Ponta Grossa e Curitiba - As chuvas intermitentes prejudicam a recuperação dos estragos causados pelos temporais desta semana nas 58 cidades atingidas no Paraná. Em várias localidades ainda não foi possível repor o telhado das casas, que estão provisoriamente cobertas com lonas. É o caso de General Carneiro, cidade de 14 mil habitantes no Extremo Sul do estado. Dos quase 500 imóveis danificados, só em 80 as telhas de barro e as folhas de amianto foram repostas. Falta material nas lojas de construção. Encomendas estão sendo feitas em Curitiba, a 283 quilômetros de distância.
De acordo com o coordenador local da Defesa Civil, Celso Trentin, a cidade está esperando ajuda, como repasse de materiais de construção, já que 30% das casas do município tiveram algum tipo de avaria. O temporal provocou estragos na cobertura da Santa Casa de Misericórdia de General Carneiro. Cirurgias foram canceladas ou transferidas para hospitais de União da Vitória e Curitiba. A unidade local, administrada pela prefeitura, realiza 30 operações de pequeno e médio porte por mês e nos próximos 15 dias o centro cirúrgico ficará fechado para reformas. A sala está com infiltrações e goteiras.
O sistema de tubulação de oxigênio também ficou comprometido e foi necessário, em regime de urgência, comprar cilindros individuais para os pacientes que dependiam do gás.
Afetados
O levantamento mais recente da Defesa Civil paranaense, atualizado até a tarde de ontem, indica que 15.984 pessoas foram afetadas pelos temporais, que deixaram 3.339 imóveis com avarias, 103 pessoas em abrigos públicos e 2.037 na casa de parentes e amigos. As prefeituras têm até segunda-feira para avaliar os danos e apontar se será o caso de decretar situação de emergência.
O tempo permanece chuvoso no estado até amanhã, segundo o Instituto Tecnológico Simepar. O meteorologista Fernando Mendes explica que não há previsão de chuvas torrenciais ou vendavais nos próximos dias, mas o tempo continuará instável, tanto no Paraná quanto nos demais estados da região Sul, principalmente nas áreas de divisa com a Argentina. Amanhã, Curitiba e região metropolitana devem registrar chuvas fortes.
Curitiba
Para os moradores de Curitiba e região, a hora é de reconstrução. A família Silva, moradora da Travessa 33, no bairro Santa Quitéria, ainda se recupera do saldo das chuvas. Na tarde de anteontem, viu da janela do quarto a vazão do Rio Barigui levando do pequeno barraco, construído com doações, o pouco que tinha. Papeleiro, Joacir da Silva, 38 anos, se alegrou com a solidariedade dos vizinhos. Sem comida e sem roupas, a mulher e os três filhos receberam doações de roupas e cesta básica. Até convite para jantar eles ganharam.
Caprichosa, Solange, 26 anos, já tinha deixado a casa limpa, livre do barro e do mau-cheiro. Para isso o casal ficou até a meia-noite arrumando tudo como podia. A doação de um sofá e colchões para as crianças dormirem ajudou na acomodação de todos. Porém, o medo de que a casa caia continua. O piso e o teto estão cedendo e o banheiro do lado de fora a chuva levou em parte. "Tivemos que voltar para casa porque não temos para onde ir. Estamos por conta própria".
Almirante Tamandaré
Em Almirante Tamandaré, outra família, também de sobrenome Silva, arrumava o estrago que a queda de um barranco causou em sua casa. Isabel Maria da Silva, 38 anos, olhava a terra que caía do morro e ajudou a entupir o encanamento. Ela conta que o vizinho de cima precisou destruir uma peça da casa por medo de desabamento sobre a casa dela. A poucos metros dali, um muro caiu parcialmente sobre a residência de um casal. Para a vizinha Erondina de Castro, 56 anos, a enxurrada da água causou muito medo. "Minha casa está comprometida com a queda do muro". Na casa moram cinco pessoas.