O pesquisador Alexandro Trindade afirma que o caso dos irmãos Rebouças pode ser interpretado como uma exceção à regra: eram negros e atuando em pleno período escravocrata brasileiro. O fato também evidencia, segundo ele, a existência de formas seletivas de ascensão social. “O ‘capital cultural’ e certas ‘fidelidades políticas’ eram mobilizados por indivíduos não nascidos em famílias ‘tradicionais’”, salienta o professor.

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Para Trindade, é possível dizer que devido à condição social e étnica, os irmãos Rebouças, ao se tornarem engenheiros, tiveram de demonstrar domínio técnico altamente qualificado para o exercício da profissão. E que precisaram desenvolver outras habilidades. “Qualidades estas valorizadas numa sociedade estamental: a obediência, a humildade, a fidelidade, justamente para poder contar com o ‘favor’ de outras pessoas influentes que os protegessem”.

Segundo o pesquisador, certamente os irmãos Rebouças não eram os únicos negros ou mestiços atuando como engenheiros. A trajetória dos dois é similar à de muitas pessoas mais pobres que ingressaram no Exército e chegaram ao oficialato, e para isso era necessário cursar a Escola Militar, mais tarde, a Escola Politécnica.

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“Vários mestiços conseguiram ascender socialmente por meio dessas instituições”, ressalta. Dentre as três profissões chamadas “imperiais” – Direito, Medicina e Engenharia –, a engenharia era a que mais abria espaço para ascensão social, pois foi só ao longo do século 19, com os projetos de modernização dos portos, construção de ferrovias e canalização de água, que os engenheiros passaram a ser vistos como profissionais mais “dignificados”.

Escrava

Trindade revela que os Rebouças possuíam uma senhora escravizada, mantida para trabalhos domésticos. E que no aniversário de 60 anos de Antônio Rebouças, pai dos irmãos, o presente que a família lhe deu foi uma carta de alforria. (DA)