Marlos - com Pedro Ken ao fundo - está confirmado entre os titulares| Foto: Rodolfo Bührer / Gazeta do Povo

Quando começou a namorar sua mulher, Melissa, o educador curitibano Osvaldo Teodoro Born, 33 anos, teve de usar de muita didática para lhe revelar um segredo – é doido por ônibus. As experiências anteriores não tinham sido muito animadoras. "As pessoas riam. Tive de ir contando aos poucos", diverte-se o idealizador do projeto Omnibus do Brasil – formado por um jornal virtual e um impresso, grupo de discussão na internet, exposições de veículos e um acervo de dez mil fotografias, fora bilhetes, miniaturas e outros badulaques, guardados com tanta paixão que deixariam qualquer namorada ressabiada.

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Hoje, Melissa é uma agregada do grupo de 70 interessados formado em torno de Osvaldo. "Ela me incentiva e vive apontando ônibus diferentes nas ruas para que eu veja", conta. O assunto é mesmo cativante, pois é raríssimo encontrar alguém que não tenha pelo menos uma boa história vivida dentro da condução. Em conversa com Born, essas lembranças vêm à tona e sempre nasce mais um candidato a "busólogo". "Você já ouviu falar do ônibus estilo Família Dó-Ré-Mi que levava a criançada para o Centro de Criatividade, na década de 70?", pergunta o repórter. E senta que lá vem história. É assim que começa.

O termo "busólogo" não ganhou a simpatia do grupo, mas serve como uma luva para definir esses estudiosos. São verdadeiros papas. Ora falam das maravilhas desse ou daquele modelo, como o Comil chassi Volvo – o xodó de Born –, ora sobre alguma das linhas da rota de transporte integrado de Curitiba e região – com seus 2,2 mil ônibus. Com sorte, até desembarcam no Transmilênio de Bogotá, sistema que ajudou a reduzir a violência na Colômbia ao ligar bairros degradados a bibliotecas.

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Claro, sempre sobra tempo para aquele que é o maior hobby da turma do projeto: trocar fotografias. "Esse é o Catita, uma raridade da Viação Garcia", exibe Osvaldo, em meio aos caprichados álbuns que lotam uma mesa de jantar em sua casa, na Boa Vista, onde se chega pela linha Paineiras. Basta dar uma folheada e em segundos se está "tomando" o ônibus verde-e-amarelo da Curitiba dos anos 70 ou o Alimentador alaranjado. Aliás, uma das piadas que rolam entre os "onibusnautas" é que essa história toda começou em 1974, quanto Born ainda era criança de colo e sua mãe o levou na inauguração dos "vermelhões", apelido dado aos primeiros expressos. "É possível" – dá corda. Mas do que se lembra mesmo é da inexplicável atração pelos coletivos despertada naquela idade em que tudo pode acontecer – a adolescência.

"Eu via um modelo novo na rua e ficava fascinado", recorda. Mas o que era uma esquisitice – tão passageira quanto as espinhas da testa – em 1991 virou um projeto inédito, cuja contribuição para a História do Transporte começa a ser reconhecida. É o caso das "Exponis", mostras de ônibus antigos promovidas por Born e sua trupe desde 2004. Este ano o evento chega à quarta edição. Pelo andar do "busão", a adesão das empresas vai crescer ainda mais, assim como a tendência a formar pequenos museus. O Marcopolo Veneza Expresso, primeiro do gênero em Curitiba, já virou patrimônio da prefeitura. Algumas das cerca de 30 viações que participaram da 2.ª Exponi seguiram o exemplo e começam a tombar veículos que eram candidatos a rainha da sucata.

Nada mal para o garoto que em vez de colecionar chaveiros deu de se interessar pelos coletivos. "No começo, era só gosto por Volvos e Scânias. Depois, virou uma questão social", resume. Ele lembra exatamente o momento em que o milagre se deu. Diante de uma foto de mil-novecentos-e-vovó-criancinha, percebeu estar craque em identificar o modelo do chassi e o ano. Mas permanecia "com cara de estação-tubo" diante dos rostos que aparecem na imagem. Foi quando entendeu que sua mania podia ser um serviço aos anônimos: "O transporte coletivo no Brasil é popular, por isso, desprezado. Se eu não guardar esse material, a história vai desaparecer." E ponto final.

Serviço:omnibusdobrasil@yahoo.com.br; www.omnibusdobrasil.hpg.com.br.