Equipes do Corpo de Bombeiros trabalham para extinguir um grande incêndio que atinge o depósito da fabricante de eletrodomésticos Electrolux, na Cidade Industrial de Curitiba. O fogo começou por volta das 4 horas da manhã desta terça-feira (17), mas já está confinado (isolado). Segundo os Bombeiros, isso significa que as chamas não vão se alastrar. A previsão é que o combate ao fogo possa durar até dois dias.
Equipes da Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi) foram ao local e trabalham com outros órgãos para convencer as pessoas que moram nas redondezas para que deixem suas casas. Membros das Defesas Civis municipal e estadual também estão atuando na região. Durante um período houve inclusive a distribuição de máscaras aos moradores que são afetados pela fumaça. Este trabalho foi interrompido porque alguns deles ficaram resistentes a deixar o local depois que passaram a usar o equipamento.
A fumaça atinge uma área de mais de um quilômetro quadrado. Mesmo assim, muitas pessoas não querem deixar a região. O Ginásio de Esportes Santa Rita está aberto para receber famílias que tiveram casas afetadas pela fumaça. O abrigo fica em frente ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Santa Rita, na Rua Carlos Munhoz da Rocha, no Tatuquara.
Até o meio-dia, a Secretaria Municipal da Saúde registrou o atendimento de pelo menos 28 pessoas com problemas relacionados ao incêndio. Os pacientes, em sua maioria, apresentavam problemas respiratórios. Na Unidade de Saúde (US) Moradias da Ordem, seis adultos e quatro crianças foram atendidas e tiveram prescritas inalações, injeções e oxigênio. Dez pessoas receberam o mesmo atendimento no UPA 24 horas do Pinheirinho. Além disso, outras oito pessoas no Hospital Santa Cruz (os brigadistas da própria empresa).
Entre as pessoas atendidas estava a moradora da região Maria Eunice Rocha, que saiu da US Moradias da Ordem por volta das 11 horas. Ela relatou que tem problema de saúde e estava em sua casa, atrás do depósito, quando começou a ter queimação no nariz, não conseguia falar e estava com uma tosse seca. "Comecei a sentir arder os olhos e passei mal. Fiquei duas horas inalando oxigênio. Agora vou buscar meus filhos em casa".
Cíntia Alvez dos Santos, que mora bem ao lado do depósito, também teve problemas de saúde. Ela conta que acordou as 5h15 da manhã com o calor do fogo e escutou alguns estalos. Ela disse que decidiu ficar em casa até as 10h30 porque a fumaça estava alta. Depois, a fumaça baixou e ela e a filha passaram mal. A menina teve sangramento no nariz e precisou de atendimento.
Cíntia disse que os vizinhos acordaram de madrugada e começaram a molhar os telhados. Uma fuligem incandescente caía e eles ficaram com medo de que as casas de madeira pudessem pegar fogo. Durante esse período, segundo a mulher, foi possível ouvir barulho de paredes caindo e ferros sendo retorcidos.
Mesmo com a criação do abrigo, a maioria das pessoas está se organizando por conta própria para ir à casa de parentes ou igrejas da região. Dez ônibus percorrem as localidades próximas para retirar os moradores. Também há ônibus de voluntários ajudando nessa tarefa.
Os médicos que trabalham no local estão reiterando a necessidade das pessoas saírem de seus domicílios porque a maioria das famílias não percebe a gravidade da situação. Há casos de pessoas que se resistem em sair, mas, convencidas, acabam passando mal a caminho do posto de saúde.
A orientação repassada pelos profissionais é que as pessoas afetadas tomem banho por conta da fuligem que fica na pele.
Trânsito
A Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) informou que o tráfego está completamente bloqueado na Rua João Lunardelli. A Rodovia do Xisto tem fluxo liberado, mas o trânsito é bastante lento na alça de acesso à estrada pela Avenida Juscelino Kubitscheck de Oliveira. O órgão orienta os motoristas a evitar a região.
O fluxo pelo Contorno Sul também é prejudicado em ambos os sentidos, com lentidão tanto para quem segue de Curitiba para São José dos Pinhais quanto para quem vai da capital sentido Campo Largo. Não há restrições ao tráfego e a lentidão maior é causada pela curiosidade dos que passam pela região.
O incêndio
Os Bombeiros informaram que o barracão era utilizado para o depósito de refrigeradores, com uma área total de 40 mil metros quadrados. O major Edson Manassés é coordenador do trabalho de combate ao incêndio. Ele informou que 40 homens do Corpo de Bombeiros e outros 10 da Defesa Civil estão mobilizados. Conforme o major, mais de 90% do prédio ficou destruído.
Manassés disse que a equipe de 12 brigadistas tentou apagar o incêndio no início e oito deles foram encaminhados para serem examinados no Hospital Santa Cruz. Eles se queixavam de fadiga e tinham sinais de leve intoxicação por fumaça.
O major informou que o fogo começou bem no meio do barracão e se espalhou para as outras áreas. As chamas não tinham mais risco de se espalharem para outras edificações da região. A previsão é de que o combate possa durar até dois dias.
Da porta do barracão, no início da tarde, era possível ver o fogo em pontos isolados do prédio como se fossem várias geladeiras uma do lado da outra. Manassés diz que a fumaça preta sai do local devido à queima das mantas de refrigeradores. O elemento químico presente na substância exalada é tóxica, segundo ele.
O Corpo de Bombeiros não pôde usar o reservatório de água da própria empresa porque a tubulação foi danificada. Os agentes utilizam a água de indústrias da vizinhança para controlar as chamas.
A corporação informou que o Certificado de Vistoria, necessário para o funcionamento da empresa no local, está em dia. A autorização de funcionamento concedida à Electrolux tem validade até o ano que vem. O prédio é antigo e por isso não tinha adequação às novas normas, que exigem a presença de pequenos chuveiros no teto e divisão em compartimentos para evitar a propagação do fogo. Mas os bombeiros salientam que a situação é regular pelo fato de a edificação ser antiga e estar sujeita às normas anteriores às vigentes para construções novas.
Electrolux
No começo da tarde, a Electrolux informou via assessoria de imprensa que atua em conjunto com os órgãos públicos responsáveis "para conter a situação e minimizar os impactos na região". A empresa informou que, "com os órgãos competentes, está disponibilizando unidades de saúde e assistência social." A organização responsável pelo depósito reforçou que a causa do acidente "está sendo apurada pela Electrolux juntamente com peritos especializados. Assim que tivermos mais detalhes sobre o fato, passaremos mais informações", finalizou a Electrolux em nota.