Moradores do bairro Boa Vista protestam
As chuvas de sábado causaram protestos no Boa Vista, em Curitiba, um dos 18 bairros mais atingidos pelo temporal na capital paranaense. Devido aos prejuízos causados, os moradores das ruas Valdomiro Silveira e Vicente Geronasso montaram sete pontos de protestos, com queima de pneus e de móveis que haviam sido atingidos pelas águas. Os manifestantes reclamaram contra a inoperância do poder público na região.
Morador da Rua Santo Celestino Caputo, Fernando Laertes, 43 anos, e mais oito amigos passaram à tarde de ontem abrindo uma valeta. "Assim, a água consegue correr livremente para a rua", explicou.
A dona de casa Marilene Gonçalves, 52 anos, contou que, a partir das 16 horas de sábado, a chuva apertou e o córrego que atravessa o terreno começou a subir muito rapidamente. "Essa não é a primeira vez que sobe, mas não desse jeito." Há alguns meses, o córrego extravasou e, como proteção, Marilene calçou os lados do barranco com pedras. "O investimento de quase R$ 2 mil não deu conta de proteger. Subiu tudo, assim mesmo."
Segundo ela, a prefeitura já foi várias vezes até sua casa para avaliar e fotografar, mas a resposta dada é que nada pode ser feito porque o local é um fundo de vale. "Pago [Imposto Predial e Territorial Urbano] IPTU certinho e preciso me submeter a perder tudo cada vez que chove." No sábado, eles perderam comida, roupa e móveis.
Resgate
Os dois filhos de Ana Karen Braz, 29 anos, precisaram ser tirados pela janela para não se afogarem. Os meninos, de 9 e 5 anos, foram salvos pela prima que mora ao lado. "Não temos mais nada. A água é de poço e está suja." (AP e FL)
O temporal que atingiu Curitiba no sábado à tarde matou uma pessoa. O aposentado Romão Garcia, 83 anos, tentava voltar para casa atravessando a Rua Mateus Leme, próximo ao Parque São Lourenço, quando foi arrastado pela correnteza formada pelas águas do Rio Belém. O corpo dele foi sepultado ontem no Cemitério Santa Felicidade.
Sobrinha dele, Luzia Garcia, 63 anos, contou que o tio que morava com ela há mais de três anos tinha ido ao Centro passear como sempre fazia, e no retorno, por volta das 17 horas, foi surpreendido pelo alagamento. Mesmo alertado por moradores do local que seria perigoso atravessar a rua, porque a água estava muito alta, ele não deu ouvidos, relata Luzia. O investigador Anderson Luiz Magalhães Pinto, da Delegacia de Homicídios, que esteve no local, contou que uma das testemunhas ouvidas relatou detalhes do momento da queda. O idoso teria sido "sugado pela correnteza".
Um buraco na calçada perto do muro da Associação dos Servidores do Banco Central seria a responsável pelo turbilhão que levou Garcia, acredita Luzia. O corpo dele foi encontrado há 300 metros do local onde caiu. Segundo Luzia, o tio, mesmo com a idade, tinha o hábito de sair todos os dias. Era solteiro e aposentado do Fundo Rural.
Nascido em São Paulo, veio morar no Norte do Paraná quando criança. Em 1962, mudou-se para Curitiba. "Era uma pessoal calma e tranquila. Lavava sua roupinha e sempre mantinha seu quarto organizado."
Falta de luz
A chuva de sábado começou por volta das 15h20 e durou quase duas horas. O temporal causou estragos em 18 bairros de Curitiba e quatro municípios da região metropolitana. A Defesa Civil informou que atendeu 64 chamados. Foram sete ocorrências de destelhamentos, sete desabamentos, 12 quedas de árvores e 38 alagamentos. O Corpo de Bombeiros registrou 40 chamados, sendo 27 quedas de árvores e 13 alagamentos.
O último temporal não causou avarias na rede elétrica, mas dificultou os trabalhos da Copel para restabelecer a energia em bairros afetados pela chuva de sexta-feira. Segundo a Copel, a rede terminou de ser consertada por volta das 18 horas de ontem 49 horas após a ocorrência dos estragos. Ao todo, o fornecimento para 254 domicílios foi normalizado na tarde deste domingo. Trinta e um postes tiveram de ser trocados. Três substituições foram feitas na tarde de domingo. O temporal de sexta-feira resultou em 1,5 mil ocorrências à Copel. Aproximadamente 250 técnicos e eletricistas trabalharam para atender as ocorrências.
Segundo a Copel, além da chuva, o temporal de sexta-feira foi acompanhado de raios e ventos fortes e por isso houve avarias na cidade. A Copel informou que aproximadamente 24% dos domicílios de Curitiba ficaram algum momento sem energia elétrica. Das 700 mil unidades ligadas à rede, 167 mil foram atingidas. Já a chuva de sábado deixou alguns consumidores sem luz, mas foram problemas pontuais e essas situações foram resolvidas, segundo a Copel.
Segundo a meteorologista do Instituto Tecnológico Simepar Ana Beatriz Porto, o volume de chuva do sábado foi menor do que o de sexta-feira, que também assustou a população. A previsão é que as chuvas continuem nos próximos dias, mas sem a instabilidade dos dois últimos eventos.
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