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indústria bélica

Soldados da borracha: os escravos do século 20 em plena 2.ª Guerra Mundial

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Um exército de retirantes convocado pelo Estado brasileiro reviveu os tempos de escravidão em plena década de 1940. Enquanto a 2.ª Guerra Mundial espalhava-se pela Europa e Ásia, perto de 55 mil brasileiros enfrentaram doenças fatais, passaram fome e estavam presos aos domínios dos ‘coronéis’ donos dos seringais na região amazônica. Muitos desses soldados deram a vida, literalmente, para alimentar a indústria bélica americana durante o conflito e fornecer insumos para armas e pneus, por exemplo.

Humildes, eles foram recrutados para trabalhar na extração da seringa com a promessa de que voltariam de lá milionários. Estima-se que mais da metade dos aliciados pelo então Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia acabou morrendo devido às condições insalubres em que foram submetidos. Surtos epidêmicos e ataques de animais também provocaram a morte dos recrutas.

Todas as garantias anunciadas eram inexistentes. A falta de pagamento e a fiscalização desleixada do governo viraram regra. O resultado foi um tratamento desumano a esses soldados que ajudaram garantir a vitória dos Aliados durante a guerra mais sangrenta da história. “Os soldados da borracha voltaram a viver em um sistema feudal e escravocrata”, pontua Wolney Oliveira, pesquisador do assunto e autor do projeto do livro Soldados da Borracha – Os Heróis Esquecidos, lançado no ano passado. A maioria dos soldados era formada por nordestinos, que tinham sofrido com períodos de seca nos anos anteriores.

“Mas também havia gente de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Muitos presos que estavam nas cadeias dessas regiões foram transformados em ‘soldados da borracha’. O resultado dessa política foi um dos maiores genocídios que o Brasil já fez”, ressalta Oliveira.

Campanha

Para atrair as pessoas até lá o governo adotou uma campanha de recrutamento que tomou conta principalmente do Nordeste brasileiro. “Trabalhador nordestino, alista-te hoje mesmo, cumpre o teu dever para com a pátria”, estava escrito na capa de uma cartilha divulgada para atrair os trabalhadores. Cartazes repletos de palavras fortes e otimistas davam a ilusão de que regressariam da floresta amazônica ricos.

Porém, a realidade era completamente outra. Os soldados da borracha já chegavam aos seringais devendo aos donos da terra. Desde o transporte até o alimento era cobrado. O “sistema de aviamento” mantinha o trabalhador preso por meio de uma dívida interminável, que crescia dia após dia.

Tudo que se recebia no seringal era cobrado. Mantimentos, ferramentas, tigelas, roupas, armas, munição, remédios, tudo enfim era anotado na sua conta corrente e o preço era cinco vezes maior que o normal. No fim da safra, a produção de borracha de cada seringueiro era abatida da dívida. Mas o valor de sua produção era, quase sempre, considerado inferior à quantia devida.

“Os ‘coronéis’ faziam a lei deles. Havia capangas que faziam emboscadas para matar os soldados que teriam ‘quitado’ a dívida. Assim, o dinheiro voltava aos coronéis”, relata Oliveira.

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