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Entrevista

“Ideia é promover uma recuperação de valores”

Organizador do livro Cultura da Paz: Educação do novo tempo, Marcelo Pellizoli, 43 anos, começou a estudar o assunto há sete anos. Coordenador de um grupo de pesquisas em Cultura da Paz e professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ele prepara, para o próximo ano, o quarto livro sobre o tema. "A cultura de paz não é uma área específica. É uma ideia disseminadora de que vamos recuperar os valores humanos que já existem", explica. Ele conversou com a reportagem por telefone e falou sobre a importância de disseminar essa cultura, que, segundo ele, é fundamental para reverter o quadro de violência que o país vive.

Qual a importância de desenvolver a cultura da paz?

O tema é fundamental porque vai pensar a essência de toda atividade humana. Qual é a essência das relações? O bem viver, grandes ideais éticos, como justiça, autonomia, democracia, participação e liberdade. A gente vive num sistema que deixou tudo isso em segundo plano. A dimensão do mercado, do mundo econômico e técnico e o egoísmo acabaram na degradação dos valores em todas as áreas. Especificamente sobre a violência temos uma cultura do medo, muito defensiva. A cultura de paz é uma grande tomada de consciência em relação a tudo isso que está acontecendo.

Como essa tomada de consciência pode reverter o quadro atual de violência?

A cultura de paz não é uma área específica. Ela é uma ideia disseminadora de que vamos recuperar os valores humanos que já existem. Ninguém vai inventar a solidariedade. A cultura da paz resgata o que chamamos de tecnologias sociais, que a comunidade já tem, ou seja, a família, os grupos, a igreja, as associações. Eles são fundamentais nessa ideia porque resgatam uma forma de viver que contempla essas dimensões de fraternidade e igualdade.

Como a população pode ajudar a desenvolver essa cultura?

O que tem de ser passado às pessoas e à mídia é que, quando se fala em paz, há a ideia de combater a violência no sentido policialesco. Mas as pessoas podem ser pacificadoras de uma forma natural, cultivando valores éticos. Já existem várias tecnologias sociais que estão dentro das comunidades que favorecem isso como, por exemplo, a terapia comunitária. Foi criada no Ceará e adotada em vários lugares do Brasil. Essa terapia dá poder às pessoas e, ao mesmo tempo, não é algo simples. Os problemas da comunidade vêm à tona nesse circulo de diálogo, de conscientização.

Falta o desenvolvimento da cultura de paz nas escolas no país?

Percebeu-se que nas escolas não adianta só ensinar um conteúdo racional de ética. É muito mais que isso. É toda ideia de uma cultura que envolve aspectos lúdicos, de diálogo. Por isso, uma das áreas que tem mais crescido hoje é a mediação de conflitos na área educacional. A educação não deve ser só conteúdo na cabeça, mas aquilo que Paulo Freire queria. Cada conteúdo pode ser ligado com a vida, gerando conscientização, de como a pessoa vive. Outro ponto é instaurar nas escolas modelos de mediação de conflito nas escolas, um centro de diálogo. Imple­men­­tar esse conceito de paz e ética dentro das escolas é o grande desafio.

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