As rezas e procedimentos que benzedeiras e seus freqüentadores acreditam ser capazes de espantar "mau-olhado", curar depressão, bronquite, asma e problemas musculares são vistos com receio por médicos e pela própria Igreja Católica, de quem elas são seguidoras. "O perigo está em procurar uma benzedeira antes de ir ao médico", afirma o professor de Medicina Preventiva e Comunitária da PUCPR, João Bosco da Rocha Strozzi. "Como a maioria das afecções são de caráter auto-solucionáveis, usa-se a regra como aliada. O perigo está justamente na pouca possibilidade em separar o que é trivial do que seja o início de algo mais grave. Quando essas pessoas são mal diagnosticadas pela benzedeira, chegam ao médico, mais tarde, em condição avançada da doença, muitas vezes sem o caminho de volta."
O padre Gilson Camargo, professor de Teologia, explica que a Igreja vem tentando orientar as rezadeiras, como preferem chamar, para que além de fazer a oração também recomendem a ida ao médico. "Existe uma visão de que Deus resolve todos os problemas possíveis, mas não é obrigação da Igreja, nem do benzedeiro, cuidar da saúde pública. Isso é tarefa dos médicos", afirma. Camargo conta que, 30 anos atrás, a atividade de benzimento por leigos era vista com muita reserva pela Igreja Católica. "Hoje ela percebe nestas pessoas o carisma, a bondade, o desprendimento financeiro. Bem orientadas, elas são ótimos agentes de transmissão da palavra de Deus", diz ele.
Benção, no verdadeiro sentido da palavra, diz Camargo, é algo reservado somente aos padres. "O que elas fazem é invocar o nome de Deus, rezando por outras pessoas, por isso as chamamos de rezadeiras", esclarece. Fé
Para o psicólogo Gilberto Gnoato, professor de Psicologia Social das Faculdades Dom Bosco, a solução que as benzedeiras apresentam reside mais na fé de quem procura do que nos poderes de quem atende. Gnoato orientou no ano passado um trabalho com benzedeiras em Morretes, litoral do estado. "Precisa acreditar na cura para que ela produza efeito. Quanto maior a crença coletiva, maior a eficácia simbólica da benzedeira. Em grandes centros, é uma tradição que perde a força, porque há uma tendência de individualizar as relações", avalia.
Strozzi confirma que a ação das benzedeiras tem resultados positivos. "A força da benzedeira está dentro da pessoa que a procura. Ela (benzedeira) faz com que esta força aflore. Com algumas exceções, os medicamentos que são ministrados pela alopatia têm o caráter de estimular o próprio organismo a lutar contra a doença. O médico que consegue fazer o paciente reagir espontaneamente, estará realizando um bom trabalho",diz.