Dados do Ministério da Saúde apontam aumento dos casos de Aids| Foto:

Duas gerações de HIV

Os grandes olhos verdes de F., 20 anos, não conseguem esconder a alegria pelas boas-novas da vida: foi pedida em casamento e carrega uma grossa aliança prateada na mão direita. F. é portadora desde que nasceu. O vírus foi transmitido pela mãe que, até dar a luz à F., não sabia que estava contaminada. A moça não guarda mágoas. "Na época, a minha mãe nem sabia, e nem tinha o exame para as grávidas. Só fico chateada porque nenhum dos meus outros irmãos têm o vírus. Mas, paciência".

Ela descobriu que tinha o HIV aos 12 anos. "Até então, eu só fazia exame de sangue e ninguém contava. Minha mãe desconversava. Até que um dia, peguei o exame e li. O médico me explicou certinho. Reagi bem". Ela conta que o que não gosta mesmo é dos antirretrovirais. São quatro comprimidos ao dia. "É ruim, dá enjoo." F., que parou de estudar no 1.º ano do ensino médio, pretende voltar aos estudos e arrumar um emprego. "Ano que vem vou fazer supletivo e arrumar um trabalho depois que eu casar". O noivo, de 25 anos, também é soropositivo, mas ainda não sabe que F. é portadora. "Tive um relacionamento de três anos antes dele. Quando contei, ele disse que não queria mais. Estou com receio de contar agora".

Já D., 54 anos, é de uma das primeiras gerações de infectados pelo HIV no país, e convive com o vírus há 21 anos. Descobriu a doença "de bobeira". "Tinha um bom plano de saúde e resolvi fazer o teste. Não acreditei. Fui doar sangue para comprovar. Demorei para aceitar, mas, hoje, minha família e amigos sabem. Todos levam numa boa".

Ele conta que passou por altos e baixos no tratamento. "No começo, era muito difícil. Eu importava os remédios, que custavam mais de 100 dólares. Hoje está muito mais fácil. No início, a quantidade de comprimidos que eu tinha de tomar era enorme. Era a salada do almoço e a de remédios". Mesmo com as dificuldades, D. conta que não tem raiva da pessoa que lhe passou o vírus. "Cuidei dela até o final da vida. Era alguém que eu amava". (IR)

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Catedral Basílica de Curitiba: missa em celebração ao dia mundial de combate à aids
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Apesar de 97% dos jovens entre 15 e 24 anos saberem que o preservativo é a melhor forma de proteção contra as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), o Boletim Epidemiológico Aids/DST 2010, divulgado ontem pelo Ministério da Saúde, no Dia Mundial de Luta Contra a Aids, aponta o aumento da prevalência do HIV nesta faixa etária. Levantamento realizado com mais de 35 mil meninos de 17 a 20 anos indica que, em cinco anos, a incidência passou de 0,09% para 0,12%. O diretor do Departamento de DST-Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, acredita que a pesquisa traz um alerta para os jovens que não se veem em risco. A sexóloga e coordenadora de projetos do Instituto Kaplan (focado em educação sexual para jo­­vens), Sandra Vasques, acredita que o aumento de casos entre jovens é "considerável", e que as campanhas de prevenção não devem ser focadas apenas na informação sobre o vírus e no uso do preservativo. "É preciso responder questões práticas para o jovem, e começar a falar sobre o assunto desde o início da adolescência, para que ele assimile o desejo com as consequências que o sexo pode trazer".

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Para o presidente do Grupo Amigos (de apoio aos portadores de HIV), Douglas Miranda, os adolescentes acabam ignorando a vulnerabilidade ao contágio. "Vejo que eles pensam o HIV como um problema do outro". O infectologista do Hospital 9 de Julho, de São Paulo, Gustavo Johanson, ressalta que as campanhas não podem esmorecer. "Se o assunto deixa de estar em voga, logo as pessoas, e também os jovens, acabam baixando a guarda e se descuidando". A infectologista do Hospital Oswaldo Cruz Rosana Camargo, que trabalha com pacientes soropositivos há 26 anos, aponta que o adolescente passa por uma fase em que acha "poder tudo". "Ele também se apaixona e acha que sexo desprotegido é uma forma de amor, de fidelidade".

Até junho de 2010, 592.914 casos de aids foram registrados desde 1980 no país. Para o ministério, a epidemia continua estável, apesar do crescimento de 2008 para 2009 – 37.465 contra 38.538 novos pacientes com infecção, respectivamente. Os dados mostram, ainda, que a maioria dos brasileiros com HIV é formada por brancos (47,7%). Em seguida, estão os negros (46,8%), os amarelos (0,5%) e os indígenas (0,3%).

Mesmo com o crescimento de casos de um ano para outro, o ministério afirma que parte do aumento se deve a maior realização de testes para detecção da doença. Entre 2005 e 2009, o número passou de 3,3 milhões para 8,9 milhões de unidades. Mesmo assim, estima-se que 255 mil brasileiros estão infectados pelo HIV e não sabem. Rosana Camargo diz acreditar na tendência da estabilização, entretanto, ela afirma que é importante realizar trabalhos específicos com determinadas faixas etárias. "A busca pelo diagnóstico aumentou, mas ainda é preciso melhorar. Ele é um dos grandes aliados no tratamento".

A boa notícia trazida pelo Boletim Epidemiológico é que as transmissões verticais (da mãe para o bebê) diminuíram. A incidência de casos de aids em crianças menores de cinco anos reduziu 44,4% ente 1999 e 2009. Em números absolutos, passou de 954 casos, em 1999, para 468, no ano passado. Quando todas as medidas preventivas são adotadas, a chance de transmissão vertical cai para menos de 1%.

Sul

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Por região, a maior taxa de incidência ocorre no Sul, com 32,4 casos por 100 mil habitantes. Em seguida vem o Sudeste, com 20,4. O Norte vem em terceiro, com uma taxa de 20,1. Centro-Oeste com 18 e, por último, o Nordeste, com 13,9 por 100 mil habitantes. Em Curitiba, de acordo com a coordenadora da Coordenação Municipal de DST/Aids e Hepatites Virais, Cláudia Regina Novloski, o número de casos passou de 41,7 por 100 mil habitantes em 2000 para 10,6 neste ano. "Esse dados positivos só foram possíveis pela parceria que temos hoje com as ONGs". Durante todo o dia de ontem, a coordenação realizou orientação e distribuição de preservativos, na Boca Maldita. Outro ato que marcou a data foi uma caminhada do Hospital de Clínicas da UFPR até a Rua XV de Novembro, que reuniu cerca de 30 pacientes. No final da tarde, a Catedral Basílica de Curitiba realizou missa em celebração pela data.