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defensores da natureza

Navios dão suporte às ações ambientais do Greenpeace pelo mundo

 | Francesco Alesi/Greenpeace
(Foto: Francesco Alesi/Greenpeace)

Há 30 anos, o navio Rainbow Warrior I, do Greenpeace, sofria um atentado próximo ao porto de Auckland, na Nova Zelândia, quando se preparava para liderar um grupo de embarcações que faria um protesto contra os testes nucleares franceses no Atol de Mururoa, na Polinésia Francesa. Duas bombas explodiram no casco do navio, que naufragou na noite do dia 10 de julho de 1985. Na ocasião, o fotógrafo português Fernando Pereira morreu afogado em sua cabine.

O atentado chamou a atenção da mídia e as ações do Greenpeace, já conhecido na época por bater de frente com grandes corporações que colocam em risco a natureza, ganharam ainda mais repercussão, atraindo também mais e mais simpatizantes para a causa ambiental.

As embarcações utilizadas pelo Greenpeace – Rainbow Warrior III, Esperanza e Arctic Sunrise – ainda hoje são amplamente utilizadas pela ONG para promover suas ações, como a tentativa de bloquear a extração de petróleo no Ártico ou defender pequenas comunidades em pontos isolados do planeta.

Conversamos com o coordenador do Departamento de Logística do Greenpeace no Brasil, Agnaldo Vasconcelos. Entre outras coisas, ele fala sobre os 30 anos do atentado ao Rainbow Warrior, de como a ONG utiliza suas embarcações pelo mundo e de ativismo na era digital. Confira trechos da entrevista:

O que o naufrágio do primeiro Warrior significou para o Greenpeace em termos estratégicos e no aspecto psicológico?

Desde o início sempre houve a estratégia de trabalhar numa linha de confronto. E dependendo de quem você está confrontando a reação pode ser mais amena ou mais pesada. Por muitos anos confrontamos muitos governos com uma campanha que se chamava “Não à Guerra”. Isso tinha uma reação muito grande, principalmente por parte de militares de alguns governos, que se opunham na época a essa frente de trabalho da organização. O Greenpeace, pela forma de atuar – obviamente a gente nunca faz nada sem ter uma noção clara dos riscos e de até que ponto nós podemos assumir esses riscos –, nunca perdeu o DNA de apontar o dedo, de confrontar mesmo.

O que aconteceu na França teve varias consequências. Até então, a organização, mesmo sendo uma organização de confronto, obviamente pacífico, dentro dos valores dela, até então nunca tinha sofrido esse tipo de perda. Foi uma reação pesada, de um setor organizado, de governo e militares, que teve por consequência a perda de um navio, que é uma das grandes ferramentas de trabalho da organização. Pior que isso: teve vitima fatal. A consequência maior do que aconteceu lá foi a organização começar a ter um cuidado ainda mais fino em relação ao tipo de confronto e com quem você está lidando. Isso impacta também nos nossos protocolos de trabalho: como você prepara esse tipo de trabalho, como avalia melhor as reações, que riscos, de fato, a organização está disposta a correr ou não, que tipo de pessoa você envolve nos diferentes projetos.

Por outro lado, na época, não havia a facilidade de comunicação que tem hoje. O Greenpeace já era tido como uma organização de ponta, que estava sempre presente onde as coisas estavam acontecendo. E usava os navios como megafones, para ampliar problemas que só alguns setores tinham conhecimento e trazer isso para um público mais geral. E o que aconteceu lá, se é que se pode dizer que houve um lado positivo, foi o abraço que o público em massa trouxe para a organização pelo que tinha acontecido. Teve um impacto muito forte também em relação à comunicação, que acabou beneficiando trabalhos imediatos e futuros do Greenpeace. A perda do Rainbow Warrior virou uma questão icônica. Até porque ele é também um navio icônico da organização. Na época já era. Ele simbolizava o Greenpeace, a presença e a existência da organização.

A aquisição de um navio no final dos anos 70 e posteriormente a de outras duas embarcações mudou a forma de atuação do Greenpeace no mundo?

