O MST ficou acampado na Fazenda Cajati entre 1999 e 2004 e só saiu depois que os donos concordaram em vender a área para o Incra| Foto: Vanderlei Faria

Cascavel - Depois de se arrastar por cinco anos, o processo de compra dos 889 hectares da Fazenda Cajati, em Cascavel (Oeste do estado), foi concluído pela superintendência regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Paraná. A previsão é assentar 106 famílias. Ao todo, cerca de 800 famílias estão distribuídas em seis acampamentos na região de Cascavel. O anúncio da desapropriação foi feito ontem.

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Um dos principais líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) na região, Celso Ribeiro Barbosa, disse que a compra da fazenda é importante, mas afirma que nenhum acampado será assentado no local enquanto não for providenciada terra para todos. "Se começarmos a assentar essas famílias vamos dividir o movimento e perder forças. Quem ficasse nos acampamentos teria menos chance de conseguir a terra. Só vamos assentar quando tiver terra para todos", disse.

O MST espera a compra de pelo menos mais duas fazendas na mesma região. No entanto, as áreas nem sequer foram vistoriadas pelo Incra e a aquisição para reforma agrária pode demorar vários anos, a exemplo da Cajati. Ribeiro diz que mais duas fazendas do Complexo Cajati, a Pedregulho e a Refopás, que somam quase mil hectares, também já foram ofertadas para aquisição do Incra.

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Segundo Ribeiro, o movimento mantém atualmente seis acampamentos na região, sendo o Dorcelina Folador e o Casa Nova, ambos no chamado Complexo Cajati; o 1º de Agosto, próximo ao pedágio na saída para Curitiba; o 7 de Setembro, próximo ao distrito de São João do Oeste; e mais dois, um em Lindoeste e outro em Santa Tereza do Oeste, ao lado da área da antiga Syngenta. Celso Ribeiro diz que a demanda por terras destes acampamentos chega a perto de 8 mil hectares para assentar a todas as famílias.

Superintendente estranha posição e garante que abrirá seleção

A superintendente do Incra no Paraná, Cláudia Sonda, se disse surpresa com a intenção do movimento em manter as famílias acampadas e garantiu que o órgão vai dar o próximo passo, que é a seleção das famílias para serem assentadas na nova área. "Acho que não faz muito sentido não querer ser assentado agora. Certamente as famílias querem", afirmou. "O movimento terá que perceber que a fase agora é outra. Eles terão que se dividir entre acampados e assentados. É como o filho que se desgarra da mãe. É um processo natural", disse Cláudia, que pode acionar a Ouvidoria Agrária, do governo federal, para estudar o caso.

Existem no Paraná atualmente 375 assentamentos com cerca de 16 mil famílias. Do total de assentamentos, 311 são resultado das ações do Incra e os demais são frutos de projetos estaduais e até privados. Hoje, o Incra estima pelo menos 5,8 mil famílias de sem-terra distribuídas em dezenas de acampamentos em várias regiões do Paraná.

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