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Drama conjugal

Histórias de repetidas agressões nunca terminam da mesma maneira

“Nos últimos quatro anos, vivi um terror ao lado do meu marido. Agora dei um basta ao abuso”, Ana (*), 33 anos, vítima de violência doméstica. Ela segura um folheto da campanha nacional que estimula as mulheres a denunciar casos de agressão | Marcos Labanca
“Nos últimos quatro anos, vivi um terror ao lado do meu marido. Agora dei um basta ao abuso”, Ana (*), 33 anos, vítima de violência doméstica. Ela segura um folheto da campanha nacional que estimula as mulheres a denunciar casos de agressão (Foto: Marcos Labanca)

Foz do Iguaçu - Quando se pensa em colocar um ponto final na agressão doméstica, nem sempre a história termina da mesma maneira. O mais natural seria o início de uma vida nova, longe do agressor. Mas não é o que acontece em todos os casos. Há dois meses na casa-abrigo mantida pela prefeitura de Foz do Iguaçu, Maria*, 39 anos, pretende voltar para casa com a filha e retomar o casamento bastante fragilizado por repetidas ameaças.

Ela e o marido estão sendo atendidos por uma equipe multidisciplinar que envolve psicóloga, psiquiatra, assistente social e advogada. "Agora que voltei a andar sozinha quero dar uma nova chance para a minha vida em família", justifica, lembrando que o problema começou quando ela ainda estava grávida de três meses da única filha, hoje com um ano e meio. Há dois anos, vem recebendo ameaças de morte de uma mulher que se diz amante do marido.

"Comecei a receber ligações de alguém que dizia estar tendo um caso com o meu marido. Me ameaçava de todo jeito e exigia que eu me separasse e saísse de casa", lembra. Ao questionar o marido, ele sempre negava o envolvimento com outra pessoa, mas, irritado, a conversa sempre acabava em discussão. "Cansada das ameaças, exigi uma atitude do meu marido. Ele não gostou, brigou, pegou o carro e saiu. Foi quando decidi fugir e ir para o Rio de Janeiro, onde vive minha família."

Em dois meses, as ameaças voltaram, agora estendidas aos parentes que a acolheram. "Sabendo disso, meu marido me pediu para voltar. Ele me convenceu dizendo que perto dele nossa filha estaria mais protegida e feliz. Voltei." A paz durou apenas dois dias. Sem saber o que fazer, decidiu procurar ajuda em um programa de televisão, através do qual foi orientada a denunciar o caso à polícia. E, em seguida, encaminhada à casa-abrigo até que as investigações avancem. "Essa é a minha única família."

Ponto final

Ao contrário de Maria, Ana*, 33 anos, há quatro meses abrigada, desistiu do casamento. "Foram quase dez anos juntos. Mas, nos últimos quatro anos, vivi um terror ao lado do meu marido, viciado em crack", conta. "Não vejo a hora de poder trabalhar, cuidar da minha vida e da minha filha, sem medo, sem ter que ver traficante entrando na minha casa e levando o que queria para pagar dívida de droga. Não admito mais qualquer ameaça ou agressão. Já dei um basta ao abuso, agora quero retomar minha vida."

Orientadas quanto aos direitos e o melhor caminho a seguir, a decisão sobre o que fazer é exclusiva das mulheres. Segundo a coordenadora da casa-abrigo, a advogada Clarissa Coleto, o abrigamento serve essencialmente para que o ciclo de violência seja rompido e a mulher possa pensar sobre que andamento dará a sua vida. "Temos estrutura, mas ainda há muito desconhecimento e a rede de proteção não está articulada como deveria." Em cinco anos, a entidade já recebeu 169 mulheres e 299 crianças e adolescentes filhos das vítimas.

*nomes fictícios

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