Política, previdenciária, trabalhista e fiscal. A necessidade de se fazer reformas no Brasil é um assunto recorrente a cada novo governo. Revisitando a história brasileira, descobre-se que esse é um debate antigo, que ocorre desde o período imperial. Foi durante a segunda monarquia, na metade do século 19, que o país passou pela primeira grande onda de reformas estruturais, com mudanças no sistema judiciário, no regime de trabalho, na educação e na administração pública. É o que conta a doutora em História Gizlene Neder, autora do livro As reformas políticas dos homens novos (Editora Revan).
Oito anos após o Brasil tornar-se independente de Portugal – o que ocorreu em 1822 –, a elite imperial começou a se preocupar em implantar mudanças legislativas no país. No entanto, de 1830 a 1849 pouca coisa foi feita na prática. Segundo Gizlene, que leciona na Universidade Federal Fluminense (UFF), a primeira grande reforma ocorreu em 1850 com a chamada Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravos para o Brasil, vetando uma importante atividade econômica na época. Considerado um dos primeiros passos rumo à abolição da escravidão, a lei recebeu o nome do seu autor, o senador e ministro da Justiça Eusébio de Queirós Coutinho Matos.
Um novo pacote de reformas só começou a sair do papel 20 anos depois, graças à ação dos chamados “homens novos”, denominação dada pelo escritor e jornalista José de Alencar a um grupo de jovens políticos do Partido Conservador, que tinham sido convidados a compor o governo no período da chamada “centralização monárquica”, após o golpe da maioridade de Dom Pedro II, em 1840. “Faziam parte deste círculo José Thomas Nabuco de Araújo, José Maria Paranhos, que era o visconde do Rio Branco, e Francisco Carvalho Moreira, o barão de Penedo. O que os unia era a rede de sociabilidade proporcionada pela maçonaria”, explica a pesquisadora.
Cinco eixos
Segundo Gizlene, as reformas implantadas no país a partir da década de 1870 obedeceram a cinco eixos principais: Justiça, Trabalho, Eleição, Educação e Administração (veja no box ao lado). Foi um período de efervescência política, com ativa participação de abolicionistas e republicanos influenciados pela escola positivista que culminaram com a Proclamação da República do Brasil em 1889.
O círculo dos chamados “homens novos” estiveram amplamente comprometidos com a profissionalização, a institucionalização e a modernização do campo jurídico, segundo a pesquisadora. “A atuação desta rede marcou uma diferenciação em relação às políticas adotada pelas velhas lideranças do Partido Conservador, conhecidas como carretilhas”, explica.
As carretilhas faziam referência a pequenas mudanças, dada a impossibilidade de reformas mais profundas pela reação conservadora. “Na visão dos homens novos, o procedimento fragilizava a institucionalidade do campo político no país. A alusão às carretilhas sugere o movimento vagaroso de quem dá corda aos poucos e segundo a necessidade”, ressalta Gizlene.