Sala de atendimento do Hospital Evangélico: sistema hospitalar de emergência está no limite| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Investimento

Estado repassa R$ 20,2 milhões para melhorar o sistema

O governo do estado vai repassar R$ 20,2 milhões para Curitiba ampliar sua rede de unidades de saúde e custear os oito Centros Municipais de Urgências Médicas (CMUM). A expectativa é de que a melhoria no sistema de atendimento básico surta efeito em toda a rede de urgência e emergência.

Parte do dinheiro, R$ 6,2 milhões, será usada para a construção de três novas unidades básicas de saúde – Campo Alegre, Coqueiros e Jardim Aliança – e a reforma das unidades Sabará e Xaxim. Outros R$ 14 milhões, divididos em sete parcelas, serão usados para o custeio dos oito CMUMs da capital, que atendem em média 100 mil pacientes por mês.

Segundo o assessor especial de gestão da prefeitura de Curitiba, Matheos Chomatas, o município vai construir dois novos CMUMs. Uma unidade, que está em fase de licitação, será implantada no Tatuquara, próximo à Rua da Cidadania. A obra deve ser concluída em um ano e meio. Outro objetivo da prefeitura é construir um centro de urgência na região central da capital.

Outras medidas que já estão­­ sen­­do tomadas, como a implantação de equipamentos­­ de raio X nos centros de urgên­­cia, também podem refletir­­ positivamente no atendimento­­ hos­­pitalar. "Ter uma estrutura­­ melhor para as unidades 24 horas, para que só casos comple­­xos sejam encaminhados aos hos­­pitais, vai ajudar bastante.­­ A medida emergencial, que­ não­­ depende da constru­­ção de­­ hospitais, é organizar a­­ en­­tra­­da­­ do paciente para o pron­­to-­­­socorro", diz o coordenador da Câ­­ma­­ra Técnica de Urgência e Emer­­gência do Conselho Regional de­­ Medicina do Paraná (CRM-PR), Gustavo Jus­­to Schulz. (FT)

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Artigo

Melhora passa pela valorização dos médicos

Curitiba tem um dos melhores sistemas de urgência e emergência do Brasil. A cidade apresenta os serviços móveis pré-hospitalares, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate), gerenciando a estrutura por contato telefônico.

A capital ainda contra com oito unidades de média complexidade, distribuídas em toda a cidade. São esses Centros Municipais de Urgência e Emergência que levam aos hospitais de referência. O protocolo de Manchester, para acolhimento dos pacientes, prioriza os atendimentos aplicados pela enfermagem.

Os hospitais de referência recebem os pacientes já previamente atendidos e com gerenciamento do gestor municipal. Atualmente, e eventualmente, os hospitais atendem pessoas doentes que chegam ali direto. No Hospital de Clínicas, há casos de médicos fazendo classificação de risco. Se caracterizado risco de vida imediato, o atendimento é priorizado. Caso contrário, as pessoas são encaminhadas às unidades de média complexidade.

Há necessidade de valorização desses profissionais com plano de cargos e salários condizentes com suas atividades, pois hoje são mal pagos. Também é preciso que deem continuidade à formação médica. Esta é a área na qual a formação do profissional é mais exigida, pois ou o médico tem atitude, conhecimento e condições para definir procedimentos, ou o estado dos pacientes se agrava. Por isso é extremamente importante capacitar, criar vínculo de continuidade e remunerar bem o profissional nesses serviços, um dos mais estressantes na saúde.

Eduardo Lourenço, especialista em Clínica Médica e Cardiologia, com atuação em Medicina de Urgência e Emergência.

O sistema de atendimento de urgência e emergência de Curitiba, que hoje funciona no limite, só deve ter um aumento expressivo de capacidade em 2015, quando a prefeitura pretende colocar em funcionamento um hospital na região norte da capital. A nova unidade terá 250 leitos, um pronto-socorro amplo capacitado para atender acidente vascular cerebral (AVC), enfarte e ortopedia, casos que ainda têm uma demanda reprimida no estado.

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Hoje, o atendimento hos­­­pi­­talar de urgência e emergência de Curitiba feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é concentrado em três unidades: Cajuru, Evan­­gélico e Trabalhador, esse último, responsável por cerca de 60% dos casos de trauma. Eles recebem pacientes da capital e da região metropolitana e é comum, nos dias mais sobrecarregados, as ambulâncias terem de esperar pela abertura de uma vaga ou serem conduzidas de uma unidade para outra. O hospital a ser instalado na região norte aumentará em pouco mais de 30% a capacidade dessa rede, que tem hoje 805 leitos.

