"Mamãe, cadê você, mamãe?", perguntava na quinta-feira no Facebook a pequena Catharina, filha da auxiliar financeira Kelly Meneses. Por volta das 3h também de quinta-feira, o professor de biologia Flávio Porrozzi teria atendido uma ligação da namorada no celular e dito "Oi, meu amor". A ligação caiu e ele não atendeu mais. O advogado Franklin Machado falava com a mulher, por telefone, quando a conversa foi subitamente interrompida. Desde então, parentes não têm mais notícias dele. Histórias de uma tragédia que deixa muito mais do que escombros.
O apelo da menina Catharina na rede social em busca de Kelly Meneses, de 28 anos, que participava de um treinamento interno da empresa Tecnologia Organizacional (TO), no sexto andar do Edifício Liberdade, foi o segundo em poucas horas. O desespero diante da falta de notícias aumentou: "Mãe, não morre, fica comigo! Te amo do fundo do meu coração". Kelly, que está entre os desaparecidos, trabalhava como auxiliar financeira na TO e era moradora da Vila da Penha. Ela integrava a turma que fazia um curso à noite de tecnologia da informação (TI).
Parentes ainda têm esperanças
Apesar da proporção da tragédia, parentes ainda tinham esperanças na quinta-feira de encontrar sobreviventes entre os escombros. Era o caso da família do professor de biologia Flávio Porrozzi, de 30 anos, que, segundo um tio, estava no prédio e atendeu uma ligação da namorada, Tatiane. Teve tempo de dizer apenas "Oi, meu amor". O casal está junto desde 2001. Flávio vive com os pais, uma enfermeira e um bombeiro aposentado, que passaram o dia na quinta-feira acompanhando as buscas no Centro.
Pelos dados preliminares divulgados, a metade das vítimas seria de profissionais da área de tecnologia da informação que participavam do curso. Era o penúltimo dia de aula com o professor Omar Mussi no prédio, considerado um profissional renomado no mercado. Casado, pai de uma filha, Samara, e morador de Copacabana, ele estava feliz por ter passado no mestrado em administração no Ibmec, que começaria a cursar este ano.
Muito abalada, Samara confirmou que Omar dava aulas no edifício quando houve o desmoronamento. A mulher do professor passou o dia na Câmara de Vereadores à espera de informações.
"Estou em estado de choque", contou Emir Mussi, irmão de Omar. "Somos muito unidos. Nossa mãe não está bem, não sabe o que está acontecendo direito."
Durante telefonema, um forte barulho no prédio
Segundos antes do desabamento, às 20h30m, o advogado Franklin Machado, de 44 anos, falava com a mulher, Eliete Sabará, por celular. Ele visitava alguns clientes no edifício e não conseguiu terminar a conversa com Eliete, por causa de um forte barulho. Cunhado de Franklin, César Sabará acredita que o ruído foi o estrondo que precedeu o desmoronamento do Edifício Liberdade.
"Ele disse para a mulher que não conseguia ouvi-la por causa de um estrondo muito alto. Pouco depois, ela viu na TV que o prédio havia caído. Ela tentou ligar, mas não conseguiu completar a ligação. Agora, está sob efeito de medicamentos", disse o cunhado, que passou o dia na Câmara de Vereadores acompanhando as ações de resgate.
Entre as vítimas, há um casal: a costureira Margarida Vieira Carvalho, de 55 anos, e Cornélio Ribeiro, de 73, que trabalhava como porteiro e zelador do Liberdade. Ambos morreram. Os dois moravam na cobertura do edifício, no 20º andar. Cornélio trabalhava há 20 anos no endereço da Avenida Treze de Maio. Prima de Margarida, Francisca Eunice Vieira contou que o casal estava na cobertura e se preparava para dormir quando ocorreu a tragédia.
Margarida era natural da cidade de Hidrolândia, no interior do Ceará, e estava há dez anos no Rio. Antes de a morte dela ser confirmada à noite, a afilhada de Cornélio, Mariana Nascimento, ainda acreditava na possibilidade de encontrar Margarida com vida. Segundo ela, havia a possibilidade de que a costureira não estivesse em casa na hora da tragédia.
Já Sandra Maria Ribeiro Lopes, de 40 anos, filha de Cornélio, contou que, de manhã, ficou sabendo que haviam encontrado o corpo de um homem com o celular do seu pai no bolso. Ela foi em seguida fazer o reconhecimento da vítima no Instituto Médico-Legal (IML).
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