Ponta Grossa A queda-de-braço entre hospitais psiquiátricos e governo estadual pode fazer pelo menos quatro hospitais do interior não aceitarem novas internações a partir de amanhã. Dois hospitais psiquiátricos de Londrina, um de Maringá e outro de Jandaia do Sul, no Norte, não concordaram com os termos da complementação proposta pelo governo estadual às diárias pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os hospitais pedem que o valor chegue a R$ 50, enquanto o governo aceita o aumento desde que os hospitais abram leitos a adolescentes. Os dirigentes reforçaram que se a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) não apresentar outra proposta, cerca de 700 das 1,7 mil vagas de internação do interior deixarão de existir. Atualmente o SUS paga aos hospitais psiquiátricos R$ 28,54 pela diária de internação de um paciente adulto.
A Sesa informou que os hospitais só receberão o aumento se firmarem contrato se comprometendo a criar leitos para adolescentes. Os hospitais que aceitarem esse termo poderão receber diária de R$ 54. "É uma chantagem o que estão fazendo com a gente. Como você vai investir mais em um negócio que você já subsidia", questiona a diretora de Psiquiatria da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (Fehospar), Maria Emília Parisoto de Mendonça. Apenas o Hospital Filadélfia, de Marechal Cândido Rondon, aceitou os termos da proposta. Pelo contrato, o hospital se comprometeu a ofertar 40 leitos para adolescentes com transtornos mentais e em contrapartida receberá R$ 54 pelas diárias hospitalares.
O pedido de ajuda à Sesa foi reiterado dia 28 de agosto na comissão de saúde pública da Assembléia Legislativa, quando foi definido o prazo de 30 dias para que o governo estadual apresentasse uma proposta. "Ainda estamos aguardando os gestores da Secretaria de Saúde. Se não houver outra resposta até o dia 29, vamos parar", afirma Maria Emília.
Os hospitais psiquiátricos alegam que estão pagando para atender, já que acumulam dívidas há seis anos. Segundo Maria Emília, a capacidade de endividamento chegou ao limite, obrigando os hospitais à atitude extrema de interromper internações do SUS. Nos últimos cinco anos, já desapareceram outros 1,7 mil leitos no interior. A diminuição faz parte da reforma psiquiátrica estabelecida pelo governo federal. O atendimento deveria migrar para os Centros de Atenção Psicossociais (Caps) e para leitos de hospitais gerais. Porém, dos 399 municípios do Paraná, apenas 72 possuem Caps e ainda existe muita resistência dos hospitais gerais na aceitação de pacientes com transtornos mentais.