"O que me preocupa é que, pela capacidade que esses hospitais têm, a situação está delicada. Se a gente tiver uma calamidade, esse sistema tende a entrar em colapso", diz o diretor técnico e do setor de emergência do Hospital Universitário Evangélico, Luiz Felipe Mendes. Segundo ele, a construção de um novo hospital é uma solução a longo prazo para um problema que já é grave, apesar de Curitiba ter uma rede bem montada, que evita a ida de pacientes de menor risco às salas de emergência dos hospitais.

De acordo com o assessor especial de gestão da prefeitura de Curitiba, Matheos Chomatas, a administração municipal ainda está buscando um terreno para construir o hospital, o que deve ser definido até julho. As obras devem ter recursos dos governos estadual e municipal, que também buscam outras fontes e negociam com o Ministério da Saúde. Não há uma previsão de custo porque o projeto da construção não foi definido, mas a preferência é por um hospital horizontal. A previsão máxima é de que em 40 meses a unidade entre em operação.

A construção de um novo hospital também deve ajudar a desafogar o que os especialistas chamam de leitos de retaguarda, como os disponíveis nas unidades 24 horas, que funcionam como substitutos para os hospitais. "Eles são usados como leitos de Unidades de Terapia Intensiva, mas nem sempre essa é a solução mais adequada", diz o médico Eduardo Ferreira Lourenço, chefe do setor de emergência do Hospital de Clínicas (HC) da UFPR.

Fragilidade

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O investimento na ampliação da estrutura hospitalar de emergência pode evitar casos como o do músico Emerson Antoniacomi, de 40 anos, que morreu em maio depois de esperar 35 horas no Centro Mu­­nicipal de Urgências Médicas (CMUM) do Boa Vis­­ta por um leito de UTI após ter sofrido um acidente vascular cerebral. Em outro caso ocorrido em maio, a quebra do tomógrafo do Hospital Evangélico fez com que pacientes em estado grave tivessem de ser levados para outros hospitais.

"Se qualquer um desses hospitais saísse da rede de urgência e emergên­­cia seria complicado. Quando um pronto-socorro está cheio, sabemos que os dos outros dois hospitais vão ficar lotados", analisa Gustavo Justo Schulz, coordenador da Câmara Técnica de Urgência e Emergência do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), e que também atende no Hospital do Trabalhador.

Falta de unidades de referência na RMC prejudica atendimento

Uma das razões apontadas para o gargalo no atendimento de urgência e emergência na capital é o grande volume de pacientes vindos de cidades da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). A Secretaria Municipal de Saúde da capital faz a gestão da Central de Leitos, que identifica e reserva vagas para internamento de pacientes em situação de risco em estabelecimentos vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

"O sistema de Curitiba é bom, mas é frágil por arcar com a região metropolitana. Há cidades que não têm a mínima condição de atendimento", argumenta o diretor técnico e do setor emergência do Hospital Universitário Evangélico, Luiz Felipe Mendes.

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Falta de leitos

Uma estimativa do assessor especial de gestão da prefeitura de Curitiba, Matheos Chomatas, indica que pelo menos 900 mil moradores da RMC estariam desassistidos pela falta de leitos adequados em seus municípios. "Claramente temos um problema de leitos na região metropolitana, o que sobrecarrega o sistema. Mas não há como separar o atendimento", explica.

Na RMC, muitas cidades não contam com estrutura adequada. Há casos como o de Colombo, que recentemente teve sua Santa Casa fechada por falta de condições de atendimento, ou Almirante Tamandaré, que não tem hospital. Há também cidades que possuem estrutura, mas ainda não oferecem todos os protocolos possíveis de atendimento, como ocorre em São José dos Pinhais, que não presta atendimento para casos de AVC e enfarte, por exemplo.

A construção de bons hospitais da região metropolitana seria um complemento necessário ao investimento feito em Curitiba. Um exemplo de que isso é possível é o do Hospital Nossa Senhora do Rocio, em Campo Largo, que vai construir uma nova unidade, com capacidade de 600 leitos, se tornando o maior hospital da região metropolitana. O Hospital São Lucas, na mesma cidade, está ampliando em 20 unidades o número de leitos de UTI. "Com essa oferta, podemos comprar o atendimento nesses hospitais", diz Chomatas.

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