O mundo ainda celebrava o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) quando uma nova ameaça começou a surgir em terras germânicas. A ascensão do Partido Nazista, em 1933, dava indícios de que a paz estaria com os dias contados. Não por acaso, o imperialismo alemão, comandado por Adolf Hitler, foi um dos fatores que levaram à eclosão da Segunda Guerra Mundial na década de 1940.
Enquanto a incerteza e o clima de apreensão tomavam conta deste período entre guerras, era através do jornal católico Der Kompass (A Bússola, em português) que os imigrantes alemães que viviam em Curitiba se informavam. Durante as quatro décadas, o periódico, que era publicado em alemão, nunca se posicionou claramente contra o nazismo. Nem mesmo mediante as imposições do Estado Novo (1937-1945), chefiado pelo então presidente Getúlio Vargas.
Criado em 1902, A Bússola chegou a assumir, nos anos 1930, um posicionamento favorável ao nazismo, segundo a historiadora Petra Henning, que pesquisou o periódico. “Pois não havia motivos para se colocar contra, já que, neste período, o nazismo representava o reerguimento da ‘pátria-mãe’ e as festas organizadas pelo partido promoviam a manutenção da identidade alemã”, explica.
As festas e encontros promovidos pelos partidários nazistas eram bem aceitos pelos alemães e, em alguns casos, possuíam até o apoio do governo local. “Por isso, a publicação de notícias sobre esses eventos era comum, como forma de informar à comunidade o que ocorria entre os alemães”, relata a pesquisadora. Por meio do jornal, os alemães tinham informações, por exemplo, sobre os encontros realizados pelo Círculo Paranaense do Partido Nazista.
Mudança
O Der Kompass, no entanto, estava entre a cruz e a espada. Ou melhor, entre a suástica e Vargas. Petra explica que devido às repressões decorrentes da Lei de Nacionalização, de 1938, o jornal sofreu diversas mudanças. “Passou a se autodenominar um jornal teuto-brasileiro e não mais alemão. Em alguns momentos ele deixou de noticiar eventos importantes para os alemães, como o aniversário de Hitler em 1938, para recordar um importante feriado brasileiro, o de Tiradentes”, afirma.
O mais importante de todos esses fatos foi que o jornal se viu obrigado a se manter alheio às atividades do Partido Nazista no Brasil. “Por mais que o jornal quisesse demonstrar simpatia (ou talvez a não oposição) pelo Partido Nazista, ele foi forçado a se manter neutro pelo Estado Novo, para que continuasse sendo publicado. Porém, não se pode dizer que o jornal se colocou contra o nazismo. Sua postura foi de neutralidade durante os últimos anos”, relata a pesquisadora.