No final de junho, um grupo de ativismo LGBT foi à Justiça contra a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para obrigar a seleção brasileira a usar o número 24 em suas camisas durante a Copa América. O grupo alegava que o fato de não haver nas camisas o número 24 – que possui uma conotação cultural relacionada à homossexualidade – tratava-se de uma ofensa à comunidade LGBT e de uma atitude homofóbica.
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Como a Justiça decidiu arquivar o caso e não aplicar multa à CBF, o grupo decidiu ir à FIFA, por meio de uma representação ao Comitê de Ética da entidade, pedindo uma investigação contra a entidade máxima do futebol brasileiro. Na ocasião, o grupo de ativismo chegou a dizer que a ausência da numeração representava “possível violação das normas de direitos humanos”. Em uma ação civil pública que buscava obrigar o jogador Douglas Luiz a usar camisa com o número 24 na semifinal da competição, o atleta chegou a virar réu por “legitimidade passiva ” ", pelo fato de optar por utilizar outra numeração.
O caso, que gerou grande repercussão pelo método impositivo utilizado pelo grupo, ocorreu paralelamente a outro caso polêmico, desta vez nos Estados Unidos, que ecoou entre os brasileiros. O Coral Gay de São Francisco divulgou um vídeo com uma espécie de manifesto dizendo aos pais que iriam “converter seus filhos para a agenda LGBT”, sob o pretexto de que as famílias não estariam educando as crianças para respeitar as diferenças.
Em tom desafiador e agressivo contra aqueles que considera contrários à igualdade de direitos, o grupo canta “Nós vamos forçar seus filhos a serem tolerantes e justos”. Em outro trecho, cita “Nós vamos converter suas crianças, não há como escapar disso. Vamos mudar até a gramática”, em referência às tentativas de forçar mudanças nas línguas oficiais por meio da linguagem neutra. O manifesto foi alvo de numerosas críticas, o que motivou a publicação de uma nota oficial por parte do coral.
De acordo com representantes da comunidade LGBT, no entanto, esses métodos de imposição, que contam com o apoio de partidos políticos, não são vistos com bons olhos por parte da população homossexual. Para a servidora pública Maria Luiza Zanotto, a conduta de uma parcela dos militantes da causa acaba gerando o efeito contrário e fomentando a hostilidade. “Acredito que a maioria de nós não compactua com esse tipo de discurso agressivo. Acho que essa forma de lidar gera mais preconceito, justamente porque qualquer tipo de imposição de um pensamento gera aversão nas pessoas”.
Combate à discriminação
Apesar das alegações do Coral Masculino Gay de São Francisco quanto a uma ampla intolerância contra gays no país, os Estados Unidos têm avançado na redução do preconceito contra homossexuais. Um estudo da Asher & Lyric publicado em março deste ano, que avaliou os índices de segurança em viagens LGBTQ+ em 150 países, apontou que o país ocupa o 20º lugar entre as nações mais seguras para esse público; os EUA avançaram quatro posições em relação à edição de 2020 do estudo.
A pesquisa, que analisa cada país a partir de nove categorias – como união legalizada entre pessoas do mesmo sexo e proteção contra discriminações – posiciona o Brasil na 15º posição entre os países mais seguros para viagens por parte do público LGBT, à frente de nações como Alemanha, Nova Zelândia, Finlândia e Estados Unidos e logo atrás de Austrália, Dinamarca e França.
Mesmo assim, de acordo com fontes ouvidas pela reportagem, em nome do “combate ao preconceito”, uma parcela de ativistas e coletivos LGBT têm buscado fomentar um clima de disputa permanente entre héteros e homossexuais a partir da narrativa de que o país é majoritariamente homofóbico.
Para o coordenador editorial Manoel Áureo Germano, que tem uma relação homoafetiva de 26 anos, esse ativismo agressivo é responsável por gerar mais preconceito contra a população homossexual. “Hoje, para mim, esses movimentos são mais de agressão do que algo em defesa do outro. Eu acho que a gente não está mais precisando dessa coisa chocante, dessa imposição”, afirma.
Germano reconhece que ainda existe violência e preconceito entre os mais diversos grupos sociais, o que inclui a população LGBT. Ele afirma, no entanto, que aos 62 anos, nunca foi alvo de violência ou intolerância devido a sua orientação sexual. “As agressões existem, e isso ocorre em toda a sociedade. É claro que quando algo está errado, tem que brigar e buscar seus direitos. Mas brigar por uma causa justa, com bom senso, discutindo melhores formas de convivência. Isso é muito diferente de querer chocar os outros ou de exercer uma militância de forma agressiva”.
