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MOBILIDADE URBANA

‘Ida e volta’ infla ciclovias de Curitiba

Nas ciclovias da capital, falta de sinalização em cruzamentos com vias de tráfego dificulta negociação entre diferentes veículos e põe ciclistas em risco | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Nas ciclovias da capital, falta de sinalização em cruzamentos com vias de tráfego dificulta negociação entre diferentes veículos e põe ciclistas em risco (Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo)

Para cumprir a promessa de entregar 300 quilômetros de novas vias cicláveis, a gestão Gustavo Fruet (PDT) está considerando os trajetos de ida e volta na maior parte dos projetos já concluídos. Isso quer dizer que, em um trecho de 10 quilômetros de distância, são considerados 20 quilômetros de ciclovia. Essa métrica não é usada em cidades como São Paulo, que vem implantando grades trechos de ciclovia na atual administração.

A prefeitura de Curitiba diz ter entregado 67,4 quilômetros de novas vias dedicadas ao ciclistas desde 2012. Mas sete dos oito maiores projetos consideram o trajeto ida e volta. São 55 quilômetros de ciclovias, ciclorrotas e ciclofaixas que, na verdade, representam um trecho de 27 quilômetros de vias da cidade com espaço exclusivo para a bicicleta.

O município defende a metodologia alegando que cada lado da via é um projeto separado, com orçamento próprio. Na prática, quem circula pelos locais não nota a diferença, pois cada lado serve a um sentido.

A reportagem questionou a prefeitura de São Paulo sobre como essa conta é feita por lá. A métrica das ciclovias entregues pela gestão Fernando Haddad é linear, Um trecho de 10 quilômetros com canteiro central é computado como 10 quilômetros de ciclovia, mesmo que haja faixas dos dois lados da pista.

Fruet também tem em seu plano de governo a promessa de maximizar o uso da bicicleta. Até o momento, porém, as semelhanças ficaram na proposta. A capital paulista já teve sua malha cicloviária triplicada – passando de 63 para 182 quilômetros e, mesmo entre detratores, a "explosão" das faixas vermelhas virou assunto por lá.

Os recursos aplicados nas duas cidades também endossam as diferenças. São Paulo irá investir R$ 80 milhões do seu orçamento no setor. Já em Curitiba, relatório da prefeitura mostra que foram investidos apenas R$ 209 mil nessa rubrica em 2013. O orçamento deste ano prevê R$ 3 milhões no setor, mas a aplicação ainda não está descrita no Portal da Transparência.

Mais do que o total de vias entregues, a política para incentivar novos ciclistas na capital paranaense também não deslanchou. A despeito da falta de dados gerais, uma pesquisa da própria prefeitura mostrou crescimento de apenas 8% no total de ciclistas que circulavam pela Avenida Sete de Setembro de 2008 para 2013. Já São Paulo, segundo pesquisa do Ibope de setembro, ganhou 81 mil ciclistas frequentes em 2014 – crescimento de 50% em um ano.

Usuário da rede cicloviária da cidade, o doutorando em gestão urbana da PUCPR, Rafael Milani Medeiros, critica a política cicloviária de Curitiba. "Em quase quatro décadas, fizemos 120 quilômetros de vias que, a rigor, não resultaram em um expressivo número de ciclistas. Não basta técnica para projetar ciclovias e ampliar a malha. É preciso compromisso político."

Opinião

Ciclovias têm apenas um sentido de cada lado da pista

A reportagem visitou os sete projetos cuja métrica 'ida e volta' é adotada pela prefeitura de Curitiba e constatou que a maioria deles realmente tem ciclovia dos dois lados da via. Em todos, porém, cada lado serve a um sentido de tráfego, apenas. Ou seja, é como se fossem duas faixas de rolamento para bicicletas separadas por um grande canteiro central.

A ciclovia da Rua Eduardo Pinto da Rocha, na Vila Osternack, não segue essa lógica. O trecho de cerca de cinco quilômetros está apenas de um lado da rua, sem grande variação de largura. Mesmo assim, a gestão municipal considera que esse projeto tem 11 quilômetros de extensão. E além de mais curto, ele também tem problemas técnicos. No trecho do centro comercial da Vila Osternack, onde a "ciclovia" é compartilhada, não há qualquer demarcação que separe pedestres de ciclistas. Trata-se de um trecho de calçada, com demarcação de ciclovia apenas nos cruzamentos.

Bike-repórter

A reportagem da Gazeta do Povo percorreu os trechos de ciclovia que ligam o Passeio Público ao Parque São Lourenço e a Avenida Garibaldi ao Viaduto do Capanema. Veja as situações encontradas nessa viagem.

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