Grupos locais| Foto: Divulgação

Proibido no estado desde dezembro de 2006, o corte da bracatinga, espécie nativa comum na região metropolitana de Curitiba (RMC), foi liberado neste mês pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). A Portaria 108, emitida no último dia 13, autoriza o corte, desde que seja seguido do manejo florestal. Na prática, a área tem de ser regenerada e não pode se transformar em outro plantio. A medida, comemorada por empresários que utilizam a lenha, deixou ambientalistas apreensivos.

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Segundo o IAP, se a proibição fosse mantida, ela causaria forte impacto econômico na RMC. "Os produtores estavam em situação de desespero. Muita gente vive da bracatinga, que abastece fornos da RMC. Se proibíssemos, teríamos impacto ambiental em outros setores", diz o presidente do IAP, Vítor Hugo Burko. Na opinião dele, a nova legislação "equilibrou a visão ambiental com a humana".

A bracatinga é considerada uma boa espécie para a recuperação de áreas degradadas, como as submetidas à extração de bauxita. Por tratar-se de espécie nativa, a ambientalista e jornalista Teresa Urban analisa a autorização ao manejo com cautela. "A portaria tem de assegurar o manejo adequado. O Paraná inteiro virou um deserto de florestas na falta deste manejo", afirma.

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O maior aproveitamento econômico da bracatinga, encontrada em matas de pinhais, é como lenha. O presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal, Roberto Gava, já vislumbra outros usos. Um deles é a produção de móveis da madeira, considerada resistente e de boa aparência. "Algumas empresas também estão começando a disponibilizar no Paraná fábricas de briquetes, peças geralmente redondas feitas de madeira comprimida, para serem exportadas e servirem de combustível", completa.

Em 1949, o empresário João Batista Corrêa começou a usar a bracatinga como lenha para a fabricação de cal. Durante o período que o corte foi proibido, estimulou no estado o aproveitamento de serragem. Apesar de hoje não mais utilizar a bracatinga, ele é a favor da alteração do IAP. "Não há razão para preservar totalmente a bracatinga. O certo é permitir que você faça o manejo", conclui.

O corte da bracatinga foi suspenso temporariamente pelo IAP por causa da Lei da Mata Atlântica, aprovada no Congresso em novembro de 2006, após 14 anos de tramitação. A representante da Rede de ONGs da Mata Atlântica, Miriam Prochnow, considera precipitada a liberação do manejo. "Em tese, o que o governo do estado está fazendo tem a ver com o que diz a lei, mas é uma atitude precipitada. A lei não foi regulamentada e é possível que algumas coisas mudem", afirma.

A medida do IAP também causa polêmica na sua aplicação. O engenheiro florestal Rodnei Marchesi cita a espera que existe para os técnicos irem vistoriar as áreas. "Se a demora continuar grande para liberar o corte, o bracatingal seca. Ele tem vida útil curta e a mata nativa se sobrepõe. Nesse caso, não se tem bracatingal, mas mata nativa, e o corte não é liberado", diz. O presidente do IAP responde que o órgão tem dificuldades operacionais, mas que "permitir o corte sem vistoria seria uma irresponsabilidade total".