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Aumento do poder aquisitivo da população levou a um crescimento na geração de lixo |
Aumento do poder aquisitivo da população levou a um crescimento na geração de lixo| Foto:
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Aterro vem abaixo em São Paulo

Julien Pereira/Fotoarena/Folhapress

O aterro sanitário de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, onde uma montanha de 150 toneladas de lixo desmoronou na segunda-feira, já recebeu 87 autuações da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Desde 2001, foram emitidas 51 advertências e 36 multas por problemas como falta de licença ambiental, emissão de odor e lançamento de chorume, o líquido proveniente do lixo. Além de Itaquaquecetuba, o aterro também recebe o lixo de mais sete municípios da região metropolitana de São Paulo. A Cetesb multou a empreiteira Pajoan em R$ 174,5 mil e informou ontem que ainda mantém técnicos no local para ajudar na remoção do lixo. Ainda não há informações sobre possíveis vítimas.

O índice de geração de lixo no Brasil cresceu 7% de 2009 para 2010, de acordo com estudo da Associação Brasileira de Em­­presas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Em 2009, o país gerou 57 mi­­lhões de toneladas, saltando para 61 milhões no ano seguinte. Isolado, o crescimento já preocupa, mas outro dado agrava a situação: no mesmo período, a população aumentou em apenas 1%. Com a provável ampliação do poder aquisitivo, a tendência é de que a geração de resíduos continue a subir ano após ano, causando danos ao meio ambiente, já que 37% dos resíduos vão para lixões. Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos, cada brasileiro produz 378 quilos de lixo por ano. E a dificuldade é diminuir o índice enquanto a população consome mais. "É um desafio que estamos correndo atrás há algum tempo, mas não desenvolvemos a ideia do consumo responsável", opina o professor de Engenharia Civil, Ambiental e do mestrado em Gestão Ur­­ba­na da PUCPR Carlos Mello Gar­cias. "Como os novos consumidores querem fazer o mesmo que sempre viram acontecer, o problema deve se agravar."

Professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da UFPR, Miguel Mansur Aisse considera a alteração das embalagens o início do processo de mudança. "Poucas vezes vi na minha vida esforço na direção de reduzir os resíduos das embalagens. Hoje, tudo é descartável", afirma. A implantação do Plano Nacional de Re­­síduos Sólidos é o início desse processo, na avaliação de Aisse. A legislação prevê a instituição da logística reversa, estabelecendo responsabilidades dos produtores, vendedores e consumidores na destinação final dos resíduos.

Tanto Aisse quanto Garcias não veem ações do governo e da população para coibir a geração de lixo. "A população tem educação para fazer a separação adequada do lixo, mas não a disposição porque não participa de nenhum processo de decisão, apesar de a Constituição de 1988 prever isso", afirma Gar­­cias. Aisse, por outro lado, não observa nenhum esforço do governo para começar a desenvolver essa mentalidade na população. "Não há campanhas institucionalizadas nessa direção. Há certo esforço para coletar pilhas e baterias, mas não dos demais resíduos."

Um rastro de esperança surge do aumento da coleta de lixo no país, que seguiu a mesma proporção da geração de resíduos sólidos. "Houve crescimento de 7,7% no volume coletado, o que indica aumento na cobertura dos serviços", diz Carlos Silva Filho, diretor-executivo da Abrelpe. O estudo mostrou que 57,6% dos municípios brasileiros têm iniciativas de coleta seletiva, frente aos 56,6% de 2009.

Destinação

A maior parte dos estados do Brasil não deposita seus resíduos em locais adequados. Via de regra, quanto mais desenvolvido economicamente o estado, mais bem feita é a destinação. Há, no entanto, casos críticos, especialmente nas regiões Nor­­t­e e Nordeste. Alagoas leva apenas 3% do lixo para locais de acor­­do com a legislação e Ro­­raima atinge pouco mais de 10%. No Paraná, a cada dez quilos de lixo, só três são levados para lixões, gerando passivos ambientais de diversos tipos.

Para Garcias, a situação é crítica em razão da falta de avanço tecnológico do país. "Existem inúmeras outras tecnologias, e o Brasil continua pensando em construir aterros sanitários", critica. Silva Filho tem opinião semelhante. "A modernização do setor por meio de novos sistemas e tecnologias se faz necessária para que os objetivos do Plano Nacional de Resí­­duos Sólidos sejam alcançados", afirma.

Média

Habitantes de grandes centros produzem mais

Nas capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes, foram coletadas em média quase 71 mil toneladas de lixo por dia em 2010, o equivalente a 1,2 quilo por habitante. O índice é superior ao encontrado no país: cada pessoa produz 1,08 quilo por dia de resíduos sólidos. Em geral, no entanto, as grandes cidades apresentam locais adequados para despejar o lixo, visto que apresentam maior capacidade econômica. "O financiamento é o problema do lixo. Como tem sido conduzido pelos municípios, existem grandes diferenças que dependem do orçamento", explica Miguel Mansur Aisse, professor da UFPR. No Paraná, conforme estudo do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), cidades com até 20 mil habitantes concentram os lixões.

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