Maria Luiza reforça a existência de preconceitos diversos, seja com relação à orientação sexual, raça, religião, visão política, ou outros aspectos. Ela diz, porém, que militantes da causa vêm buscando criar um cenário muito mais agravado para cooptar mais militantes, sobretudo entre os mais jovens. “Quem está por trás disso quer exatamente dividir a sociedade. Há interesses políticos, financeiros, de poder. Não estou negando que exista o preconceito, mas acredito que se pintou uma coisa muito maior do que é”, declara.
Instrumentalização da causa LGBT
Alexandre Guerreiro Cupertino, fundador do site Gays de Direita, diz que grupos políticos de esquerda “sequestraram” a causa LGBT a fim de instrumentalizar essa pauta para a manutenção do poder político. Ele aponta também que no meio homossexual há uma influência massiva por parte de artistas e demais influenciadores com viés de esquerda que militam pela causa LGBT, a ponto de haver uma histórica intolerância no movimento contra homossexuais que não abraçam bandeiras políticas progressistas.
“Com o passar dos anos criou-se a ideia de que o gay tem que ser de esquerda. Quando você não é, dentro desses setores mais ligados ao ativismo sempre vão tentar te isolar. Existe uma intolerância, uma imposição de pensamento que vem desses formadores de opinião”, aponta Cupertino. “Querem implantar uma ideologia coletivista. Não respeitam o indivíduo, ele não consegue ter sua opinião própria”.
“Aqui no Brasil há muitos influenciadores com milhões de seguidores, que ficam o tempo todo na internet militando. Muitos dos seguidores são jovens ou têm pouca bagagem de conhecimento. Essas pessoas acabam sendo instrumentalizadas para uma causa política. Isso também está muito presente nas universidades, nas escolas e no meio cultural em geral”, afirma.
“Sexualidade se tornou bandeira política e não mais questão afetiva”, diz representante da comunidade LGBT
Maria Luiza conta que ativistas e grupos militantes costumam conduzir a população homossexual a um estilo de vida na qual a sexualidade se torna uma bandeira e vem à frente de outras questões como a própria personalidade do indivíduo.
“O fato de eu gostar de outra pessoa se tornou uma causa, uma bandeira política – já não é mais uma questão afetiva. Você pode viver da forma que quiser, não é preciso fazer disso uma bandeira”, conta a servidora pública, que já foi questionada pela própria família por não se envolver com ativismo.
Maria Luiza aponta que atos como ataques a símbolos religiosos e provocações ou ofensas deliberadas a setores mais conservadores, feitos por grupos minoritários dentro do movimento LGBT, geram constrangimento principalmente aos homossexuais que não compactuam com essas práticas. “Existe uma intolerância que eles dizem que os outros têm por eles, mas eles ou correspondem a essa intolerância ou a iniciam. E me entristece muito, porque isso afeta a todos nós”, afirma.
Germano, por outro lado, afirma que em sua percepção um grande número de homossexuais, apesar de discordar do ativismo impositivo, tem receio de expor suas opiniões. Ele aponta que muitas das paradas LGBT, que ocorrem em diversas cidades do país, têm incorporado essa militância, o que tem gerado um efeito negativo. “Quando se fala do movimento, da parada gay, no início era fantástico. Estávamos lá em prol de defender nossos direitos. Hoje se tornou algo agressivo. Não é preconceito contra a manifestação, mas tudo o que é demais acaba chocando”, declara.
“Acho que esse não é o caminho. O meu maior lema é que antes de se filiar a movimentos, partidos, etc. é preciso desenvolver o respeito. Se eu não respeitar o outro, o outro não vai me respeitar ou me aceitar. Isso serve tanto para homo quanto para heterossexuais”, destaca.
“As empresas hoje estão cheias de gays trabalhando, sendo competentes, levando suas vidas de forma saudável. Isso é se impor, ocupar seu lugar na sociedade sendo quem somos e deixando os outros serem quem são”, diz Maria Luiza. “A única forma de avançar mais nisso é mostrando para a sociedade que não compactuamos com essa forma agressiva de combater o preconceito”, ressalta.
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