Quem ama, educa. Mas com disciplina e rigor. Essa era a essência do pensamento do psiquiatra e escritor Içami Tiba, que morreu no domingo (2) em São Paulo aos 74 anos. Em seus textos, palestras e entrevistas não poupava o que considerava falhas de pais e professores, mas foi justamente nas famílias e nas escolas que encontrou grande receptividade. Escreveu 30 livros que venderam 4 milhões de cópias, e tinha planos de continuar trabalhando.
Tiba era crítico ao sistema educacional brasileiro. A trajetória escolar, agora obrigatória a partir dos 4 anos, é muito longa para a pouca qualidade ofertada nas instituições públicas, disse ele em entrevista à Gazeta do Povo em março de 2014. Mas também defendia os professores da sobrecarga de educar os alunos. Para o educador, a família é a principal responsável por passar valores às crianças. “Quem tem valores sólidos dentro de si é capaz de olhar para uma situação sem ser envolvido por ela, e pode analisá-la e criticá-la.”
Conhecimento
Com as novas tecnologias, o papel do professor passa a ser o de conduzir o aluno pelo mundo do conhecimento. Para Tiba, o aluno precisa aprender a pesquisar. “O conhecimento está no ar. Na capacidade de a pessoa conectar-se com quem sabe. E hoje isso é a internet. O professor não precisa saber tudo. Precisa saber liderar e coordenar projetos, conduzir o aluno na busca”, disse, em entrevista ao programa Provocações, da TV Cultura, há um ano.
Considerado como um “domador” de adolescentes, Tiba disse que preferia ser visto como defensor dos jovens. “Dei existência científica aos adolescentes. Os primeiros livros quem escreveu fui eu. A psicologia começou a estudar adolescentes a partir desses textos.” E de fato ele foi muito reconhecido nesse campo. Em 2004, uma pesquisa realizada pelo Ibope para o Conselho Federal de Psicologia mostrou que o nome de Içami Tiba estava entre os mais admirados pelos psicólogos. Em uma pergunta espontânea, ele ficou em terceiro lugar, atrás de cânones como Freud e Jung.
Tiba, nascido no interior paulista (Tapiraí), se formou em Medicina pela USP em 1968 e fez residência em psiquiatria no Hospital de Clínicas de São Paulo. Desde o início do ano fazia tratamento contra o câncer, mas a causa de sua morte ainda não foi divulgada.