As cidades brasileiras de porte médio, localizadas ao longo de rodovias, ganharam mais habitantes na última década do que as capitais de nove regiões metropolitanas, que anteriormente puxavam o avanço populacional. A afirmação foi divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir do cruzamento dos porcentuais de crescimento da população dos municípios brasileiros de 2000 a 2010 com informações sobre a variação de renda no mesmo período.
A comparação desses números com os de variação da renda domiciliar per capita também permite verificar uma forte correlação entre o aumento nos rendimentos e no número de habitantes nos últimos dez anos. Com exceções, prefeituras com mais ganhos médios ganharam mais moradores. Turbinados por "atividades econômicas complexas, que articulam atividades agrícola e industrial diversificadas", segundo a pesquisa, esses eixos de crescimento populacional de destacam na pesquisa "Reflexões sobre os Deslocamentos Populacionais no Brasil", divulgada nesta sexta pelo IBGE.
Um ponto de forte concentração é denominado "megaespaço de São Paulo", com a aglomeração principal em torno da capital paulista e outras cinco aglomerações menores, orbitando Campinas, Jundiaí, Sorocaba, Santos e São José dos Campos, em um raio de 150 quilômetros em torno da metrópole. São Paulo e Rio de Janeiro, as duas maiores cidades brasileiras, formam, ao longo da BR-116, outra importante linha de expansão da população, onde também têm destaque as aglomerações formadas em torno de São José dos Campos e de Volta Redonda/Barra Mansa (sul fluminense).
"Ainda em São Paulo, verifica-se um eixo de crescimento ao longo da BR-101, onde municípios formam a aglomeração Santista, alcançam a Costa Verde no Rio de Janeiro, englobam a metrópole carioca e os municípios da Região dos Lagos até Macaé (RJ)", aponta o texto, feito com base em dados do Censo 2010.
O IBGE identificou ainda outros eixos - e também núcleos - de forte crescimento populacional no Brasil. Foi o caso de municípios das aglomerações urbanas que orbitam capitais e cidades grandes e médias ao longo da BR-101 do Espírito Santo ao Maranhão. São cidades como Camaçari (BA), Barra dos Coqueiros (SE), Ilha de Itamaracá (PE), Cabedelo (PB), Parnamirim (RN), na zona de influência de capitais tradicionais como Vitória, Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Natal, Fortaleza e São Luís.
Na Região Sul, a BR-116 também organiza um eixo a partir da aglomeração urbana de Porto Alegre, com destaque para Novo Hamburgo, São Leopoldo e Caxias do Sul. "As capitais perderam atratividade", constata um dos organizadores do trabalho, Antônio Tadeu de Oliveira. "O custo de vida é mais alto, tem violência."
Renda
A forte correlação entre o aumento dos rendimentos e o de população surge da comparação dos dois fatores em relação a uma amostragem das cidades que formam alguns dos eixos apontados pelo IBGE, feita pelo jornal O Estado de S. Paulo. Em 58 de 62 cidades examinadas houve aumento de população, e em apenas uma houve queda de renda de 2000 a 2010. Constata-se também que 62 29% dos municípios (38 em 62) tiveram aumento populacional acima da expansão da população brasileira, de 12,48% de 2000 a 2010. São os mesmos números e porcentual de cidades que tiveram aumento de renda domiciliar per capita acima da nacional (de 14 27%), nos mesmos anos, embora os municípios não sejam totalmente os mesmos.
Há casos, por exemplo, como o de Macaé (RJ), onde se concentram atividades de exploração de petróleo da Bacia de Campos, que teve aumento real de rendimentos de 21,56% e ganhou 57,14% a mais de habitantes, e o de Caruaru (PE), que expandiu sua população em 24,31% para 19% de crescimento de renda. O fenômeno chegou a extremos em locais como Ilha de Itamaracá (PE), com 38 03% a mais de moradores e mais 159,48% de renda no período, e o de Rio das Ostras, que expandiu sua população em 187,40% e sua renda domiciliar per capita em 33,78% além da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
A regra teve exceções, como Foz do Iguaçu, no Paraná (menos 0 89% de habitantes, para 11,19% mais de renda), Ilhéus , na Bahia (menos 17% de habitantes e mais 49,55% de rendimentos), Lages, em Santa Catarina (menos 0,15% e mais 13,72%, respectivamente) e Uruguaiana, no Rio Grande do Sul (menos 0,96% e mais 9,4%).
"É preciso olhar o tipo de atividade econômica", disse Oliveira. "Pode não ser intensiva em mão de obra, usar muita tecnologia de ponta, criar riqueza, mas gerar pouco emprego.". Ele atribuiu o fenômeno de crescimento nos eixos às mudanças na economia, com a globalização econômica, precarização das relações de trabalho e outros movimentos. "A própria mão de obra muda no período. E nas duas pontas. Embaixo, há mais rotatividade. Na parte de cima, profissionais altamente qualificados não têm emprego, dão consultoria."
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