O Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná só tem estoque de Glivec, um remédio importante para o tratamento da leucemia, para os próximos três dias. A direção da instituição diz que, se não conseguir uma autorização do Ministério da Saúde até a próxima quinta-feira para realizar uma nova compra do medicamento, terá de interromper o fornecimento para 117 pacientes. O diretor-geral do HC, Giovani Loddo, vai hoje a Brasília para negociar uma saída para o impasse.
O problema com o Glivec começou há dois anos, quando a Novartis, fabricante do produto, aumentou o preço do remédio e o Ministério da Saúde continuou repassando o valor antigo, sem reajuste. Segundo Giovani Loddo, isso vem causando um rombo de R$ 56 mil por mês aos cofres do hospital. "Agora, o laboratório anunciou mais um reajuste, de 3,64%, e não temos como continuar com esse buraco", diz Loddo.
O diretor explica que, dentro das atuais circunstâncias, não poderia continuar comprando o medicamento mesmo que quisesse. "O contrato para fornecimento acabou neste mês e sem ter uma garantia do governo federal sobre o pagamento estou legalmente impedido de fazer uma renovação", explica ele.
O Ministério da Saúde, por sua vez, diz que está negociando com o laboratório. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, o laboratório não negociou o novo preço com o governo e nem mesmo informou sobre o valor que passaria a ser cobrado. Por isso, agora a idéia é tentar um acordo que viabilize a manutenção do tratamento.
O Hospital de Clínicas trabalha com o Glivec há seis anos, desde que o produto ainda estava em fase de testes. Atualmente, 117 pessoas recebem tratamento com o remédio no hospital. Além de ser importante no tratamento da leucemia mielóide crônica, o medicamento também vem sendo usado no combate a tumores sólidos. Em Curitiba, além do HC, apenas o Erasto Gaertner fornece o produto e o hospital também vem encontrando o mesmo tipo de dificuldade para atender os seus 24 pacientes.
Desde março deste ano, o HC não vem mais aceitando qualquer paciente novo que dependa do Glivec. "Normalmente, recebemos três pacientes novos a cada mês. Mas, se continuássemos aceitando mais pessoas, a dívida certamente passaria de R$ 1 milhão por ano", diz Loddo, lembrando que por lei os hospitais públicos são impedidos de gastar mais do que têm de receita.
O Glivec não é o único caso em que o hospital é obrigado a gastar mais do que recebe do governo federal. As gestações de alto risco também trazem um rombo de R$ 50 mil ao ano para o HC e as UTIs, mais R$ 1,7 milhão anuais. O serviço de urgência e emergência custa sozinho R$ 3 milhões por ano a mais do que o hospital recebe. "Atualmente, nossos gastos ultrapassam a receita em R$ 8 milhões por ano. Isso é igual a 10% do nosso orçamento", afirma Loddo.