Começou a funcionar nesta terça-feira (2) no campo de futebol do II Comando da Aeronáutica (II Comar), em Boa Viagem, no Recife, um hospital de campanha da Aeronáutica para atender a casos de baixa complexidade e prestar serviços ambulatoriais. Implantado por determinação do Ministério da Defesa, a pedido do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o objetivo do hospital provisório é desafogar as emergências das unidades de saúde do Recife e da Região Metropolitana, em crise diante de movimento demissionário de médicos plantonistas.
O hospital de campanha funciona em 12 tendas, com 50 profissionais - entre médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem da Marinha, da Aeronáutica e do Exército. Os casos - de pediatria, ortopedia, ginecologia e clínica médica - são atendidos depois de uma triagem realizada em frente ao aeroporto dos Guararapes, próximo ao II Comar. Os que passam na triagem vão de ônibus ao hospital de campanha e retornam na mesma condução depois de atendidos e medicados - quando há disponibilidade da medicação indicada.
A orientação da Aeronáutica é de manter o hospital em funcionamento por tempo indeterminado. Até às 15h30 desta terça-feira (2), 153 pessoas haviam sido atendidas, a grande maioria com problemas ortopédicos.
O tempo de permanência do hospital de campanha vai depender do rumo das negociações entre a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco e os médicos demissionários - 242, segundo a Secretaria e cerca de 400, segundo o sindicato da categoria. A maioria, nas áreas de cirurgia geral e clínica médica.
IMPASSE
A proposta do governo apresentada na segunda (1), de aumento de 24% para os plantonistas (os vencimentos subiriam para R$ 3,6 mil) e de 21% para os diaristas (que chegariam a R$ 2,3 mil), não foi aceita pela categoria. Eles querem isonomia salarial dos plantonistas com os neurocirurgiões, os quais, desde o ano passado, tiveram seus salários elevados para R$ 5,7 mil. Para os diaristas, reivindicam um salário de R$ 3,4 mil. As negociações, que haviam sido paralisadas, voltaram a ocorrer a partir de solicitação do Ministério Público Estadual (MPE), com o apoio da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) e da seccional pernambucana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE)
Uma assembléia de médicos a ser realizada na noite de hoje (2) definiria, de acordo com a assessoria da Secretaria Estadual de Saúde, os rumos da crise: caso eles aceitem a proposta do governo, tudo volta ao normal e o hospital de campanha poderá ser rapidamente desativado. Caso contrário, os médicos demissionários devem começar a deixar seus postos a partir desta sexta-feira (5) e o hospital de campanha deverá permanecer por tempo indeterminado no Recife. O Estado já iniciou o processo para contratação de 242 médicos.
O vice-presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco, Silvio Rodrigues, destacou também a insuficiência no número de profissionais no serviço público pernambucano. Segundo ele, essa foi a razão do fechamento, nos últimos três meses, da UTI pediátrica do hospital Osvaldo Cruz, do setor de pediatria do hospital Barros Lima e da clínica médica do hospital Otávio de Freitas - todos no Recife -, além da maternidade Jesus Nazareno, em Caruaru, no agreste pernambucano.
O sindicato também não concorda com a decisão anunciada pelo governo do Estado de implantar fundações públicas de direito privado para administrar os hospitais, que continuariam sendo públicos. "A estrutura do serviço público de Pernambuco é muito boa, em todas as suas regionais", afirmou Rodrigues. "O que se precisa é melhorar a estrutura já existente".
O hospital de campanha da Aeronáutica chegou na capital pernambucana domingo (31), vindo do Oiapoque, onde atendia a comunidades indígenas, de acordo com o seu coordenador, coronel Gilberto Teixeira. Antes, esteve em Belo Horizonte, para ação social no término de um curso de médicos das Forças Armadas e, anteriormente, passou dois meses e meio no Rio de Janeiro, quando atendeu a 13,2 mil pacientes durante surto de dengue no Estado.
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