O Greenpeace sempre teve navios. Essa forma de trabalhar não era nova para a organização. A mentalidade sempre foi olhar pra frente e fazer coisas que outras organizações não podem fazer. Trabalhar em áreas remotas, ter acesso a locais que ninguém tinha e fazer esse confrontamento. Não se tem uma reação dessas [um atentado patrocinado por um governo, no caso o francês] à toa. É porque estamos incomodando.

Em quais ações os navios são usados atualmente?

Hoje a gente faz o que já fazíamos, e outras coisas. Os navios são basicamente plataformas de trabalho para realizar operações que, sem esse tipo de estrutura, não conseguiríamos. Trabalhos no ártico, em mar aberto, operar em locais isolados da Amazônia etc.

Hoje em dia, o ativismo digital – até pelo enorme alcance das redes sociais – parece ter ganhado mais peso do ações in loco. Como o Greenpeace lida com isso?

A campanha viral [pela internet], usando-se as formas de comunicação de hoje, ela serve ao trabalho que nós fazemos. Mas em muitos casos, não. Dependendo do trabalho que a gente faz, vale a pena “viralizar”, mas, às vezes, esse não é o objetivo. Às vezes, a meta é levar o navio, por exemplo, para apoiar uma comunidade isolada na Amazônia e usar a comunicação para levar essa informação às pessoas.

O afundamento do Warrior de certa forma virou um símbolo da luta pelas questões ambientais no mundo?

[O fato] ficou ainda mais público. O incidente ficou mais conhecido porque aconteceu com um navio icônico do Greenpeace. Chamou a atenção até de pessoas que não são o nosso público alvo.

Hoje os destroços do barco viraram um santuário para a reprodução da vida marinha. Há intenção de aproveitar o local para atividades de educação ambiental?

A gente trabalha muito a questão da memória, dos motivos pelos quais o incidente ocorreu. Mas o Greenpeace não faz exatamente educação ambiental. É outra forma de educação: pesquisar, denunciar, quando necessário confrontar governos e empresas e trazer mais pessoas para a mentalidade da organização.

Existe previsão de as embarcações do Greenpeace visite o Brasil em breve?

Há intenção de trazer um navio ano que vem. Mas os barcos trabalham dentro de uma agenda prioritária. Não há nada concreto, por enquanto. Não necessariamente viria o Warrior. Há alguns trabalhos importantes [do Greenpeace] que vão acontecer na Amazônia [em 2016] e também tem os Jogos Olímpicos.

Nesses últimos 30 anos a consciência ecológica do brasileiro evoluiu?

Em alguns aspectos nós evoluímos, em outros ainda precisamos evoluir muito. Acho que isso vale não só para o povo brasileiro como um todo, mas também para a política. A forma que se faz política e como se vê a questão ambiental no Brasil. Quando você escuta as lideranças políticas do país falando de desenvolvimento, das ações que se toma para o país crescer economicamente etc, as questões ambientais quase nunca são contempladas, quase nunca são inseridas nesse discurso. Às vezes até o contrário. Se vê a questão ambiental como um empecilho para o desenvolvimento.

Existe também uma coisa cultural nossa de dar mais valor para o que é mais perceptível no nosso dia a dia. E muitas questões ambientais não necessariamente estão lá. Quando fazem parte do cotidiano você começa a se importar. Como por exemplo a crise de água em São Paulo, que está relacionada ao desmatamento na Amazônia. Aí você começa a relacionar uma coisa com a outra. Caso contrário, aquilo parece distante da realidade das pessoas. Esse, aliás, é um dos nossos desafios: como aproximar essas questões ambientais do dia a dia das pessoas – a água que sai da torneira depende da quantidade de chuva que cai lá na região amazônica; a luz que chega na minha casa é gerada em uma hidrelétrica que está lá na Amazônia e que gera um conflito social com uma comunidadezinha local. As pessoas ainda não relacionam isso. A comunicação evoluiu muito, mas a gente ainda precisa melhorar nesse aspecto, por exemplo.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

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