Entrevista
Jonathan Campos, fotógrafo da Gazeta do Povo
Fotógrafo misturava simplicidade, agilidade e bastante eficiência
Aline Peres
Enquanto tomava chimarrão com um amigo, ali pelas bandas do Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná, Edson Jansen viu na figura de um rapaz enfrentando a cavalaria do Exército com um estilingue a oportunidade de uma boa foto. Simplesmente isso. Porém, foram a curiosidade e a ousadia inerentes à personalidade de Jansen somadas a apenas dois cliques o que o levaram a fazer a foto que lhe renderia o Prêmio Esso de Jornalismo em plena ditadura, em 1968. Assim reconta a história o fotógrafo da Gazeta do Povo Jonathan Campos, 33 anos, narrada por Jansen ao longo dos muitos anos de amizade. Campos está fazendo um projeto sobre os grandes nomes do fotojornalismo no Paraná.
Como conheceu Edson Jansen?
Comecei a trabalhar nos jornais O Estado do Paraná e na Tribuna do Paraná como office-boy. Jansen era o chefe do departamento fotográfico e recorri a ele para que me mostrasse os laboratórios e me ensinasse a mexer com os químicos e a fotografar. A minha primeira câmera, uma Nikkon, SM-2, foi emprestada por ele. Lembro-me de que dizia para só fotografar quando o fotômetro (aparelho que mede a intensidade da luz) estivesse na bolinha (na média). Era o seu jeito de ser prático.
Como era o lado "professor" dele?
Era uma pessoa especial, que gostava de ensinar quem estivesse disposto a ouvir. Jansen costumava dizer que "tudo era a seu tempo" na hora de aprender. Era fascinante ouvir as histórias de suas viagens, dos jogos de futebol que cobriu na década de 60 e 70, e dos lugares que visitou. No entanto, ele gostava de lembrar o empenho que era enviar as imagens: levava o laboratório na mala e transmitia a radiofoto para o jornal de um orelhão. E, ao contar, o olho dele brilhava.
Entre as histórias, lembra de alguma que tenha lhe marcado?
Recordo do dia em que ele me mostrou como fotografar raios, lá no Canal 4. Ficamos bem no alto e, em duas chapas, ele conseguiu um bom resultado. Foi assim com a imagem do Prêmio Esso, e em todos os trabalhos seus. Era impressionante. Simples, ágil e eficiente.
A imprensa paranaense perdeu um de seus maiores fotógrafos. Após mais de 20 dias internado, faleceu no último domingo o fotógrafo Edson Jansen, conhecido por seus trabalhos nos jornais Tribuna do Paraná, O Estado do Paraná e Gazeta do Povo. Sua contribuição para o jornalismo jamais será esquecida, principalmente por ter conquistado um Prêmio Esso com uma foto tirada durante uma invasão da Polícia Militar ao Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1968, em meio à ditadura.
Edson tinha 69 anos e morreu de complicações decorrentes de uma queda sofrida no início deste mês. Ele começou na fotografia na adolescência, como recorda sua irmã Iara Regina Jansen. "Aos 14 anos ele começou a ajudar nosso pai, que também era fotógrafo, na revelação e, como uma brincadeira, começou a aprender a utilizar as câmeras e acabou se apaixonando pela fotografia", diz ela. Além de trabalhar em diversos veículos da imprensa paranaense, pai e filho atuaram na comunicação do governo do estado.
Insistência
A curiosidade sempre foi uma de suas marcas registradas, o que lhe garantiu o Prêmio Esso. "Ele costumava correr na frente de todo mundo para ser o primeiro a tirar as fotos e foi o que aconteceu naquele dia. Na hora que estava trabalhando, não pensava em nada, não tinha medo de nada", conta Iara. Mesmo tendo em mãos uma foto diferente da feita pelos demais colegas, mostrando um estudante enfrentando a cavalaria da polícia com um estilingue, ele não acreditava que aquele trabalho poderia lhe render um prêmio. "Tiveram de insistir para ele inscrever a foto", revela a irmã. Por ser muito reservado e não gostar de festas, levou apenas o pai, a mãe e Iara, a caçula, à premiação. "Ele não era de falar muito, mas conseguimos perceber sua emoção naquele dia."
Além de fotografar os fatos do dia a dia, Edson gostava de tirar fotos da natureza e, por isso, duas viagens ficaram marcadas em sua memória: um passeio de navio com os militares e uma excursão com os amigos pelo Rio Iguaçu. Recentemente, após se aposentar, gostava de pescar, fumar e ouvir música caipira.
O fotógrafo estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico desde 2 de agosto, com complicações de saúde em decorrência da queda que sofrera em casa. Faleceu com 69 anos e deixa a mãe, Araci Jansen, a esposa, Josefa Lucas Jansen, conhecida como Sonia, e a enteada Elisangela, além de duas irmãs e um irmão.
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