A cidade gaúcha de Santa Maria, a 307 quilômetros de Porto Alegre, amanheceu ontem contando o número de mortos no pior incêndio que ocorreu no Brasil nos últimos 50 anos. Foram 233 jovens que não conseguiram escapar da boate Kiss nos poucos minutos que o fogo levou para encher o ambiente com uma fumaça letal. Outras 117 pessoas foram hospitalizadas.
As duas portas que dão para a rua não foram suficientes para que todos os jovens saíssem rapidamente do ambiente escuro e tomado pela fumaça. Muitos, por engano, entraram no banheiro. Poucos minutos depois, quando chegaram à boate, os bombeiros encontraram um cenário desolador, com dezenas de corpos amontoados. Eles tiveram de ser encaminhados a um ginásio de Santa Maria, onde no início da tarde familiares começaram a fazer o reconhecimento.
Testemunhas
A auxiliar de escritório Michele Pereira, de 34 anos, é uma das pessoas que escaparam do incêndio. "A banda que estava no palco começou a usar sinalizadores e, de repente, pararam o show e apontaram [o sinalizador] para cima. Aí o teto começou a pegar fogo, estava bem fraquinho, mas em questão de segundos começou a se alastrar", contou. No corre-corre, Michele caiu e machucou o joelho. "Vi muita gente sendo pisoteada no desespero para sair de lá. Eu acabei cortando o joelho", disse.
À Rádio Gaúcha, Murilo Lima, que também escapou por estar perto da porta, disse que a saída da boate foi atrapalhada pelos seguranças. "No começo, os seguranças estavam barrando, pois não sabiam o que estava havendo."
Quem sobreviveu ao incêndio conta que a casa estava lotada. As informações do Corpo de Bombeiros apontam que 1,5 mil pessoas estavam na boate, mas o local tinha capacidade para mil frequentadores. Na noite de sábado para domingo, o público era formado principalmente por universitários a festa Agromerados foi organizada por estudantes de seis cursos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Força-tarefa atendeu os feridosAgência Estado
O atendimento aos feridos do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, mobilizou médicos, psicólogos, voluntários e hospitais de várias cidades e até da Argentina, que anunciou o envio de pele para enxertos para as pessoas queimadas. Feridos com queimaduras graves foram transferidos para Porto Alegre e, segundo o governo, centros de referências no Rio e Paraná estão prontos para receber eventuais pacientes.
A Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria anunciou uma campanha para doação de sangue no Hemocentro do Rio Grande do Sul a partir da manhã de hoje a fim de repor os estoques e ajudar as vítimas do incêndio.
O ministro da Saúde Alexandre Padilha, que esteve em Santa Maria ontem à tarde ao lado da presidente Dilma Rousseff, afirmou que cerca de 50 leitos em hospitais na região metropolitana de Porto Alegre ainda poderão receber os feridos.
Como medida de emergência, foram enviados aos hospitais de Santa Maria 20 respiradores mecânicos. Outros 30 deveriam chegar na noite de ontem para serem utilizados em caso de necessidade. "Neste momento, 30 pacientes estão respirando por aparelhos", disse o ministro durante a tarde. "Foram mais pacientes por infecção respiratória, pessoas que inalaram muita fumaça. A minoria é de queimados."
Pelos números oficiais, 92 vítimas estavam internadas nos Hospitais Caridade e Universitário e do Exército e em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) 24 horas de Santa Maria no período da tarde de ontem. Outras dez estavam internadas no Hospital São Francisco, também segundo dados oficiais divulgados à tarde.
Além do apoio aos feridos da tragédia, os governos federal e gaúcho iniciaram um auxílio psicológico aos familiares das vítimas. Segundo dados oficiais, foram mobilizadas 20 equipes para atender os parentes dos jovens mortos.