Sob o mar ao norte da Nova Zelândia, na Baía de Matauri, o casco submerso e enferrujado da embarcação hoje abriga peixes, moluscos e corais. Em meio aos despojos do naufrágio, a vida se renova. Na noite de 10 de julho de 1985, a alguns quilômetros dali, no porto de Auckland, o navio do Greenpeace Rainbow Warrior I descia ao fundo do Oceano Pacífico com dois rombos no casco, provocados por bombas colocadas por agentes do serviço secreto francês.
Na ocasião, o barco estava sendo preparado para liderar uma pequena esquadra que iria protestar contra os testes nucleares realizados pela França no Atol de Mururoa, na Polinésia Francesa. Além dos prejuízos materiais e da interrupção súbita nas ações da organização não governamental, o atentado ceifou a vida do fotógrafo português Fernando Pereira, integrante da ONG.
Símbolo da luta pelas causas ambientais, a Rainbow Warrior (os ativistas do Greenpeace se referem ao barco como “ela”, a “Guerreira do Arco-Íris”) é tida desde o fim dos anos 1970 como um ícone do enfrentamento e da ousadia – por vezes controversa – da ONG ante a ganância de petrolíferas, a inconsequência de governos e seus experimentos atômicos ou a caça desenfreada de baleias. Se por um lado o atentado deixou um rastro de morte e destruição, por outro parece ter renovado o fôlego dos ambientalistas, não só do Greenpeace. O martírio do barco e de sua tripulação em águas neozelandesas aproximou as lutas dos ativistas dos holofotes da mídia, atraindo a atenção de cidadãos ao redor do mundo. Hoje, mais do que nunca, são as doações desses cidadãos que patrocinam as atividades da ONG.
O naufrágio não alterou a política do Greenpeace, tanto que outros dois navios denominados Rainbow Warrior prosseguiram com o legado do barco original, ao lado de outras duas embarcações da ONG: Esperanza e Arctic Sunrise. “A consequência maior do que aconteceu lá [o naufrágio] foi a organização começar a ter um cuidado maior em relação ao tipo de confronto e com quem você está lidando. Isso impacta nos nossos protocolos: como preparar esse tipo de trabalho; como avaliar melhor as reações; que risco a organização está disposta a correr; que tipo de pessoa você envolve nos diferentes projetos”, enumera Agnaldo Vasconcelos, coordenador do Departamento de Logística do Greenpeace no Brasil.
Autonomia
Os navios dão ao Greenpeace a capacidade de estar onde a ação pede, seja no gelo do Ártico para impedir a extração de petróleo, nos mares do Oriente para denunciar a pesca ilegal ou mesmo operar em locais isolados da Amazônia. Além disso, eles possuem alta capacidade tecnológica, com comunicação via satélite, internet banda larga e outros dispositivos.