeredo e Marcelo Alencar, além do então ministro das Comunicações, Sérgio Motta.
FHC saiu do jantar com a confirmação de que Lerner não entraria no PSDB. “Não tenho mais caminho senão dizer ao Lerner que não há essa possibilidade e esperar as consequências”, escreve.
Para o ex-presidente, politicamente seria melhor admitir o Lerner, mas ele sabia das dificuldades. “São não sei quantos anos de oposição de uns aos outros.”
Com a filiação rejeitada, Lerner se reuniu em 12 de agosto de 1997 com FHC e o vice Marco Maciel para discutir o ingresso no PFL – sigla de Maciel. Em menos de uma semana, o imbróglio já tinha se resolvido e o atual DEM tinha Lerner como membro.
Um ano depois, aliança branca
Ainda em agosto de 1997, o Lerner queria estabelecer uma aliança prévia com o PSDB através de um acordo com Alvaro Dias. A ideia era ter PFL e PSDB juntos no pleito estadual para não ter riscos de perder para Roberto Requião (PMDB).
Nos ‘Diários’, FHC antevê a situação: “É difícil. Podemos insistir”. No fim, oficialmente o PSDB não entrou na coligação de Lerner, como atesta os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No entanto, os tucanos tampouco lançaram uma candidatura própria ao governo. Isso porque FHC, mais uma vez, entrou na jogada: “Falei com Álvaro, com Lerner, vamos fazer de conta que não estão na aliança, quando na verdade estão. Aliança branca”, diz a versão de Fernando Henrique sobre o ocorrido.