Cinco meses após a prisão de um grupo de skinheads acusados de agressão a homossexuais, uma nova denúncia de violência chocou gays e lésbicas de Curitiba, representados pelo grupo Dignidade. Dois dirigentes da entidade acusam guardas municipais de agressão, maus-tratos e omissão de socorro depois de uma briga ocorrida no centro da cidade, na madrugada deste sábado (11). Outras três pessoas dois homens e uma mulher teriam iniciado o espancamento. A Guarda Municipal nega e diz que atendeu a ocorrência normalmente, encaminhando todos os envolvidos para a delegacia.
As agressões ocorreram em plena rua, na Avenida Marechal Floriano, próximo à Praça Carlos Gomes, por volta das 3 horas. O diretor-executivo do grupo, Arildo José "Igo" Martini, 35 anos, e Márcio Marins, 33 anos, integrante da coordenação de interação com a comunidade do Dignidade, voltavam de um bar no Largo da Ordem, após uma confraternização com amigos.
Segundo Martini, a violência começou quando um casal, identificado apenas como Juliana e Émerson, que estava parado no ponto de ônibus, avançou contra ele e Marins. "Estava distraído e abraçado ao Márcio. A gente ia pegar um táxi na praça. Foi quando levei uma rasteira e vários socos e chutes", relata. Quando Marins tentou socorrê-lo, um outro rapaz atravessou a rua correndo e se juntou ao casal para agredi-los e xingá-los. Até uma pá, pertencente a um gari, foi usada para bater nos homossexuais. "Gritamos por socorro, mas ninguém nos ajudou", indigna-se Marins. "A mulher me agarrava pelo pescoço e gritava a todo momento que estava grávida", diz Martini.
Em seguida, ele e o companheiro perceberam a aproximação de um carro da Guarda Municipal e tentaram pedir ajuda. Foi quando, surpreendentemente, eles passaram da condição de vítimas a agressores. "Eles gritaram mandando a gente deitar no chão. Tentei explicar que éramos as vítimas, mas eles mandaram calar a boca", recorda Martini, que começou a chorar. "Pedi para o Igor se acalmar e ergui um pouco o tronco. Nisso uma dos guardas pisou nas minhas costas e me chutou", diz Marins.
Sangrando, os dois foram levados ao 1.° Distrito Policial. No caminho, mais agressões. "Disseram que se pingasse uma gota de sangue na viatura ou se a gente tentasse usar o celular íamos apanhar mais", lembra Marins. Na delegacia, um boletim de ocorrência foi feito pelo casal que iniciou a violência, mas no B.O. os agressores eram os homossexuais.
Depois de duas horas, eles foram liberados como se nada tivesse acontecido. Já acompanhados da advogada Silene Hirata, do grupo Dignidade, eles foram levados ao pronto-socorro do Hospital Cajuru. Martini levou pontos na boca enquanto Marins deslocou o ombro direito. Ambos apresentam hematomas e arranhões pelo corpo. Nesta segunda-feita, um exame de corpo delito foi feito no Instituto Médico Legal (IML).
Eles pretendem processar o casal, identificado no B.O., e os guardas municipais, cujas identidades ainda não foram descobertas. "Esperávamos descobrir os nomes no B.O., mas amanhã (hoje) de manhã teremos uma reunião com o secretário de Defesa Social (coronel Itamar) para expor a ele o que ocorreu", explica Silene. Segundo Marins, o casal aparentemente não pertence a grupos neo-nazistas. "As roupas eram diferentes", afirma. A única semelhança com outros casos foi o fato de haver uma mulher junto. "Sempre que ocorreram agressões contra homossexuais um dos agressores era mulher", diz a advogada.
Para Silene, o caso mostra o despreparo da Guarda Municipal. "Não é a função deles tocar em qualquer munícipe. Eles devem cuidar do patrimônio público e não estão aptos a fazer o trabalho de polícia", afirma. Já Martini, que também é presidente do Centro Paranaense de Cidadania (Cepac), lamenta o fato de que o casal e os guardas possam ser processados apenas por lesão corporal. "O Paraná é um dos únicos estados do Brasil que ainda não tem uma lei contra a discriminação sexual", diz.
A assessoria de imprensa da prefeitura informou que a Guarda Municipal abriu um procedimento administrativo para apurar a denúncia. Se for comprovada a agressão, os guardas podem ser punidos.