Às vésperas de completar cinco meses de inauguração, a Casa da Mulher Brasileira de Curitiba funciona sem que a Delegacia da Mulher (DM) tenha se transferido para o espaço, como previa o projeto original. A atual equipe da DM solicitou alterações estruturais nos dois blocos destinados a receber a delegacia e que nunca foram ocupados, mas as obras ainda não foram autorizadas pelo governo federal. Sem a unidade, a Casa da Mulher se vê descaracterizada em sua proposta essencial: reunir em um único espaço todos os serviços especializados de atendimento e acolhimento às vítimas de violência.
Segundo a secretária da Mulher de Curitiba, Roseli Isidoro, os projetos arquitetônicos dos blocos que sediariam a DM foram elaborados em 2014, em conjunto com a equipe que, à época, estava à frente da delegacia. De lá pra cá, houve uma rotatividade na unidade policial e, quando a Casa da Mulher foi inaugurada, as atuais delegadas apresentaram divergências em relação ao prédio e solicitaram alterações. O problema se acentua porque, como a obra ainda está em período de carência (leia mais abaixo), o governo federal ainda não autorizou intervenções.
“Foi uma obra discutida com as delegadas anteriores, que participaram dos projetos. Mas as delegadas atuais acham que, do ponto de vista funcional, o espaço não está adequado. Querem derrubar paredes, rever o tamanho de algumas salas”, disse a secretária.
Enquanto as obras de readequação não saem do papel, a Secretaria da Mulher de Curitiba chegou a propor à DM uma solução intermediária: a criação de um posto avançado da delegacia dentro da Casa da Mulher. Com isso, a DM manteria uma equipe mínima – entre cinco e sete profissionais –, para fazer o primeiro atendimento às mulheres vítimas de violência e elaborar os boletins de ocorrência. Segundo a Secretaria, a Delegacia da Mulher teria rejeitado a proposta, alegando que haveria uma duplicação de custos.
“Aqui, eles não pagariam aluguel, teriam veículos à disposição. Seria parte da equipe que atenderia aqui”, apontou Roseli Isidoro. “O serviço da Casa da Mulher está descaracterizado por uma falta de vontade política”, completou.
Impacto
Segundo a Secretaria da Mulher, mais da metade da demanda da Casa diz respeito a atendimentos prestados pela DM. Por isso, as mulheres vítimas de violência que procuram a Casa da Mulher (que fica no bairro Cabral) têm que ser levadas à delegacia (no Centro Cívico), em veículo do programa.
A casa
Posta em funcionamento em 15 de junho, a Casa da Mulher Brasileira funciona em um prédio de 3,6 mil metros quadrados, construído no Cabral, em Curitiba. O imóvel reúne uma série de instituições que prestam serviços de acolhimento e proteção em um mesmo espaço. O objetivo é que se crie, de fato, uma rede voltada às mulheres.
Hoje, funcionam no espaço um anexo do Ministério Público, um posto avançado da Defensoria Pública e do Serviço de Promoção de Autonomia Econômica – que chegou a encaminhar vítimas de violência para o mercado de trabalho.
Além disso, a Casa conta com espaço e profissionais voltados a acolher os filhos das mulheres, durante o período em que elas são atendidas. Os custos das instalações – cerca de R$ 10 milhões – foram arcados pelo governo federal. O estado disponibiliza o atendimento dos órgãos como MP, Defensoria e Delegacia da Mulher, enquanto o município faz a gestão da unidade e disponibiliza demais servidores técnicos e administrativos.
“Despois de feita a avaliação psicossocial, temos que pegar o carro e ir à delegacia. Cada vítima vai acompanhada por uma psicóloga ou assistente social. Entre deslocamento e atendimento, gasta-se duas horas e meia, em média. Olha o tamanho do gasto e do esforço que poderiam ser evitados”, apontou a secretária.
Como a Casa da Mulher dispõe de uma equipe psicossocial formada por quatro assistentes sociais e quatro psicólogas, esse “atendimento em trânsito” acaba limitado. “Se tivermos quatro atendimentos ao mesmo tempo, a vítima que chegar em seguida vai ficar esperando”, exemplificou Roseli.
MP-PR vai apurar porque DM ainda não se instalou na Casa da Mulher
O Ministério Público do Paraná (MP-PR) instaurou um procedimento para apurar os motivos pelos quais a Delegacia da Mulher (DM) ainda não se instalou na sede da Casa da Mulher Brasileira de Curitiba. A apuração foi deflagrada a pedido da Secretaria Municipal da Mulher, que solicitou providências para garantir que a unidade policial passe a atender no espaço centralizado de acolhimento.
Segundo a promotora Mariana Bazzo, o MP-PR vai cobrar da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) uma justificativa para o fato de a DM ainda não ter se transferido para o local. O órgão deve fazer, ainda, uma inspeção nos dois blocos da Casa, destinados a receber a delegacia.
“O ideal é que este serviço de acolhimento e atendimento especializado à mulher esteja integrado em um único espaço. Por isso, vamos cobrar uma justificativa da Sesp. Este cenário não é o adequado”, apontou a promotora, responsável pelo Núcleo de Promoção de Igualdade de Gênero, do Centro de Apoio Promocional de Proteção aos Direitos Humanos.
Sesp conseguiu verba para reformas, mas obras não foram autorizadas
A Polícia Civil se manifestou por meio de nota e informou que a Secretaria de Estado da Segurança (Sesp) conseguiu verba com o governo do estado para custear a reestruturação do anexo da Casa da Mulher Brasileira que receberia a Delegacia da Mulher. O início das obras, no entanto, ainda não foi autorizado pelo governo federal.
“De acordo com a Coordenadoria das Delegacias da Mulher (Codem), o início das obras depende de autorização federal, emitida pela Secretaria de Política para as Mulheres, o que não ocorre até o momento”, consta da nota.
A sede da Casa da Mulher Brasileira em Curitiba foi construída por uma empreiteira do Mato Grosso, por intermédio do Banco do Brasil. Segundo a Secretaria Municipal da Mulher, a carência da obra vence em dezembro. Ou seja, se forem realizadas intervenções estruturais no prédio antes desta data, a construtora passa a não ter responsabilidade em caso de eventuais problemas que venham a surgir, no período de cobertura.
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Síria: o que esperar depois da queda da ditadura de Assad
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora