
Brasil precisa de plano estratégico para cuidar dos mais velhos
O envelhecimento da população brasileira é um fato, mas os indicadores ainda não surtiram efeito para a elaboração de um plano estratégico para lidar com essa população. A presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia no Paraná, Débora Christina de Alcântara Lopes, lembra que os países desenvolvidos tiveram mais tempo para se preparar para o envelhecimento da população. Enquanto eles tiveram até um século, os países em desenvolvimento terão de encontrar soluções para um prazo de, no máximo, 30 anos. "A mudança não é só na saúde, mas da população que precisa aprender a ligar com essa população que envelhece e adoece", afirma.
Para ela, ainda é bastante deficitária a assistência médica para os idosos no Brasil, já que sempre se pensa nas doenças crônicas, mas não nas enfermidades relacionadas ao envelhecimento. Ela cita como problemas a pouca oferta de instituições para permanência dessas pessoas e o planejamento de como cuidar dos idosos no longo prazo.
Curitiba
No caso da mudança feita em Curitiba, Débora acredita que é preciso observar como será o comportamento dos pacientes daqui para frente. "Nem todo idoso precisa ser acompanhado por um especialista. Alguns podem ter o atendimento pelos clínicos e o geriatra fica apenas com os casos mais complexos, com múltiplas doenças", diz. Pessoas com mais de 80 anos e portadores de doenças crônicas exigem mais atenção e acompanhamento, não só de geriatras, mas de uma equipe multidisciplinar.
A população de idosos no Brasil deve triplicar até 2060, de acordo com uma projeção feita pelo IBGE. O aumento da expectativa de vida do brasileiro mostra que já estamos atrasados para elaborar um plano estratégico para lidar com esse público, principalmente no que tange a assistência médica. Em Curitiba, a proposta da rede municipal de saúde é descentralizar o atendimento aos idosos, com o fim do modelo de referência da Praça Ouvidor Pardinho, que passou a integrar a estratégia de saúde da família implantada em toda a rede municipal no mês de julho.
INFOGRÁFICO: Confira o número de idosos curitibanos
O diretor do departamento de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde, Paulo Poli, explica que a unidade central tinha por característica o atendimento de adultos, além do ambulatório especializado no tratamento de demências, como o mal de Parkinson e o Alzheimer. "Transformamos em uma unidade de saúde da família, que passou a atender todos os moradores da região. O ambulatório continua atendendo e recebe os pacientes encaminhados pelas unidades", diz.
Na unidade da Ouvidor Pardinho, ainda ficarão concentrados três geriatras. Outros cinco especialistas se dividem para atender aos nove distritos sanitários da capital, prestando assistência às unidades básicas. A porta de entrada do idoso passa a ser o posto de saúde mais próximo de sua casa, onde receberá o atendimento primário, cuja "especialização" é cuidar das pessoas e as doenças que mais afetam a população em geral. O atendimento é feito por uma equipe multidisciplinar do Núcleo de Atenção Saúde da Família (Nasf).
Para a coordenadora do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc) e servidora da saúde, Irene Rodrigues, ainda é preciso mais tempo para avaliar a iniciativa, mas já há questionamentos. Para o sindicato, apenas oito geriatras para a população de Curitiba é muito pouco. "Falta servidor em todas as áreas da saúde. Teremos um concurso, mas não se sabe quando e o quantitativo de vagas", diz.
Outra preocupação é em relação à qualidade do atendimento prestado. Para Irene, o fechamento da unidade de referência pode ter sido precipitado, uma vez que a estratégia de saúde da família não está totalmente implementada em todas as unidades de saúde. "Antes de fazer isso, tinha de ter infraestrutura para que as pessoas que usavam esse serviço tenham a mesma qualidade nos seus bairros", observa.
Poli garante que a descentralização se revelará produtiva. "O ambulatório não teria condição de fazer visitas domiciliares, coisa que podemos fazer com mais facilidade nas unidades básicas", diz. Outras ações voltadas aos idosos como grupos de apoio para familiares e atividades na piscina aquecida serão mantidas na Ouvidor Pardinho, uma vez que são responsabilidade de outras pastas.
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