Enquanto o coral de uma igreja se apresentava trajando as cores da bandeira brasileira, uma multidão de preto ocupou a Boca Maldita, no centro de Curitiba. Era 16 de agosto de 1992, dia em que o então presidente Fernando Collor havia conclamado os brasileiros a defender seu mandato usando verde e amarelo. O efeito foi o inverso e provocou o chamado “domingo negro”. A população saiu às ruas com as caras pintadas e usando roupas pretas em repúdio a Collor. Na capital paranaense, cerca de 40 mil pessoas tomaram a região central.
Uma semana depois, 39 manifestações explodiram pelo país. Na semana seguinte, 41. Em um intervalo de dois dias chegaram a ocorrer três atos contra Collor em Curitiba. Em uma delas, o então presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado de outras lideranças políticas, e do então governador Roberto Requião, discursaram para os curitibanos.
As passeatas seguiam pela Rua XV de Novembro, pelas praças Santos Andrade e General Osório. Estudantes, professores e lideranças comunitárias tomavam a frente do “Fora Collor”. “Todas as entidades estavam unidas, comos sindicatos, Ordem dos Advogados do Brasil, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Era um consenso. Não havia base organizada a favor do Collor”, afirma o cientista político e professor da UFPR Ricardo Oliveira.
As manifestações também tomaram as ruas de outras cidades, como Londrina e Maringá. Em todos os cantos do país, os movimentos sociais cobravam o impeachment de Collor. As manifestações populares foram intensas e ocuparam quase todos os meses de agosto até o fim daquele ano.
Quando, em dezembro daquele ano, o impedimento do então presidente foi confirmado pelo Senado, a festa foi geral. Oliveira recorda que grande parte da população acompanhou pela televisão o desfecho da história. “Depois foi um momento de júbilo”, comenta. Foguetes e buzinaços espalharam-se por Curitiba, pelo Paraná e pelo país.
Antecedentes
Antes mesmo daquele domingo das roupas pretas, o movimento “Fora Collor” já ganhava corpo na capital do Paraná. Um ato em um centro de convenções, no antigo Cine Vitória, reuniu em 7 de agosto um amplo leque de partidos e entidades. Bandeiras de diversas ideologias se uniram para questionar o mandato do então presidente. Os quatro mil lugares do local foram insuficientes para acomodar todo mundo, que ocupou corredores e o lado de fora do espaço.
Antes, em dezembro 1991, durante reunião do Conselho Nacional das Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado em Curitiba, a organização já havia se posicionado contrário ao Collor.