O eletricista da Unirio Luiz Claudio Cruz de Melo, indiciado em 2012 pela Polícia Federal (PF) pelos crimes de corrupção passiva e inserção de dados falsos em sistemas de informação, foi nomeado pelo reitor, Luiz Pedro San Gil Jutuca, como titular na comissão eleitoral do pleito que definirá quem ocupará a reitoria nos próximos quatro anos. A votação acontece nestas quinta (16) e sexta-feira (17), e Jutuca é candidato à reeleição.
O reitor designou a comissão eleitoral em portaria publicada em 5 de janeiro deste ano. No dia 19 de março, a comissão eleitoral divulgou as chapas concorrentes: a “UNI [+]”, com Jutuca candidato à reeleição, tendo Ricardo Silva Cardoso como vice; e a “Novos Tempos”, com o atual vice-reitor, José da Costa Filho, candidato ao cargo máximo da Unirio, e o professor Edson Ferreira Liberal, como seu vice.
Luizinho, como Melo é conhecido na Unirio, é investigado num suposto esquema de venda de vagas no curso de Medicina da Unirio, no qual seis estudantes teriam pago R$ 70 mil cada para ingressar na Escola de Medicina e Cirurgia (EMC) da universidade. A fraude foi denunciada pelo Globo há três anos. Com base nas reportagens, a PF e o Ministério Público Federal (MPF) instauraram inquéritos para apurar responsabilidades. Na época, Jutuca classificou o esquema de “grande fraude”, mas Melo manteve suas atividades na instituição desde então. Em 2014, os sigilos telefônicos e bancários dos envolvidos foram quebrados com autorização da Justiça, mas até agora ninguém foi preso.
O eletricista já respondeu a processos internos no passado. Em 2010, segundo consta no site do Tribunal de Contas da União (TCU), o órgão o multou em R$ 15 mil, além do ex-pró-reitor administrativo da Unirio Carlos Alberto Veiga, em R$ 20 mil, por irregularidades em licitação para a aquisição de 400 notebooks. Em 2011, Luizinho respondeu a um processo administrativo disciplinar (PAD) para apurar suposta infringência ao Estatuto do Servido Público Federal. Ele teria usado quatro cheques institucionais para comprar bens próprios. A comissão presidida pelo diretor da Cosea, Roberto Vianna da Silva, puniu Luizinho com 15 dias de suspensão, por meio de portaria assinada pelo reitor Luiz Pedro San Gil Jutuca.
No site da instituição, consta que, em 2005, o eletricista foi promovido a chefe da Divisão de Patrimônio, do Departamento de Atividades de Apoio, da Pró-Reitoria de Administração da Unirio. Em 2007, nova promoção, desta vez para o cargo de chefe do serviço de compras da Divisão de Material, nos mesmos departamento e pró-reitoria.
OGlobo questionou a Unirio sobre por que Jutuca escolheu Luizinho para a comissão eleitoral. A assessoria de imprensa da universidade respondeu por e-mail que “as informações estão sendo apuradas”. O jornal também tentou contato com o eletricista, mas não conseguiu até o momento.
A chapa do reitor de Jutuca vem divulgando, em sua campanha, uma nota intitulada “transparência e informação”. O comunicado cita reportagem publicada pelo Globo no último fim de semana, na série Universidades S/A, em conjunto com os jornais Estado de S. Paulo, Zero Hora, Diário Catarinense e Gazeta do Povo. A matéria revelou uma investigação do Ministério Público Federal, que vê fraude em contrato de R$ 17 milhões entre a universidade e a Petrobras. A chapa alega que o “professor Jutuca, como reitor, tomou todas as providências cabíveis para a apuração destas irregularidades”. Entretanto, até o momento, nenhum dos professores envolvidos no suposto esquema foi punido.
O texto da chapa “Uni +”, que tem Jutuca com candidato à reeleição, e o professor Ricardo Silva Cardoso como vice, diz que “em uma matéria veiculada em 12/04, pelo jornal Globo, vimos a nossa Unirio envolvida em irregularidades. A universidade já se posicionou em uma nota oficial, em que é possível constatar que o professor Jutuca, como reitor, tomou todas as providências cabíveis para a apuração destas irregularidades (...). A chapa 2 não tolera desvios de conduta e mau uso de dinheiro público (...)”.