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As duas ocupações promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no fim de semana não devem desencadear uma onda de invasões no Paraná. Representantes do MST, da Comissão de Assuntos Fundiários e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) garantiram ontem que os casos foram apenas "pontuais".

No último sábado, mil pessoas ocuparam a sede da Fazenda Nossa Senhora do Carmo, em Ortigueira (Região Central), e outras 50 invadiram o Sítio São Francisco 1.º, em Ponta Grossa (Campos Gerais). As ações interromperam um período de calmaria (a última invasão havia ocorrido em março, em Jundiaí do Sul), já que somente outras quatro manifestações ocorreram no Paraná em 2005, enquanto nos dois anos anteriores houve 96.

"Tem hora para tudo: para esperar, mobilizar, ocupar. Agora é momento de organizar essas duas ocupações", diz o líder do MST em Ponta Grossa, Israel de Souza. Ele deixa transparecer, porém, o descontentamento com as promessas nas metas de assentamentos feitas pelo Incra para 2005. "Dentro da conjuntura do governo, dessa crise de corrupção, não deve acontecer tudo aquilo que o povo esperava", ressalta Souza, referindo-se às 1,5 mil famílias que deveriam ser assentadas no estado até o fim de 2005. Para ele, esse objetivo tem poucas chances de ser atingido.

Pressão

O superintendente regional do Incra, Celso Lisboa de Lacerda, viajou no final da tarde de ontem a Brasília para fazer um balanço das ações do órgão com a direção nacional do instituto. A assessora da superintendência, Fiorinda Martins Moreira, diz que os objetivos devem ser cumpridos. Ela não acredita que as duas últimas ocupações possam significar uma mudança na postura do MST no estado. "São ações que parecem ter o interesse de agilizar a compra dessas áreas", afirma. Florinda destaca que a aquisição das duas áreas para reforma agrária já estava nos planos do Incra.

O representante da Comissão de Assuntos Fundiários, Jocler Jeferson Procópio, concorda com a tese de que as invasões têm a intenção de pressionar a compra dos terrenos. "O boato de que a negociação entre o Incra e o dono da fazenda de Ortigueira estava adiantada pode ter feito com que o MST avançasse por receio de que outro movimento pudesse se adiantar", conta. Segundo Procópio, a invasão do sítio em Ponta Grossa seria uma vingança contra o proprietário da área, o tenente-coronel Waldir Copetti Neves. O policial militar é acusado de chefiar milícias armadas na região para combater a ação de sem-terra. O MST negou que a ocupação tivesse esse caráter. Além disso, o sítio de Neves não estaria regularizado e faria parte de um terreno pertencente à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O coronel briga na Justiça pela disputa da área.

Procópio diz que conversou ontem com lideranças do movimento e todos enfatizaram que as duas ocupações tinham as metas específicas de resolver a situação das duas áreas. A comissão da qual ele faz parte é vinculada à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), que realizou quatro desocupações pacíficas de terrenos invadidos pelos sem-terra em 2005. "Estamos conseguindo evitar o conflito, resolvendo tudo tranqüilamente, apenas com conversas por telefone. Tudo indica que a paz deve continuar", opina. Desde o começo da gestão Roberto Requião, 102 áreas urbanas e rurais foram desocupadas.

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