“Essa fusão entre a universidade da ciência e do saber com a universidade da vida nos torna pessoas melhores.” Arnaldo Coelho, 73 anos| Foto: Fábio Dias/ Gazeta do Povo

Pioneirismo

Projeto vai além da extensão

A Unati de Maringá oferece 40 cursos e ações ligadas a seis eixos temáticos: arte e cultura, processos e procedimentos comunicativos, saúde física e mental, direito e cidadania, meio físico e social e humanidades. Além disso, o grupo também desenvolve estudos e pesquisas nas áreas de gerontologia e geriatria.

Todos os cursos serão oferecidos gratuitamente, sem taxa de matrícula e mensalidade. "Nosso objetivo é oferecer um leque de oportunidades para o desenvolvimento de competências que os idosos gostariam de ter realizado no curso de sua vida mas que não foi possível", afirma o coordenador da Unati, Cláudio Stieltjes.

Para o aluno Arnaldo Coelho, este compromisso coletivo com o conhecimento é o que motiva os idosos a estudar. "Essa fusão entre a universidade da ciência e do saber com a universidade da vida nos torna pessoas melhores", observa.

Outras iniciativas

Projetos do gênero já são realizados em cerca de cem instituições brasileiras, mas o formato maringaense da Unati é diferente. Em vez de ser implantada como um programa de extensão, a Unati da UEM atua como um órgão suplementar ligado à reitoria, dando maior consistência, presença institucional e autonomia ao projeto. "Aqui há participação de professores e acadêmicos de diversos cursos, desenvolvendo projetos de ensino, pesquisa e extensão. Os professores estarão trabalhando com a carga horária, dentro de suas atribuições. Não é trabalho voluntário", explica a coordenadora pedagógica, Regina Tann.

Na opinião dela, o Ministério da Educação está completamente distante da discussão em torno dos idosos. "O ministério não investe nada em universidades abertas da terceira idade. Está muito preocupado com EJA (Educação de Jovens e Adultos), com Brasil Alfabetizado. Só que as pessoas têm direito a muito mais do que isso. Elas têm direito a continuar aprendendo ao longo da vida."

A Unati de Maringá teve apoio da reitoria da UEM e da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), que ajudou financeiramente o projeto. "Na política nacional do idoso existe a necessidade expressa em lei de apoiar a criação das universidades abertas da terceira idade e isso é raro. A Unati traz uma contribuição fantástica para a saúde física e mental do cidadão. Quando você melhora a vida de um segmento populacional, você melhora a vida de toda a sociedade."

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Aulas na Unati em Maringá: projeto iniciado em março surpreendeu pela procura de interessados: 300 vagas esgotadas no primeiro dia de inscrições
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Segunda-feira cedinho e Arnaldo já está de pé. Toma o café da manhã com a família, separa caderno e caneta e sai de casa para estudar. Na sala de aula, ele cumprimenta Valdir, sentado quieto no canto; Tereza, compenetrada nas anotações; João, cochichando algo engraçado com os colegas. A professora dá as boas-vindas e inicia uma nova discussão com os alunos. No quadro, palavras como razão, pensamento e movimento estimulam o debate.

O que parece ser uma simples turma de colégio ou faculdade guarda uma peculiaridade: todos no recinto têm mais de 55 anos. A aula desta manhã também não é comum: "O papel dos avós na educação dos netos". O curso faz parte da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati), projeto desenvolvido pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) que, desde março, leva idosos de volta às carteiras escolares.

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É o caso de Arnaldo Coelho, 73 anos. Mineiro, a fala mansa não revela a personalidade forte. Durante anos alimentou o desejo de retomar os estudos. "Já havia lido sobre a Unati do Rio de Janeiro. Desde então, desejei participar de uma universidade. Quando soube que aqui seria instalado o projeto, corri em busca de conhecimento e relacionamento", diz o pioneiro, que chegou em Maringá em 1954.

Sentada perto do colega está Lourdes Machado, de 63 anos, que encontrou na Unati uma fórmula para se relacionar melhor com as três filhas e duas netas, uma de 11 e outra com 9 anos de idade. "Tive uma educação diferente da de hoje. Eu tinha de me adaptar ao mundo delas para ver onde que estou errando", explica.

Para ela, percorrer os corredores e blocos da UEM como estudante é algo sonhado há muito tempo. "Sempre quis fazer uma faculdade, mas foi um sonho que parou pelo meio do caminho. Aqui, me sinto um pouquinho universitária." Perguntada sobre o que o marido achava da Unati, afirmou aos risos: "Ele dá apoio total, mas também se não desse, deixava ele em um canto e vinha para a aula".

Grande demanda

De acordo com a coordenadora pedagógica da Unati, Regina Taan, cerca de 300 estudantes estão matriculados e centenas de outros aguardam a oportunidade para participar do projeto. A adesão surpreendeu a coordenação. As vagas se esgotaram logo no primeiro dia de matrículas. "Não esperávamos tanta procura. As inscrições começariam às 9 horas de uma segunda-feira e, às 6 ho­­ras, já tinha fila. Há uma demanda muito grande e isto nos diz que a população idosa quer continuar a estudar e se desenvolver intelectualmente", conta.

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A previsão é de que novas vagas sejam abertas em junho e julho de 2011, inclusive nos câmpus regionais da UEM nos municípios das regiões Noroeste e Central do Paraná. O grupo de idosos que começou este ano será mantido. "Seria cruel dizer que acabou para uma pessoa idosa, que se sente integrada e em plena atividade. Nós vamos dar continuidade em uma segunda etapa para aqueles que já começaram."

João Brito, de 60 anos, comemora a decisão. Para ele, os cursos da Unati surgiram como uma grande oportunidade para se desenvolver e não ficar parado. "A Unati é como uma família. Aqui todos se relacionam muito bem e isto aumenta a nossa autoestima, nos deixa como crianças, me sinto jovial. Deus me livre ficar em casa esperando a morte chegar."

Entre os novos universitários, estão desde pessoas recém-alfabetizadas até profissionais com especialização. É o caso da professora e pedagoga aposentada Maria Inês Duarte Giunta, de 60 anos, e que há três deixou de trabalhar. Segundo ela, essa variedade é extremamente positiva. "Para chegarmos nesta idade, passamos por vários conhecimentos; e isso é compartilhado aqui, não importa a formação escolar."

A ideia de compartilhar ensinamentos está sendo seguida até mesmo fora da Unati. Valdir Crescêncio, de 65 anos, busca aplicar o que aprendeu na Pastoral da Criança, onde é voluntário e trabalha com 20 crianças. "O que eu aprender aqui vou passar para os outros. Aquilo que a gente adquire de conhecimento pode compartilhar com aqueles que a gente convive. Assim, todo mundo aproveita."