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 | Roberto Custódio/Jornal de Londrina
| Foto: Roberto Custódio/Jornal de Londrina

Onze anos depois de surpreender a medicina ao estancar uma hemorragia no coração de uma paciente com cola superbonder, o cirurgião cardíaco Francisco Gregori Júnior, 60 anos, voltou a se destacar após chefiar uma cirurgia de 51 horas no Hospital Evangélico de Londrina, Norte do Paraná. Nesse tempo, a vida do gerente de vendas Onivaldo Cassiano, 49 anos, agora salvo, esteve por um fio sobre a mesa de operações do Hospital Evangélico, das 7h30 do dia 28 de julho até 10h30 do dia 30. A recuperação do paciente foi divulgada na segunda-feira (11) pelo hospital, em entrevista coletiva.

Cassiano era portador de um aneurisma na aorta, principal irrigação sangüínea do corpo. De causa indefinida, a anomalia levaria o paciente a uma ruptura do órgão. Durante a cirurgia, a equipe de oito pessoas trocaria a aorta, a válvula cardíaca e realizaria uma ponte de safena. "Seria uma cirurgia padronizada e que certamente teria sangramento acima do normal, mas não como aconteceu", explicou Gregori. Após as intervenções, Cassiano sangrava intensamente sem coagulação, o que exigiu transfusões que esgotaram o estoque de sangue de Londrina. "A falta de uma enzima não permitia a coagulação perfeita. Não havia mais sangue na cidade para ele. Chegou uma hora que era só sangue fresco", lembra o médico.

Durante o tempo, Cassiano sorveu quase 400 bolsas de compostos sangüíneos sem que houvesse reação – algo equivalente a trocar por 20 vezes todo o sangue do corpo. Enquanto isso, o médico chegou a cochilar no chão para descansar um pouco.

"Com 36 horas achamos que o perderíamos". Com a equipe exausta e sem saída, Gregori voltou à mesa de operação, reabriu o paciente e refez todas as ligações. Foi quando decidiu apelar a uma técnica que chamou de marmorização. "Se eu cobrir todo o sistema cardíaco com cola, por onde vai sangrar?", pensou. Dessa vez, a cola, no entanto, era biológica - a nova aorta e a nova válvula seriam totalmente readeridas ao coração, além das suturas usuais.

A equipe se revezou por mais de 15 horas segurando o tórax aberto de Cassiano com as mãos, enquanto compressas tentavam conter a hemorragia. "Até que o coração voltou a bater forte e bonito. Sabia que uma hora teria que coagular." Segundo o médico, pacientes que ultrapassam a 10ª hora de cirurgia têm apenas 2% de chance de sobreviver.

Dez dias de UTI e com lenta recuperação, Cassiano diz que só ontem, quando perguntado pelos jornalistas, "caiu a ficha" da complexa situação que enfrentou. "Nunca tinha operado nem uma unha. Nesse tempo desacordado, estive em cada lugar que vocês nem imaginam", disse. "Se fosse para fazer de novo, não faria não". Para a cirurgia, Cassiano contou que mais de 30 amigos se revezaram em doações de sangue e na atenção à família. "Recebi muita ajuda de todos e, no fim, um milagre pelas mãos dos médicos."

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